quinta-feira, 30 de abril de 2009

Igor Estanislau, Fábio Sodré e Fabiano Pereira - 2005




Talvez ele não saiba, mas não podia mais faltar em Sociologia, pois corro o risco de ser reprovado por falta na matéria mais fácil do meu curso;

Talvez ele não saiba, mas tenho um seminário para apresentar segunda-feira na qual cada componente do grupo depende da nota de todos e minha contribuição se faz muito necessária;

Talvez ele não saiba, mas eu gasto todo mês, sempre 50% a mais do que eu ganho, logo, automaticamente eu não deveria cometer esta extravagância;

Talvez ele não saiba, mas maio é o mês de aniversário da minha irmã e tive que reservar as duas folgas do mês para ir ao seu casamento;

Talvez ele não saiba, mas não consegui vôo direto para Brasília, tive que trabalhar o dia todo, ir direto do trabalho para a rodoviária e enfrentar dez horas de viagem até a fria Curitiba;

Talvez ele não saiba mas deixei de fazer inúmeras coisas na semana para correr atrás de cada detalhe.

Talvez ele não saiba e nem a madrinha (na qual não conheço) mas eu não cortei o cabelo;

Agora o que ele realmente SABE é que faria TUDO e em DOBRO, se necessário fosse, por mim - e é por este motivo que mesmo que o casamento se realizasse no Afeganistão eu iria - mas para minha sorte ele não é muçulmano e a festa vai ser em Brasília, portanto merece uma despedida de solteiro à altura, regada a bebida, amigos e amigas...Haja tempo para conhecer tudo e cartão de memória para a máquina. Só tenho pena da gerente do meu banco...

Boas lembranças teremos das nossas histórias de quando morávamos em Curitiba e depois em Foz do Iguaçu, mas isso, hoje, devido a fatores óbvios, fica para quando nos encontrarmos em Brasília e tomarmos um chopp na conta do Fábio!

Meu grande amigo, eu te desejo toda a felicidade do mundo - do fundo do meu coração - que seja muito feliz junto com a sua esposa e dentro de breve com seus filhos, seja o mais bem sucedido advogado em Brasília e me contrate para ser assessor de algum cliente Senador seu - conte comigo SEMPRE para o que der e vier.




terça-feira, 28 de abril de 2009

Sparkies.



Foram bons instantes enquanto duraram; uma conversa informal entre colegas com contato mínimo, que não às aulas e, logo após algumas visões interessantes, – principalmente a sua em relação a mim.

Sua saída abrupta me fez remeter ao seu senso impulsivo e instável - continue assim que me renderá ótimos textos e boas reflexões sobre afetividade, afinidade e a busca incansável por aquilo que me faz bem!

Que tal numa tarde destas de outono compartilharmos, descalços, na grama de um parque público, um ou dois pacotes de SPARKIES - em meio a risadas, livros interessantes e questões sem respostas?

O mundo girando em torno dos nossos pés – descalços e cheios de vontade de correr para algum lugar que ainda não descobrimos.


segunda-feira, 27 de abril de 2009

Con gas.




Sabe o que eu mais gosto em você? É o fato de eu poder ser o que quiser ao seu lado, incorporar a personagem que eu quiser, que no final você sempre vai tirar minha máscara, me puxar pra perto e escancarar minha essência. Eu posso ser uma daquelas mulheres pudicas e sonhadoras que tanto me irritam, com suas heranças repressoras passadas de geração para geração; posso fazer amor com você e posso simplesmente transar com você; posso reclinar o banco do seu carro e te abraçar com as minhas pernas, de um jeito louco, suado e cheio de desejo; posso andar de mãos dadas com você; posso te contar meus segredos de lesbian chic; posso ser sua sem deixar de ser minha. E tudo isso sem o mínimo de culpa, constrangimento ou qualquer outro sentimento menor.

Em todos os lugares. Eu me digo baixinho que você está em todos os lugares. Você se enfia comigo embaixo do meu edredom, sente meu corpo quente e dorme ao meu lado até o relógio despertar no outro dia. Durante a tarde, se senta ao meu lado no trabalho e sem cerimônia usa a minha mesa e o meu micro, visita sites estranhos de pessoas estranhas e me faz sentir uma dorzinha no peito, que nem os cientistas conseguiram desvendar. À noite, você aparece no banheiro, invade o box, usa meu xampú e minha toalha. E é nessa hora que eu preciso abafar meus gritos, gemidos e sussurros para que ninguém nos ouça. Depois, você senta na minha cama, liga o som e separa minha roupa, me ajuda a escolher a maquiagem, seca o meu cabelo e beija o espelho antes de sair.

Você não me faz sentir mais uma, o que é ótimo, porque eu odeio ser mais uma. Eu te respiro o tempo todo, fico te digerindo por horas, sentindo você dentro de mim e me lembrando da véspera. Confesso que já deu tempo de eu me cansar, chutar o balde a sair andando atrás de novas sensações, mas, por algum motivo, que os cientistas também não explicam, não consigo mover meus pés. Acho que é porque você é muito grande pra mim, seu charme é muito grande pra mim, e eu ainda não encerrei todo o meu desejo por você.

Sabe, ter alguma idade, alguma consciência e um pouco de experiência me transformou em alguém exigente e racional. Não me contento com pouco, migalhas não me satisfazem, nem nada pela metade. Odeio mediocridade. Você diz que me escolheu, mas, na verdade, fui eu quem te escolhi. Deixei você entrar, fui receptiva, ofereci chá. E você foi ficando, ficando...E a duração da sua estadia está intimamente ligada à palavra "enquanto": enquanto eu sorrir, enquanto eu ver minha alma clarear, enquanto eu sentir minhas pernas tremerem a cada gesto seu e a cada movimento dos seus olhos.

Quero você, do nosso jeito.

(R.M.F.; 09/09/2005)


(E-mail direcionado a mim; há um tempo atrás, sob o título de “Ensaio Sobre a Paixão”; Era sobre isso que tentava falar antes - em situações em que não há explicação. Remexer em caixa de e-mails antigos nos proporciona sensações estranhas, nas quais poucas tento reviver somente aqui. Façam por merecer, também!




domingo, 26 de abril de 2009

Bom dia, boa tarde e boa noite!



Agora sim me sinto um completo Fabiano: minha felicidade tem hora para acabar – tomo os anti-depressivos pela manhã, sobrevivo ao trabalho, às cobranças filhas-da-puta da minha consciência; esgoto meu corpo fisicamente ao extremo como penitencia aos meus pecados (que são muitos e diários) e tento não me lamentar com a falta de tempo - supostamente mal administrada por mim; e fim.

Acaba o dia; tenho uma vontade incontrolável de degolar a primeira pessoa que cruza o meu caminho; o primeiro que me olhar com desconfiança, demorar a raciocinar, pensar o obvio, segundos depois de mim.

Senão, passar a alça da minha bolsa faculdade/trabalho na garganta e refletir na janela do meu apartamento: - Está um dia lindo para voar não acha espelho?

Padeço; tomo um banho bem quente e demorado, fico observando a agua escorrer pelo ralo, levando todos os meus problemas e pecados; esfrego-me até sair o couro, uso apenas toalhas brancas e limpas, sempre brancas para observar as impurezas ainda impregnadas ao sair do banho. Tomo agua o suficiente para não sentir sede ou ficar com vontade ir ao banheiro de madrugada, tudo na medida certa – coloco sistematicamente o despertador do celular para despertar concomitantemente com o da televisão. Invariavelmente o da televisão antecede o outro; às vezes o celular falha ou acaba a energia e a televisão desconfigura.

Meu relógio biológico milimetricamente ajustado me ajuda sempre; desde que não esteja influenciado por álcool ou por ansiolíticos; há sim, noites perfeitas de sono, todos os dias!

Aqui fica o meu muito obrigado ao clordiazepóxido, todas as noites, um comprimido depois de escovar os dentes; os que convivem comigo agradecem os seus benefícios!

sábado, 25 de abril de 2009

"Naturalmente má"...

Gostava da forma como trocávamos e-mails - era uma forma de estimular minha criatividade, por em prática tudo aquilo que não conseguia expor na vida real ou não achava quem os queria - nada forçado, apenas algo preso por falta de oportunidade ou "oportunista" (sem pejoração).

A fluidez sempre me seduziu; e, esta, encontrei nas suas perspicazes respostas. Enfim, uma mistura de desafio, desatino e diário. Era minha rotina colocada em palavras, armazenada numa antiga caixa postal; idos tempos onde o provedor apenas reservava míseros dois megas de memória.

Há um dito popular que diz algo como: "para quem sabe ler um pingo é letra..."Os meus pingos são para poucos; há os que os interpretam corretamente; os que se apropriam; ou que se identificam e há também, os que ficam inertes, inócuos com a minha realidade quase sempre instável e invariavelmente contraditória. E o seu tato era peculiar ao que eu escrevia, logo ia de encontro aquilo que procurava.

Gosto, particularmente dos que interagem com frenesi, entusiasmo mesmo que contido. Os louros dos elogios não me atraem; a curiosidade sim, as opiniões e os questionamentos acerca de tudo que gira ao meu redor.

Há quem se apaixone por bocas, por personagens de filmes, de livros – eu por respostas de e-mails; as mais bem humoradas, inesperadas e até as ácidas. A tênue linha da minha realidade era quebrada quando começava a digitar: tec, tec, tec - sem parar. Rápido como um profissional de digitação; aqueles escrivães de delegacia, sem olhar ao teclado, conhecedor de cada detalhe, com um copo de água gelada ao lado, os óculos de grau na rack e o player me inspirando: o piano de Norah Jones, para me adocicar, Rage Against para não perder uma boa briga e Dylan para aflorar as idéias.

A partir do momento em que as nossas realidades se cruzaram, há um bom tempo atrás, não soube reagir como nos meus e-mails. De repente o meu teclado era outro, não podia apertar o “delete”; nos meus atos infanto-juvenis; ou inconseqüentes/incontroláveis impulsos sexuais – sempre eles.

Não era somente sexo - era texto, parágrafos devidamente pontuados, era o proibido, as conversas, a sua experiencia, a forma como pegava na minha nuca e olhava no fundo dos meus olhos. Rápido como um reinício no computador; porém tão desastroso o fim quando o apertar de uma tecla errada. Apertei o power, tirei do “reservadamente” e somente tentei salvar meus textos - conseqüentemente a minha pele.

E com um ato de covardia, apertei o botão vermelho aos quatro cantos, exatamente: quatro vidas. Pouco sei depois disso tudo, apenas imagino que todos perderam; inclusive a mim. Textos, amores, você, eles, todos.

E agora, depois de tantos anos remexo na caixa de pandora, retiro a teia de aranha da caixa de mensagem: agora com não mais tão pouco espaço, peço desculpas, perdão, justifico e envergonho-me de tudo, como sempre.

A pergunta tão objetiva que me fizeste, ainda não tenho a resposta. Quem sabe não venha algum tempo com suas excelentes retóricas por e-mail.

Muita coisa mudou, eu sei. O meu senso de humor continua o mesmo, o problema da memória recente também é uma tormenta; todavia meu sentimento de culpa fora aprimorado com os vários anos que se passaram.

Caso seja de seu interesse, seja bem-vinda novamente aos meus textos, “naturalmente má”....


Prét-à-Porter.


Por mais contraditório que pareça, um homem criado exclusivamente por mulheres têm uma tendência a andar bem alinhado, se preocupar com combinação de cores, tons - desenvolvem a sensibilidade de diferir tecido natural de sintético; porém, em contrapartida, seus gostos ficam suprimidos aos das suas queridas tias.

Apesar das influencias alheias, no meu guarda-roupas não podia faltar uma camiseta branca, básica, daquelas de trinta reais no máximo; era o que eu imaginava antes de morar sozinho, namorar, trabalhar, ter amigos influentes e freqüentar praias, formaturas e eventos profissionais.

Tão superficial se preocupar com o que vestir, tão vazio mas ao mesmo tempo tão essencial. Basicamente visto-me da forma que me sinto mais confortável e o mais discreto possível. Gosto da forma como sou observado quando uso a roupa do trabalho. Um misto de curiosidade com respeito e ao mesmo tempo intimidação.

- Olha lá, a bandeira no lado direito do ombro dele mãe? Ele é polícia? Ou: - Quem este cara acha que é desfilando desta forma na minha quebrada?

Minha avó gostava que andássemos limpos apenas, quando crianças, era a única exigência de "moda" - porém minhas tias faziam questão de que seguíssemos as tendências da moda infanto-juvenil. Era até certo ponto constrangedor. Porque crianças têm que andar coloridas como arvores de natal?

Hoje gosto do minimalismo, minha maior extravagância foi uma camiseta lilas que comprei por engano. Uso-a quando quero sair da casinha, quebrar a minha rotina; umas duas tequilas e está feito o estrago.

Fui comprar um terno. Na maioria dos eventos sempre alugava; achava mais prático, cômodo e já vinha com o nó da gravata feito, mas pensei: isso é tão masculino, isso é tão importante para nós quanto fazer a barba. É o nosso universo; seria como uma mulher que não sabe lixar as próprias unhas ou não sabe passar um delineador nos olhos.

Fiz uma pesquisa antes, consultei meus amigos dependentes de suas mulheres, mas suas respostas foram vagas ou óbvias:

- Fabiano, aluga que já vem com o nó pronto!

Parti para amigas casadas e com larga experiência com trajes à rigor; aprendi muita coisa, noções básicas, detalhes imperceptíveis aos não acostumados, mas importantes.

Primeiro passo, escolha uma loja especialmente voltada para vestuário masculino; dê preferência para as que tenha vendedores masculinos, manequins apenas masculinos; sinta-se entre amigos: os do futebol, homens, machos, cerveja e que falam somente em loiras com shorts minúsculos; e que apenas as caixas sejam mulheres e com belos decotes para te ludibriá-lo na hora de efetuar o pagamento.

Quanto ao paletó, prefira os de caimento perfeito, principalmente no dorso; evite que sobre dobras pois dá a chata impressão de que o “defunto” era maior; quanto a manga, que tenha comprimento até o punho, sem cobrir a mão e sem deixar a camisa a mostra. Preste atenção ao cruzar os braços, para que não fique curto o comprimento das mangas. Em relação a calça o comprimento tem que dar exatamente na linha do salto do sapato (caso haja), nada de pisar na barra. Cuidado com as gravatas, pois elas são peças-chave: que sejam elegantes, com padronagens discretas ou sem estampas. Eu prefiro as lisas, nada de ousadia, no máximo pequenos detalhes. O comprimento delas deve ficar na altura do cinto.

Quanto aos sapatos, prefira os de couro liso, clássicos, admitindo-se os modelos de amarrar (que são mais caros). Quanto ao tecido dos ternos, há para todos os gostos e bolsos; eu prefiro os mais práticos, que não amassam tanto; porém não são tão usuais no verão. Oxford é uma boa pedida, há outras opções como linho, cambraia ou os mais em conta: micro-fibra.

Mas o mais importante é se sentir à vontade e, principalmente – confortável. Sobre os tipos de nós de gravata, há ótimos tutoriais na internet - é como aqueles exercícios de escoteiro; passa por aqui e dobra ali e pronto, caso contrário alugue um traje ou compre uma camiseta básica da Hering e seja feliz assim como eu!


segunda-feira, 20 de abril de 2009

Um dia frio...



Tem dias que o melhor que temos a fazer é ficar em casa, tirar aqueles velhos livros do armário -os mesmos que compramos há muito tempo, mas nunca nos importamos em sequer passar pelo prefácio; ou abrir a dispensa e procurar a última garrafa de vinho, aquele que fica escondido, em local com umidade minima no armário - de preferência um tipo de vinho com aroma pouco festivo e sabor totalmente melancólico, altamente concentrado nas minhas reflexões.

A trilha perfeita seria um clássico dos anos setenta, algo que remetesse à reflexão, revolução e dias prósperos a favor de todos; sabemos que as revoluções foram em parte inspiradoras a muita coisa, então porque não inspirar-me nelas para chacoalhar meu estado de espírito. Janis seria a escolhida; a priori, - com sua voz rouca e estridente, faria todos os meus músculos relaxarem, encostados na velha poltrona enquanto o vinho elevava meu estado de melancolia.

Sinto falta de uma inspiração feminina na minha vida; inspiração, expiração, excreção, transpiração...Algo que venha de fora para dentro, com uma força tão descomunal que seja desnecessário qualquer esforço para penetrar na minha corrente sanguínea.

Cansei da minha existência emocionalmente solitária e estável. Agora, acomodado com a minha situação enquanto não chega a hora de jogar tudo para cima, fazer as malas e ir ver minha paixão. E que seja arrumar as malas apenas para ir no bairro mais próximo, mas que seja uma viagem, uma mudança na minha vida, na minha rotina, que seja a substância que faz falta correr pelas minhas calibrosas veias.

Há quanto tempo não sinto isso? Porque ainda é tão latente nos meus sonhos, na minha rotina. A vontade que tenho é parar todos me cruzam comigo, olhar nos olhos e perguntar: É você??? É você que eu procuro??? É???

Afinal de contas o que corre pelas minhas veias? Paixão, objetivos, sonhos, frustrações. medo?

Domingo, na maca do hospital, tentando me recuperar de uma pseudo-virose-refluxo-esofágica-etílica; enquanto a solução fisiológica penetrava nas minhas veias, podia ver clara e lentamente meu sangue voltando aos poucos pelo escalpe e se misturando à outra substancia, tudo em câmera lenta; uma interação homogênea, porém o meu sangue sempre prevalecendo - impunha sua solidez a englobar a outra, aumentando seu volume sempre, mesmo que em pequena quantidade.

O que vem de mim - desde que me tornei completamente independente de tudo e de todos - sempre prevalece; e confesso que estou cansado. As influencias externas pouco tem efeito na minha personalidade; enfim estou formado; logo pela vida, pelas circunstancias sinto-me calcificado.

Sempre me gabei de ser socialmente convivível, de fácil tato, lido. Ledo engano! Acostumei-me com o meu espelho que não cobra quanto faço ou desfaço da minha vida. A auto-suficiência impede criticas internas e logo eu que sempre tenho todos os argumentos do mundo, acabo me perdendo em aceitações.

Tudo o que eu faço é aceitável, natural e cabível: as justificativas são utilizadas apenas para manter o meu padrão de descanso, encostar a minha cabeça ao travesseiro e dormir bem.

Aproxima-se a estação do inverno; digo aproximasse porque entramos agora no outono, mas por suas características outono não em remete a estação por sua total indefinição de clima. E não por ventura, estou fugindo de tudo que o previamente traz indefinições. Estou bem protegido para as indefinições – da estação, claro.

sábado, 18 de abril de 2009

Enquanto isso na farmácia da esquina...

Em posse das receitas, resolvi consumar o fato; finalizar logo, afinal foi um longo tempo de espera e se demorasse muito, perderia as receitas controladas no meio da minha (des) organização.

Não fui à faculdade, cheguei do trabalho, tentei dormir e não consegui - gripe, cansaço físico e mental, fome e vários outros fatores psicológicos me assolavam. Então coloquei uma camiseta amassada, uma bermuda que fica permanentemente alojada na minha rack e procurei pelo cartão de crédito, pois não achei o dinheiro.

Era muito mais comodo ligar e mandar entregar o remédio em casa, mas como não tinha dinheiro em espécie, tive que me deslocar até a farmácia mais próxima Peguei meus óculos e sai; assim como minha casa, minha vida; meu carro sofre as conseqüências da minha desorganização: nunca vi tanta concentração de papeis num só local; trabalho, cópias, panfletos que guardo para ler depois, câmera digital, sacolas retornáveis de supermercado, óculos de sol entre outros e não foi fácil achar os documentos do veículo.

Talvez pela gripe, estava sentindo calafrios; calor e frio ao mesmo tempo, leves vertigens, mas mesmo assim me desloquei para a farmácia, pois assim aproveitava para pegar um anti-sintomas gripais. Pois bem, evitando cruzar a cidade toda, fui de carro numa farmácia “caseira”, bem pequena, mas de grife! Entrei apressado, antes mesmo já tinha sido fitado o tempo todo pelo atendente Resolvi ir direto ao ponto: - Oi, vocês tem este remédio aqui? - Entreguei rapidamente a guia controlada, verde e devidamente carimbada pela vigilância sanitária, e. Ele olhou para mim, estava tranqüilo até certo ponto; olhou novamente, viu o meu estado físico – barba absurdamente comunista, olheiras de porteiro de boate, roupa amassada como se tivesse saído da lavadora – digamos que não era a melhor das visões e resolveu titubear.

- Vejamos, Psicosedin... - Olhava para o computador e para mim, para o computador e para mim...

- Caralho cara, tenho a porra da receita devidamente prescrita, identidade e o dinheiro, pega logo esta merda para mim que eu dou o fora, ok? - Pensei.

- Olha, este medicamento não temos... - falou com uma cara de despreocupado.

- Está bem então, não tem então não tem, certo? - retruquei impaciente.

- Bom, mas era somente isso senhor? Não podemos ajudá-lo em outra coisa? - tentou me consolar.

- Por acaso tem Sulpam? Eu tomava ele antes, me fazia muito bem e tinha poucos efeitos colaterais, se tiver vou querer umas 15 caixas para tomar com cerveja...- falei sério.

- M..M..Mas... - gaguejou o vendedor...

Virei as costas e fui sacar dinheiro, cash, grana viva! Antes de entrar no carro, olhei para o espelho do carro e conclui o porquê da desconfiança do farmacêutico – eu aparentava ter saído de uma REHAB/Manicômio ou algo parecido, realmente, ele tinha razão em, nó minimo, desconfiar do meu estado emocional.

- Dê-me pílulas ou eu te maaaato, falei rindo para o espelho do meu carro!!! Háááá!

Droga, foi culpa da gripe e uma falta de tempo cuidar da aparência, mas sou inofensivo. Agressivo mesmo é o meio que me cerca, as situações na qual sou obrigado a me desvencilhar (sem sucesso). Ele me pegou num mal dia e além do mais, ninguém em são consciência, extorque farmacêuticos.

Parti, então, menos empolgado para uma grande Megastore, agora sim, impossível não ter maldito ansiolítico (que nunca ouvi falar, mas...).

Chegando lá o mesmo ritual, olha receita, olha para a cara do paciente; receita, cara; cara, receita.

- Temos sim, vou pegar para o senhor, três caixas...- disse o jovem atendente.

Eu apenas sorri.

- Ei fulano, onde foi que vocês colocaram o Psicosedin? Não está no armário? - perguntou o vendedor para um outro atendente.

- Calma Fabiano, calma, deve ser apenas um problema de logística, acontece. - Pensei

- Espera aí, vamos conferir senhor, aguarde um instante. (odeio vendedores, ha!)

- Tudo bem, eu aguardo. - disse calmamente.

Estava me sentindo mais fraco, pois devido a gripe e a ressaca da noite anterior, não havia me alimentado o suficiente, resolvi sentar, mas fui interrompido.

- Olha achamos aqui, mas acho que está vencido? - disse ele, completamente constrangido.

- Há, sim e o que eu farei com remédios vencidos? - disse eu aflorando meu lado irônico/impaciente/gripado. - O senhor por acaso quer que eu vá até a vigilância sanitária fazer uma denúncia ou não precisarei ter este trabalho? - Cara faz o seguinte então: – sugeri antes que tivesse qualquer tipo de reação - pega aí um envelope de Coristina D que eu vou embora, estou cansado, gripado e não quero remédios vencidos, obrigado. - desabafei.

- Espera senhor... Carlão, onde está a outra prateleira? Vem aqui logo, o cliente está com pressa! - gritou.

Dois minutos depois chegou com as caixas...

- Desculpe a demora senhor, mas estávamos vendo a prateleira errada...A validade é até o ano de 2011.

- Tudo bem, mas então pegue o meu anti-gripal...porque estou com...

- Senhor, por acaso não quer um remédio melhor para gripe? - Interrompeu-me o maldito homem de branco.

- Não, este aí me faz bem cara, resolve todos os meus problemas como ninguém, me deixa feliz, diminui a coriza da gripe e de quebra ainda gasto pouco.

- Tudo bem senhor, mais alguma coisa? - perguntou assustado.

(Lado irônico on novamente) Há, por acaso tem Sulpam? Eu queria quinze caixas e não tenho receita médica e....

- Como disse senhor? Quantas caixas? - perguntou.

- Amigo, quanto ficou? Tenho pressa. - conclui já me virando para a porta de saída - Espere um instante, preciso da identidade do senhor.

Eu Havia me esquecido que para se adquirir remédios controlados se faz necessário identificação. Sim, claro, me desculpe - fiz questão de sacar a identidade funcional, onde dizia em letras garrafais o que eu fazia.

- Humm, parou e pensou um pouco o vendedor, deve ter entendido o motivo de eu ter pedido tantas caixas de um remédio e sem receita médica....

- Senhor, podemos conseguir caso necessite, da outra medicação que solicitou sem receita médica, damos um “jeitinho” aqui no cadastro e...

- Eu estava brincando meu caro, mas mesmo assim obrigado pela sua prestatividade e pela ética da sua farmácia, mas onde eu pago? - Não se esqueça de colocar meu anti-gripal favorito na sacola e de preferência, com o prazo de validade não vencido.

- R$ 32,50 senhor, pague no caixa por favor!

(Até o presente momento o remédio não fez efeito desejado pelo médico e por mim; somente o anti-gripal mostrou a que veio - como sempre! E agora sim, de barba feita, banho tomado e roupas passadas; mas da próxima vez, ligo para o disk entregas!).


domingo, 12 de abril de 2009

Garçom, por favor traga-me o cardápio.


Numa pequena mesa, de igual pequeno bar; em questão de segundos resolvi jogar todos os dados do meu futuro para cima e deixar cair de forma aleatória.

Entre um gole e outro de cerveja, talagadas de sal e limão - num bar que não era o meu, com pessoas estranhas sentada ao meu redor acompanhado de um dueto agressivo na voz e violão - meus planos vinham à tona conforme abria o cardápio. Tudo organizado como no cardápio - devidamente separado por seções: planos, sonhos, objetivos e seus respectivos preços; contudo, infelizmente, todos ainda bem atrelados ao meu passado.

Meus olhos brilhavam à medida que virava as páginas. Todos me chamavam a atenção: um mais saboroso do que o outro; fazia questão de compartilhá-los com meu também empolgado amigo de mesa - sim, somos jovens, ex- companheiros de trabalho, colegas de frustrações, dissabores e idéias novas.

Inúmeras opções ainda não experimentadas, miscelânea de situações, hipóteses e objetivos, bem ao nosso gosto. Desviava meus olhos do futuro apenas para contemplar a força e habilidade com que a vocalista tocava; porem nos intervalos das músicas meus olhares se voltavam totalmente para os meus planos recém-sorteados.

Os acordes eram agressivos, assim como eu me via diante dos desafios. Sua voz nada doce, combinada com os solos do violão elétrico; inspirava-me cada vez mais a procurar outro lugar ao sol; arriscar algo incerto e impor minhas novas vontades.

Muito do que o som me inspirava, já estava escrito em letras garrafais no cardápio - as ilustrações eram as melhores, todas bem delineadas, nítidas e focadas; contudo, seus preços dispendiosos. O que menos importa quando se trata de vontades são os preços - quanto mais alto, maiores serão as recompensas; quanto mais caros, maiores os desejos em adquiri-los. E se não os alcançarmos, gloriosas serão nossas quedas!

- Cara isso aqui é pequeno demais para nós! Para mim, para você e para qualquer um que não se contente com pouco.

Não, não estava escrito no cardápio desta vez e tão quanto fazia parte das letras da musica; era parte do nosso discurso, expelido às duras penas, competindo com a voz gritante da minha musa - dois grandes amigos numa mesa de bar, cansados das mesmices, das limitações das nossas cidades e seus moradores e da falta de ousadia e valorização profissional. E porque não também do nosso comodismo e passividade (até então) diante de todas estas situações?

O mundo nos espera e nós aqui escondidos atrás de apenas três opções de cerveja e ainda por cima da mesma fábrica?

- Cara, vamos embora desta cidade, deste país!

Trilha sonora: Ravena Senra e maestro Fininho.
Palco: Sr. Buteco, Presidente Prudente - SP
Cardápio: Cerveja, sal e limão. Convidado Especial: Marcelo Rodrigues.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Trilha sonora do post anterior.

Menti pra você, mas foi sem querer
Pato fu

Composição: Rubinho Troll


Menti pra você
Mas foi sem querer
Me perdoe, amor
Mas não pude conter
Não pude segurar a mentira
Que pulou da minha boca em você
Pulou em você
Ó, meu benzinho
Não posso lhe dizer a verdade
Não posso parar de mentir no mundo

Meu ser é assim desde criança
Não de confiança
Não posso parar de mentir
Mentira branca, mentira preta
Sem querer
Eu minto pra você
Ó, meu benzinho
Não posso lhe dizer a verdade
Não posso parar de mentir no mundo


(Estou sem tempo para escrever, é verdade, eu juro. Tenho administrado meu tempo de forma errada porque apesar de ter tempo, há muita coisa acumulada. Há algum “setor” da minha vida consumindo a maior parte do meu tempo, mas não consigo identificá-lo. Não tenho lido o suficiente, não tenho alguem para dedicar meu tempo livre, as poucas tarefas da faculdade ficam para a última hora, estou sempre atrasado, fico devendo visitas nos blogues de pessoas interessantes, há... Talvez o problema seja com o relógio e não comigo.
Estou bem obrigado; falando a verdade e tranqüilo, já feliz é um termo muito abrangente e, devido a minha falta de tempo, vou me abster de maiores conclusões.

O que preciso agora é de duas horas para arrumar minhas malas e ir de encontro à minha família, passar meu aniversário com todos, ter uma crise existencial no meu antigo quarto, passear com os cachorros da minha mãe e freqüentar meus bares favoritos. Vai ser divertido, tenho certeza...

Feliz aniversário para mim, no dia nove! 29 anos...caralho, agora sim estou ficando velho...)