sexta-feira, 31 de julho de 2009

Oinc, Oinc.


A Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) suspende suas aulas por onze dias, a partir de hoje (30.07) e até o próximo dia 9 de agosto, por medida preventiva à gripe A (H1N1), conhecida como gripe Suína.

A decisão foi repassada pela secretária Lygia Lumina Pupatto, da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti) por determinação do governador do Paraná, Roberto Requião.

Em todos os campi da Unioeste, nas cidades de Cascavel, Toledo, Marechal Cândido Rondon, Foz do Iguaçu e Francisco Beltrão, em torno de dez mil alunos ficam sem aulas, com retorno previsto para o dia 10 de agosto. Exceção é feita aos acadêmicos de Medicina, do Campus de Cascavel, que cumprem internato médico no Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP).

Em toda a Universidade serão mantidas, neste período, apenas as atividades administrativas. A suspensão das aulas se estende a todas Instituições de Ensino Superior do Estado.

Assessoria de Comunicação Social

[…] Estava começando a me preparar arduamente para as minhas provas (calculo/direito!?) de segundas-chamadas e pesquisando todos os trabalhos das outras disciplinas, ainda por fazer, além de estarmos atrasados e sem professores numa disciplina- mas, infelizmente trata-te de um caso de saúde pública, comoção nacional e internacional, dada a gravidade dos fatos; e a decisão foi proferida pelo dono do planeta terra (meu patrão) - vulgo vossa excelência, o senhor Governador do Estado do Paraná! Que seja feita a vontade do Rei!
(Não sei o que mais me espanta: o meu cinismo ou o do Governador).

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Receita de bolo.



Enfim, pressão! Confesso que as [minhas] melhores soluções são apresentadas assim, com este “incentivo”; esta forma peculiar de motivação. Viver sob pressão é um estímulo para novas idéias; um impulso para reorganizar seu tempo, seus planos e suas prioridades e, principalmente, atingir suas metas.

Eu, modéstia parte, funciono das duas formas: com ou sem pressão; ambas com seus prós e contras. Mas, definitivamente, viver num ritmo frenético é a única saída para se fazer, aplicar, entrar em ação - mexer-se!

Quando se é pressionado, não há opções, os planos foram traçados, as obrigações existem, juntamente com as responsabilidades e, em contra-partida, o tempo é escasso e limitado.

Dez dias de exaustão (desgaste físico; principalmente) e pude restabelecer quais são as prioridades; não que eu já não as conhecesse, mas estavam todas num mesmo patamar de delimitação de tempo, dedicação, aperfeiçoamento, concentração e responsabilidade. Estavam todos na mesma linha, lado a lado e me apegava ao que viesse primeiro, em ordem cronológica e acabava por me dedicar por igual em tudo, dividindo o tempo e não terminando nenhuma tarefa.

No momento de uma crise, sempre se procuram culpados e desta vez não foi diferente. A culpa é da busca pela ponderação, prazer acima de tudo, experimentação, caminho mais longo, fugas eválvulas de escape - a culpa é minha!

Atingi o ritmo de vida tido como ideal acredito; fazia de tudo um pouco, tempo me sobrava. Apesar da ponderação, não me acomodei – dei continuidade ao que havia planejado, mas não dei prioridades e não me dediquei com o devido afinco a uma ou a outra área.

Logo pude chegar a conclusão de que eu atingiria o objetivo, mas não no tempo devido; e que, para tal feito, teria que abrir mão de muitas coisas.

Eis então que toquei numa ferida - cogitei abrir mão de muitas coisas.

Parece contraditório, mas se eu fazia de tudo um pouco, estava indo em direção ao objetivo por que então ter que abrir mão de alguma coisa? Porque eu prefiro/necessito fazer bem apenas uma do que ser mediano nas outras; assim, não havendo possibilidade de lograr êxito em tudo – devido as minhas limitações físicas, emocionais e ideológicas - fez-se necessário abster-me de alguns tópicos da minha vida.

Pois, enfim, abraçar o mundo já faz parte do passado. Abraço agora o meu futuro de uma forma mais definida; deixo de lado vida sentimental [mas não abro mão de...]; social [Esta sim, consome a maior parte do meu tempo]; boemia [Só uma vez por semana]; virtual [Vai ser difícil acredito, mas, preciso de desvencilhar da internet [e-mail/orkut/blog/internet/msn...] e reflexões que gerem dúvidas acerca do meu futuro.

Vale salientar que não é uma mudança radical, mas sim uma nova visão de comportamento. Seguirei fielmente uma pirâmide de prioridades, onde terei que dizer “não” para algo, quando dois campos da minha vida se confrontarem. Pois assim surge a pressão; gerada, em termos, por mim mesmo.

Pressão gera disciplina - ótima para seres como eu, indisciplinados ao extremo, que precisam de disciplina militar para não incorrerem em síndrome de Peter Pan.

Já que não faço parte de nenhum pelotão do Exército, vou comprar uma agenda e nela estará definido tudo o que eu “devo” fazer durante a semana.

Custe o que ou a quem custar, eu farei.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Geração saúde.



Tornei-me sedentário, esta é a verdade absoluta. Entre inércia e manifestações esporádicas de movimentos preferi àquela. Entusiasmo, empolgação, alongamento, aquecimento, consumação elevada de oxigênio e carboidratos, a conseqüente desidratação deram lugar agora, definitivamente; ao pijama, cadeira confortável, geladeira hipercalórica, álcool, livros, computador e cama.

O corpo adapta-se a tudo e, desta vez, não reclamou por não apresentar fadiga muscular. Já a cabeça ainda passa por um processo de transição – afinal de contas era altamente bombardeada pela endorfina provocada pelos estímulos físicos e, por conseguinte, deveras dependente destas fonte de prazer.

A consciência apresenta-se conflitante ainda: ora culpada, ora aliviada; pois, independente da escolha, houve uma renúncia - e esta, relaciona-se diretamente ao meu bem-estar emocional.

Inveterado, maníaco, viciado literalmente em esportes; sempre competindo comigo mesmo. Atleta individual; nunca senti-me à vontade praticando esportes coletivos, apesar de esboçar algumas habilidades. Ser ajudado, espírito de coletividade, soma de habilidades para atingir o objetivo não me apetece quando se refere a esportes. Independência, única fonte de recursos físicos, cobranças e metas internas...Individualismo.

Eu contra eu, ou talvez, eu contra você. Eu e você contra eles, não! E nada me dá mais prazer do que ganhar de mim mesmo; ou mesmo diante da derrota, serve-me como estímulo para da próxima vez massacrar meu adversário.

Exceder os limites era a tônica: estafa físico, desidratação, enjôos, dores no peito, falência muscular, hematomas e dor, muita dor. Exercícios aeróbicos e anaeróbicos combinados: explosão muscular e resistência física sempre à prova.

Dor, transpiração, limites, alívio, sensação de prazer - Atleta.

Ócio (im)produtivo, trabalho, leitura, boemia, estudos, vida pessoal e necessidades fisiológicas (comer e dormir). Obrigações e compromissos; falta de tempo...Ex-atleta!

Sinto músculos atrofiar, retrair; a elasticidade enrijecer e a força física se perder. Um lamento, uma necessidade, o abandono...

Geração prioridade, geração obrigação, geração psicológica, geração conseqüências...

Restaram apenas o silencio total do meu corpo: pulsação cardíaca uniforme, estalos apenas ao movimentar as articulações; o desgaste físico permanece, juntamente com parcos resquícios de fôlego. Tenho abstinência, fato este que deve-se à flagrância dos acontecimentos; sinto, às vezes, contrações involuntárias nas pernas - tenho a enfadonha sensação de o corpo ir e eu ficar.

As marcas físicas advindas do passado também permanecem: o tônus, alta concentração de massa magra, calos no tornozelo; estas perduração por muitos dias, porventura meses – mas a decadência é iminente, a mutação, o despreparo, o sobrepeso, a sonolência excessiva, a culpa...

terça-feira, 21 de julho de 2009

CEO da sua própria vida é demitido por indisciplina.



Volta às aulas: eu como sempre, sentindo-me vazio - ansioso por assuntos novos para poder relacioná-los com a minha vida e, por conseqüência, digladiar-me noites à fio, até entrar em contradição e achar um motivo para uma mudança brusca de comportamento ou algo que explique o porquê desta busca desenfreada e irresponsável por mudanças.

Era para ser mais uma aula onde o professor coloca seu imponente notebook – de propriedade da mega-estatal da qual faz parte da diretoria executiva –, na velha mesa de madeira, da tão quanto velha sala, sentando-se nas desconfortáveis cadeiras da universidade pública e nos deixando à vontade, apresentando os seminários semanais sobre Teorias Gerais da Administração.

Não na maioria das vezes, mas quase sempre, permanece calado, apenas observando nosso comportamento. Seu olhar intimida, sua posição e seu curriculum também. Demonstra ser uma pessoa realizada profissionalmente, detentora de um grande conhecimento: tanto empírico quanto científico, técnico e global. É um típico executivo; sempre cheio de compromissos, viagens internacionais, cursos, reuniões; dispõe de um aparato exclusivo oferecido somente a uma pequena minoria da empresa; obviamente que tudo por seu mérito.

A disciplina que leciona é interessante: explica o porquê de sermos ricos ou pobres; felizes ou tristes; reativos ou proativos; empregados ou patrões. Demonstra em ordem cronológica de acontecimentos, o surgimento dos problemas nas organizações e posteriormente as suas respectivas tentativas de soluções.

É uma constante muito grande; o que era para ser solução acaba tornando-se um entrave posteriormente, logo, necessitando de outras saídas. Tudo é muito dinâmico – soluções antigas já não servem hoje e novas abordagens vão surgindo, mescladas com as anteriores, sem parar - sempre de acordo com a demanda de problemas.

É interessante como o professor lida conosco: uma mistura de professor com patrão - procura desenvolver o nosso senso crítico; capacidade de iniciativa; estimular trabalho em equipe; questiona, coloca-nos em contradição e exige ao máximo de todos sem exceção – jovens, adultos, homens ou mulheres e, como todo patrão, espera resultados; bons resultados e para isso não poupa críticas.

Tem uma habilidade conceitual impar no tocante à motivação; ele “sente” nossos pontos fracos; arranca isso com perguntas simples tal como:

- Como você se vê daqui a cinco anos? Qual sua melhor qualidade? Qual seu ideal de felicidade, o que é ser realizado para você? Para que quer se formar em Administração?

Dependendo da resposta, ele despeja um considerável balde de água fria na sua cabeça ou se estiver com alguma ferida aberta e notá-la - joga mesmo álcool para queimar, arder até você acordar e refletir - mas ao mesmo tempo, seu lado docente atua como um anestésico e, em seguida, demonstra onde você pode melhorar, quais os seus pontos fortes, os melhores e mais eficientes caminhos a tomar de acordo com seu perfil.

Definitivamente é uma aula de vida, ou melhor, de sobrevivência na selva. Mesmo diante de tantas teorias expostas, abordagens, experimentos, bibliografias, estudos científicos - a decisão sobre qual caminho a tomar é totalmente nossa. O conhecimento de nada servirá se não os colocarmos em prática aquilo tudo que aprendemos em sala.

Este é o nosso diferencial. Seremos os tomadores de decisões. Tanto hoje - enquanto alunos, quanto amanhã - quando profissionais.

Na verdade somos tomadores de decisões, sempre fomos. Tudo gira em torno de escolhas em qualquer esfera das nossas vidas: cada escolha leva a um caminho diferente e este caminho produz um resultado, invariavelmente. Entende-se, então que se tomarmos uma decisão que não produzir o efeito esperado, teremos que retroceder, voltar e fazer outra escolha; demandando mais tempo e dedicação. E é com base nestes conhecimentos adquiridos nas aulas e na vida que encurtaremos ou passaremos várias vezes pelo mesmo caminho até chegarmos a um objetivo que nos satisfaça.

Hoje foi uma aula diferente; poucos alunos devido ao recesso de apenas duas semanas; alguns alunos desistentes e o frio, somado a definição antecipada do grupo que seria o responsável pela apresentação do seminário – de certa forma contribuíram diretamente para a presença reduzida de alunos, pois não havia o risco de serem sorteados novos grupos.

Foi uma aula exemplar, como nunca tivemos antes. Desta vez, os que estavam assistindo a apresentação, ficaram apenas a observar, enquanto o professor tomava a vez e fazia jus a toda sua pompa, com uma didática impecável. Desta vez, sem “patrão” incorporado. Elogios, muitos receberam elogios e dava para ver nos olhos ou nas bochechas rubras o contentamento. Os que não receberam, sentiram indiretamente que, só dependem deles para serem os próximos a serem estimulados.

Desta vez, a temática dos debates foi a importância dos conflitos dentro das organizações; enquanto as outras teorias simplesmente ignoravam, evitavam ou dirimiam os conflitos, desta vez enaltecia a sua importância, mas o foco central da aula era a estrutura das organizações (a necessidade de interação entre todas para atingir o objetivo final) e as suas relações com o ambiente externo.

Eu, fiquei a observar e ouvir atentamente; absorvendo ao máximo cada palavra, comentários, exemplos (usou de vários; simples e objetivos), piada, analogia e tudo o que o professor jogava e nos fazia pensar.

Pensei, pensei muito; tentava não colidir os pensamentos do professor com os questionamentos que tinha. Desta vez me contive, guardei-os para mim, não quis interromper a explicação do professor e preservar as minhas auto-conclusões.

Apesar da serenidade das discussões, peguei um gancho de um questionamento que o professor fez ao grupo que se apresentava – lembro-me que o assunto em tese era planejamento estratégico. A resposta do meu colega suscitou um comentário do professor, no qual ele dizia que para tudo se faz necessário disciplina e, conseqüentemente, abrir mão de algo para não perder o foco do objetivo...

Continuou a apresentação até então, para todos, menos para mim. Eu me desconcentrei, desconcertei, travei - senti uma brecha aberta, uma falha, uma cegueira em mim que estava mascarada pelo meu estilo de vida atual, pelo excesso de elogios alheios e contentamento pessoal limitado.

E que na verdade, esta é a resposta para todas as perguntas sobre o porquê de eu não terminar nada do que começo. Nada.

E destas conclusões tirei uma lição, melhor dizendo, sobreveio-me uma crítica, mesmo que indireta. Eu senti o balde de álcool despejar, mas não sobre uma ferida e sim diretamente nos meus olhos.

Não sou instável como supunha; indeciso, impulsivo ou qualquer sinonimo para pessoas que não sabem o que querem para si – eu sou indisciplinado. Não tenho rotina, minha dedicação para tudo existe, mas é esporádica, quando quero ou realmente necessito, isso serve para qualquer campo da minha vida.

Como não notei isso antes? Como passou despercebido, já que me incomoda tanto ter que responder este tipo de pergunta. Nunca tinha parado para pensar ou nunca ouvi isso da boca de ninguém falando diretamente a mim. Por que não recebo uma crítica construtiva? Não dói tanto quanto imaginam, pelo contrário, se faz necessário. Meses, anos da minha vida são poupados...

Esta é a resposta. Agora está tudo tão claro. E quando me perguntarem por que eu mudei de curso novamente, se já terminei o livro que comecei ler e já desisti ou troquei de título; por que quero ir embora daqui; porque tranquei isso, aquilo; por que não quis namorar - eu direi com toda a certeza e consciência:

- Eu sou o cara mais indisciplinado que eu conheço.


sexta-feira, 17 de julho de 2009

Fraldas...


Há tempos não tinha uma sensação tão diferente na minha vida. Destas que você não sabe se ri ou chora; se diz sim ou diz não - simplesmente fica atônito, sem reação alguma, travado.

Tratando-se de mim, não é fácil disso acontecer. Não é fácil mesmo.

Eu, sinceramente, sem hipocrisia, já tive muitas experiências e me permiti a muita coisa e (quase) nada me assusta ou me surpreende, no que se refere a comportamento das pessoas. Literalmente faço o que eu quero e, às vezes, faço o que nunca faria somente para ter sentir a sensação de ter feito.

Isso não torna minha vida previsível, pacata e sem expectativas - pelo contrário; torna ainda mais imprevisível, pois estou sempre buscando algo diferente, sempre querendo algo que me desarme e me deixe assim, com a sensação de ainda há muito o que vivenciar, sentir e aprender. E há! E em tantas intensidades diferentes que fico desnorteado quando acontece.

Já tiveram situações semelhantes no passado, mas talvez o momento não tivesse sido oportuno, faltava algo ainda - talvez pela pouca idade, falta de experiência e vivência não teve o mesmo sabor de hoje, beirando aos trinta anos de idade. Pouco me importava com isso antes; para falar a verdade eu evitava, tinha um pouco de medo, ou melhor, eu tinha muito medo. Tenho amigos bem mais jovens que já tem um, dois... Eu sequer cogitava imaginá-los. Sequer...

Dia seis de julho de 2009; era começo de tarde - fomos convidados para jantar, mas somente eu e a minha mãe fomos. Eu por saber que tão cedo não veria a anfitriã e a sua prole (meus queridos primos) e a minha mãe foi porque era o convite de sua irmã mais velha (minha tia).
É estranho, mas agora que estou longe, faço-me mais presente em reuniões familiares - uma leve ponta de melancolia, misturada com boas expectativas. Uma sensação prazerosa, mas ao mesmo tempo angustiante por saber que tão cedo não os verei.

- Estamos esperando o Marcelo chegar, foi buscar o filho na escolinha e a esposa no trabalho, mas o jantar já está pronto... - disse minha tia, feliz com minha presença.

Foi o tempo de nos cumprimentarmos para que eles chegassem – meu primo, sua esposa e seu filho de sete (acho) meses. Estavam todos aparentemente felizes - apesar do cansaço do trabalho, a responsabilidade do primeiro filho e os desafios de uma vida de recém-casados. Depois das formalidades, dos abraços entre os adultos, as atenções se voltaram para o mais novo integrante da família (até novembro).

Eu, como sempre, estava distraído, ainda de pé, conversando sobre trabalho com o meu primo quando minha mãe se virou para mim e disse estendendo as duas mãos em minha direção, segurando o bebê:

- Toma, segura! - sorriu de forma inocente.

Foi tudo tão rápido que não tive tempo de me esquivar, de dizer que não sabia “mexer”; qual "botão" apertava para ligar ou desligar; que achava lindo, mas no berço ou na cadeira própria para eles – não tive tempo de perguntar onde segurava, se precisava abraçá-lo com as duas mãos; se pegava em posição de ninar ou deixava-o sentar no meu braço. Eu não sabia o que fazer, só sabia que tinha que segurá-lo pois, dada a efusividade da minha mãe, o deixaria ali até que eu o pegasse.

Sem jeito e com um leve tremor nas pernas eu o segurei - melhor dizendo: eu o abracei. Não havia outra saída, não poderia deixá-lo ali esperando ou dizer que tinha certo temor, falta de habilidade, costume.

Era pesado, mexia-se sem parar. Ninguém na sala, naquele momento se tocou na situação, no que eu estava sentindo e o que estava se passando pela minha cabeça. Na verdade pouco se importaram comigo, parecia ser uma situação tão corriqueira que sequer imaginaram o meu desespero e a minha explosão de sensações naquela situação. Continuaram a rir e confraternizar-se; e eu ali com ele nos meus braços - completamente sem saber como proceder.

Ele também ria, parecia feliz, mas continuava agitado para meu desespero. O meu temor/tremor não parava, mas a sua receptividade me fez mais confiante, parecia estar bem satisfeito ao meu colo, virava-se a todo momento, para todos os lados, esboçava gemidos, sons. Olhava rapidamente para os meus óculos com cara de curioso, eu tentava de qualquer forma equilibrar os seus dez quilos nos meus braços mesmo com toda a sua impulsividade e agitação.

Foram no máximo dois minutos segurando-o, até que devolvesse à sua mãe. Ainda estava tremendo, olhava para minhas mãos, olhava para o bebê...Fiquei atordoado, adormecido por alguns instantes ainda, não conseguia dizer nada. Foram dois minutos apenas e eu senti tanta coisa diferente, foi uma experiência indescritível para mim, justamente nesta altura da minha vida. Só consegui esboçar, quase gaguejando um:

- No-o-o-ssa como e-e-ele cresceu... - disse eu, um tanto quanto sem-graça.

Impossível não remeter isto à minha infância, mas ao contrário de outros tempos em que ficaria chorando, lamuriando e ruminando aquilo que não passei enquanto criança, eu simplesmente me projetei - agora não mais na figura de filho; desprotegido, carente e necessitado de amor paternal - mas sim na figura de pai!

- Nossa, como eu cresci. - pensei.


(Eu tive duas referências paternas diferentes na minha vida: uma na infância (meu tio) e outra na adolescência (meu padrasto) - porém nenhuma das duas sequer apresentavam qualquer ligação de consangüinidade comigo, mas mesmo sem dizer pessoalmente, pois estes já sabem e sempre souberam, sou eternamente grato ao que fizeram por mim. Fizeram além das suas atribuições e foram fundamentais para a formação do meu caráter, índole e foram as referências masculinas quando da minha formação. Agradeço pelas cobranças - principalmente e lógico: pelo carinho, amor e dedicação espontâneos, sem esperar nada em troca. Coisa de pai mesmo, dentro de suas limitações, mas coisa de pai, ou melhor: coisa dos meus dois pais!
Obrigado Flávio e Irineu).

Continua...


“Não importa quem foi meu pai. O importante é a recordação que guardo deles.” Anne Sexton


quarta-feira, 15 de julho de 2009

Men at work.



Quinta-feira, 9 de julho, aproximadamente 16:00 horas da tarde; piloto e co-piloto na estrada, acelerando sobre um trecho retilíneo da BR-486 - já com dois terços do caminho percorrido de volta para minha casa, em Foz do Iguaçu...

O tempo tornara-se inóspito neste instante: seria um prenúncio? Não, não. Apenas uma precipitação chuvosa; uma mudança brusca de clima - talvez fomentada por uma frente fria vinda do sul. Senti um choque térmico muito grande - estava completamente despojado em vestimentas - deixei as formalidades para o “começo” da festa de formatura da minha irmã, no final de semana anterior à minha volta.

Seguia feliz da vida com meu tênis sujo e minhas roupas de verão limpas - lavadas carinhosamente pela minha querida mãe, foi quando fui surpreendido por um calafrio seguido de um suspiro de ansiedade ao ver que não estava mais sob os cuidados de ninguém, que não (obrigatoriamente) os meus.

Foram exatos 39 dias longe do trabalho; destes apenas os últimos seis longe daqui. “Privilégio” adquirido devido a férias, folgas e trocas de plantões de trabalho.

Descanso primeiramente para o corpo - já tão desgastado pela rotina extenuante de doze horas dia sim/dia não ao tempo: faça chuva ou sol; feriado ou aniversário da mãe – somado à má alimentação devido à falta de tempo; vida desregrada; sedentarismo nos finais de semana e excesso de exercícios durante.

Já os últimos seis dias descansei de tudo, inclusive de mim: corpo e pensamentos – zerei, resetei minha memória - descansei tanto que fiquei cansado de novo - eis então que aproximava-se da minha redenção. A minha prisão voluntária, a minha pena a cumprir e a sentir, aquilo que tanto me consome e ao mesmo tempo me nutre, o meu contraditório, sempre paradoxal ambiente de trabalho e seus resultados.

O velho e já gasto colete estava dependurado há tempos no cabide, sempre o deixo bem à vista para que sempre ao abrir o guarda-roupas, me debater em pensamentos, acontecimentos, situações para eu levarei para o resto da vida. Desbotado, descosturado em algumas partes. Lembro-me quando me entregaram novo, ainda no plastico e me disseram: “Cuide bem do dono dele e se sobrar tempo, cuide dele, pois será o primeiro e o último – seja bem-vindo ao Estado”. Eu entendi o conselho amigo e o sarcasmo e estava ansioso por vesti-lo.

Ostentei-o orgulhosamente por anos a fio: em tempestades de granizo, geada, calor infernal e lavagens diárias – resultado de muito suor, poeria, bactérias, sangue, terra, esbarrões e contato físico com outras pessoas.

Hoje já não o uso tanto - apesar de continuar a sofrer os mesmos reveses, prefiro as camisetas que “ganhamos” do sindicato. São mais funcionais, justas ao corpo, não-customizáveis Não são dotadas de presilhas de ajuste, o que nos garante a segurança de não sermos estrangulados durante uma rebelião por nossos próprios instrumentos de trabalho.

No braço esquerdo, ostenta o emblema sindical – estampando um aperto de mão e logo ao fundo uma balança equilibrada ao seu meio. Já no direito, temos a bandeira do Estado – bem menos discreta, porém bem mais imponente do que o símbolo sindical. Sindicado do lado esquerdo, Estado do lado direito e nós ao meio. Não sei dispostas desta forma devido alguma alusão à sua origem socialista (sindicato) ou uma simples convenção militar (visão estatal); mas, enfim sei que na prática somos três entidades com interesses distintos: completamente diferentes, quiçá com um objetivo em comum, supostamente comum. Já acima do coração - não propositadamente, acredito - fica o emblema da secretaria da qual somos vinculados; a da Justiça e nas costas carregamos todo o peso de nossa função – estampado em letras garrafais, na cor amarela, fontes levemente arqueadas e que se completassem a frase toda, tornaria-se um alvo, literalmente.

Eu senti falta deste peso; dele e de todas as suas implicações que conseqüentemente agrega ao meu estado de espírito. Senti falta da pressão psicológica feita ou absorvida por mim; do inevitável desgaste físico diário; risco de vida constante e iminente; do descontentamento geral; tortura emocional; comida industrial e sua falta de tempero; das responsabilidades, obrigações, vontades que sobrepõem à qualquer outra, a da lei. Senti falta do descaso, da desorganização e a improvisação do Estado e toda a sua suposta falta de recursos; das ameaças de agressão física e de morte; da agressividade do ambiente insalubre; das cobranças sofridas e oferecidas por todos. Eu senti falta de oferecer e sofrer cobranças...

Com tantas desvantagens, conflitos e riscos de vida como pode alguém sentir falta, ou ainda, necessidade disso na sua rotina diária? A resposta está implícita no próprio questionamento: é uma necessidade que eu sinto. Todas estas adversidades, responsabilidades, somada aos riscos que são inerentes à profissão, me consomem. Sou absorvido pelo trabalho, sou desafiado diariamente, por tudo e por todos, é a defesa da vida dos outros, de interesses que não são somente os meus.

Sou bombardeado a cada minuto por situações hipotéticas. Pode acontecer tudo isso ou não - é uma incógnita, porém devemos estar sempre preparados para o pior.

Esta é a minha motivação maior. Não há uma rotina no meu trabalho, há uma dinâmica e esta dinâmica envolve inúmeras situações/pessoas - que por sua vez estão vinculadas à outras realidades: seja de colegas, legislação, técnicos, presos ou organizações – são milhares de possibilidades que podem ou não acontecer. São pensamentos; conhecimentos; convicções; ideais e crenças divergentes – tudo teoricamente direcionado a um objetivo final comum.

É inegável que em muitas das vezes nos perdemos nos meios, mas o objetivo deve ser alcançado, sempre - o do Estado, claro - excluem-se os nossos, os sindicais e o dos condenados.

Infelizmente muitas das vezes esbarramos apenas nos nossos, que na maioria das vezes não converge. Para uns pode ser o fiel e irrestrito cumprimento da lei; para outros a sobrevivência em si; a regeneração do preso; a manutenção do emprego; o poder em seu estado mais latente; talvez simplesmente aliviar a tensão; a fuga (física ou emocional); a estabilidade; a liberdade e a prisão.

Para mim o objetivo é o meu trabalho, chegar em casa exausto ou totalmente descansado; às vezes chocado com algum acontecimento ou simplesmente gargalhando com uma situação inusitada; aliviado por estar vivo ou raivoso por alguma injustiça; revoltado com o sistema ou conformado com suas limitações. É saber que todos que estavam conosco também chegaram em suas casas, independente dos objetivos e interesses. Dependurar o colete ou a camiseta no varal depois de lavá-lo à exaustão até que tudo de ruim que fora absorvido, escorra pelo ralo e soe como lição de vida. Minha rotina é justamente não ter rotina.

Eu lembro das palavras de um experiente instrutor, ainda no curso de formação em 2005, quando perguntado como seria nossa rotina de trabalho; ele respondeu basicamente com uma pergunta que calou toda a sala: - “Rotina?”.


(É um trabalho enriquecedor, acredite – não financeiramente, longe disso, bem longe - claro. Falando nisso... há sindicato cadê os 15% só para começar que nos prometeram? Tenho data para sair “vivo” do sistema, espero - e sem nenhuma licença médica por estafa mental. É a maior experiencia que alguém poderia ter na vida; principalmente sobre comportamentos, pois o nosso trabalho é basicamente um jogo de nervos; adaptação às pessoas; imposição; auto-controle; malícia; sangue-frio; jogo de cintura e muito, mais muito poder de convencimento e negociação.
Não há como ser extremista trabalhando com pessoas que não tem nada a perder, ainda mais se pautado por normas frias e ultrapassadas, feitas há mais de trinta anos, movidas por uma máquina estatal que só me manifesta (e quando se manifesta) para dizer que não há recursos para investir em nada (treinamento, equipamento e remuneração condizente com a periculosidade da função).
Ponderação para não enlouquecer e rigidez quando necessário - embasado em normas para se proteger. Este é o meu pilar.
Os conflitos com os presos são evitáveis na maioria das vezes, justamente por nós que somos os mais capacitados, juntamente com todo o corpo técnico,desde que trabalhando todos em sinergia de objetivos).

domingo, 12 de julho de 2009

Você é aquilo que você SUJA.



A minha lavadeira me conhece – ela sim sabe o que realmente se passa comigo. Sabe dos meus passos como ninguém; é a quem confidencio silenciosamente os meus dias, sem nenhum pudor, mantemos uma empatia cliente/prestador de serviços; entendemo-nos apenas no olhar profissional dela e mantém-se sempre uma discreta confiança, mesmo com toda sua peculiar efusividade.

Avalia-me, obviamente pela roupa suja que levo à ela - e não pelas horas de conversa que dispersamos descompromissadamente quando dos finais de tarde - ela sim sabe dos meus problemas ou a falta deles, mesmo sem eu contar.

Sabe se/com quem ando; relaciono; alimento e qual meu estado de espírito.

A quantidade exagerada de roupas de frio suja indica que esteja provalmente com a resistência baixa e que evito usar por muito tempo a mesma vestimenta. Fruto de excesso de trabalho. Mas o que leva o excesso de trabalho, a troca de plantões sem ter a devida necessidade?

Para maiores conclusões analisa as camisetas: se são mais as coloridas ou apenas as brancas (que uso por baixo do colete ou as negras - já próprias para o trabalho). que estão em maior quantidade.

Verifica se há cheiro de cigarro impregnado nas coloridas e, se sim – conclui pelo excesso de álcool. Seguindo a mesma linha de raciocínio analisa as meias; realmente as troco com freqüência diária quando pelo excesso de trabalho - dado o acúmulo de água no tênis ou no coturno, quando em tempo de chuva e, logo ligando tudo à troca excessiva de roupa de frio.

Mas ela é minuciosa, nada passa despercebido ao seu crivo investigativo. Não basta saber o que fiz ou deixei de fazer - há uma necessidade incessante de saber os porquês dos meus (des)feitos.

- Seria uma fuga ou necessidade? - questionaria-se. Pense, vamos pense D. Maria, há mais peças a serem analisadas ou mais detalhes embutidos nas mesmas peças.

Após uma triagem inicial, depois de traçar superficialmente como estou fisicamente, quer saber o porquê de eu trabalhar tanto ou beber na mesma intensidade - o porquê de eu não sair mais com a loira e encontrar a morena nos fins de semana. Quer mais detalhes e os procura revirando a sacola de roupas e analisando cada peça com suas próprias mãos, observando a ordem com que foram colocadas no cesto para saber a seqüência correta dos acontecimentos.

Procura, então, por manchas de alimentos, para poder concluir se estou realmente trabalhando por necessidade ou fuga. Roupas com respingos de alimentos - geralmente fast-food, confirmam a teoria de que o trabalho é necessário e fora assumido por motivos de força maior - fato este que é comprovado pela falta de tempo para alimentar-me de forma regrada. E que, apesar de desregrada, conclui-se que estou me alimentando, logo não é propriamente um desleixo com a saúde e sim uma necessidade temporária. Logo, aparentemente estou bem. Só sem tempo e a falta de alimentação, somada à rotina extenuante, contribuíram para baixar a minha resistência física.

Mas a falta de manchas diz que algo não vai bem, de que não estou saindo de casa para nada ou que não estou me alimentando de nem de junkie-food; logo parte para uma análise aromática - técnica aprimorada há anos de convivência.

Sabe meus perfumes, quais os preferidos e em quais dias da semana os uso e nas suas devidas ocasiões, pois tem meu perfil já traçado, basta ligar os pontos. São dois anos de estudo, de convívio indireto com a minha roupa suja.

Perfumes misturados indicam envolvimento; mas como definir se eu estava numa boate, bar esbarrando numa pessoa ou se estava à sós com alguma mulher?

Tão elementar para minha experiente colaboradora.

Analisa pelas mangas – geralmente quando há vários aromas diferentes é sinal de contato físico não intencional e constante com várias pessoas. Para fechar com chave de ouro sua linha de pensamento, analisa a gola e a parte do tórax da camisa. Vê se não há puxões, alargamento excessivo, leva mais perto do nariz para tentar identificar se meu perfume está apenas misturado com cheiro de cigarro ou tem outro embebido no tecido.

Se não bastasse, ainda de forma não intencional, decifra a personalidade ou o apetite da pessoa com quem estive. Analisa se há cabelos - e se os há, quais as cores; verifica pacientemente se há excesso de brilho, maquiagem - o que levaria a pensar que se trata de um encontro casual, num local público e não fora programado por mim.

Para realmente dar o veredito se foi exatamente esta pessoa com que me encontrei, pega as calças e compara com as camisas de forma sistemática – utilizando-se do mesmo processo. Sabe quem tocou mais quem pelo cheiro que fica sob meus bolsos, pois na maioria das vezes eu apoio muito a mão sobre os mesmos e, tratando-se da parte que toma mais a iniciativa, estes estariam com o mesmo cheiro.

Analítica D. Maria - contundente e perfeccionista quando refere-se a mim.

- Como terminara este episódio, pois vejo aqui mais outras e muitas outras peças, teve uma semana agitada, apesar do excesso de trabalho? - preciso decifrá-lo, preciso! Incansável, D. Maria.

Os bolsos, então checa-os, como tato e olfato. Geralmente acha papéis, muitos papeis – recibos de cartões de débito e recarga de celular - nem olha o valor, apenas o local em que fora gasto e já sabe se foi bom ou ruim a noite ou o dia; se estive só ou com amigos da faculdade, se foi um encontro ou apenas uma reunião de colega de trabalhos. Cheira-os também, para saber se sente cheiro de borracha de preservativo, halls preto ou qualquer outro apetrecho que indique que eu sai intencionado.

- Roupas de cama? Sim, mas seria muito obvio analisar agora. - pensou, com olhar desafiador.

Mas não é sua especialidade e nem o seu interesse a minha vida financeira – apesar de influir diretamente na demanda e no objetivo final do seu trabalho; pois sim, eu gasto uma quantia relativamente substancial por mês com as roupas sujas e, invariavelmente, quando estou feliz gasto mais ainda.

Revira o fundo das sacolas e como sempre acha muitas toalhas, como sempre - significa que ainda tenho algum tipo de transtorno obsessivo, pois mesmo no inverno, verão – praticando ou não esportes, a demanda por toalhas é grande e quando é dobrada é porque tem saído com extrema freqüência de casa.

Mas o que o define mesmo são as roupas de cama. Se mando pouco é sinal de que depressão e conseqüentemente muito sono - sinal de fuga; percebe-se, também pela quantidade de manchas na fronha do travesseiro. Geralmente quando dorme-se muito, com sono pesado a tendência é realmente babar e quando se come na cama, os travesseiros deixam marcas deléveis...

As pontas do lençol mais sujas do que a parte de baixo, significa muita pressa e pouca preocupação com assiduidade; juntamente com restos de alimentos no lençol, geralmente manchas de bebidas sempre no mesmo local é sinal de que sai pouco da cama, não se movimenta muito.

E assim decifra o estado de espírito naquele momento.

Seguindo as mesmas premissas; seu feeling; uma lógica minha e a rotina ela sabe exatamente tudo o que fiz e, dependendo da freqüência com que levo, sabe até quais roupas serão levadas na próxima visita à lavanderia.

Quando vou buscar a roupa de cama, sempre pergunto se ficou pronta, mesmo sabendo que ficou; pego a nota; fazemos piadas sobre situações financeiras e ela me entrega a sacola com tudo limpo, nos despedimos cordialmente como velhos amigos, viro as costas e ela provavelmente guarda a conclusão para si. Sinto muitas vezes que ela se diverte com isso; somente uma vez deixou escapar, foi um deslize pequeno, mas eu estava atento ao comentário sutil que fez sobre minha semana.

Poucos shorts, pelo visto não praticou exercícios esta semana, porque esteve gripado e bebeu muita bebida destilada, porém não passou mal. Teve um encontro com uma pessoa apenas, era morena, cabelos até o ombro e extrovertida, foi um encontro marcado, porém apenas uma vez nesta semana; faltou na faculdade um dia, justamente no dia em que não dormiu em casa; tem se alimentado mal; mas pelo visto não está deprimido. Tem usado muito o celular, deve estar se sentindo sozinho, pois a quantidade de recibos de recarga é grande; sua vida sexual anda estável, pelo visto com a mesma pessoa, não a do encontro; trocou a marca de molho de tomate, pois esta remove mais fácil; tem dirigido muito e andado pouco; pois vejo marcas de sinto de segurança nas camisetas mais sensíveis e não vejo as me marca esportiva. Anda prudente no transito e tem lavado o carro com freqüência, pois as barras das calças não estão sujas. No trabalho sido escalado demais dentro das galerias do presídio, devido ao cheiro de mofo; comprou uma caixa de halls de morango e dormiu sozinho todas as noites, tirando a que não dormiu em casa.


- Quanto ficou tudo D. Maria? Até a próxima semana ou quem sabe ainda volto no final desta, com mais novidades - digo, mais roupa suja!


(Andei ausente daqui [mundo virtual]; mas não foi pela falta de "roupa suja", pois o cesto está cheio novamente; mas sim pelo ócio improdutivo que fui tomado nas minhas nada programadas férias, porém merecidas férias; só precisava mesmo do meu teclado, meu monitor, minha cadeira e das minhas roupas de cama para me inspirar novamente...)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Eu, eu mesmo e os outros.



Estou dedicando tempo demais a outras pessoas que mal conheço; tenho perdido tempo com coisas que não dizem muito ou sequer dizem algo de meu interesse; assuntos e discussões que, como diria alguém com um pouco mais de sensatez: não traz nenhum benefício para mim diretamente.

Não sei se por absorção espontânea, fuga ou até mesmo fraternidade - incorporo os problemas dos outros e acabo por não viver ou dedicar o tempo necessário para minha vida; seja ela profissional, sentimental ou acadêmica.

Entro em discussões sobre teorias que nunca foram colocadas em prática; assuntos que estão aquém de qualquer aspiração momentânea de quem quer fórmulas práticas para resolver os problemas. Divagações sobre aquilo que nunca existiu.

Pego-me solucionando os problemas sentimentais dos outros enquanto eu me escondo por detrás de uma tela de LCD e procuro a felicidade sentimental em textos bem elaborados; fantasiando situações que gostaria que acontecesse, vivendo num mundo à parte!

Fico tentando ensinar regras de colocação pronominal para filhos dos meus amigos enquanto tenho que me preparar para um exame numa disciplina na universidade, na qual nem entrei no segundo semestre letivo e a carregarei até o fim de novembro na minha consciência e nas longas noites em claro que passarei tentando entender a maldita matéria.

Meus livros estão empoeirados na estante, muitos papéis estão acumulados e desorganizados, todos misturados dentro do armário: contas com rascunhos; comprovantes de pagamento com apostilas; copias de livros com resultados de exame de sangue; cartas de amor e ódio juntas.

Faço questão de juntar todo material que paguei e não uso mais, organizá-los por categorias, tópicos, “mastiga-los” e emprestar para meus colegas estudarem para concursos públicos ou apenas deixá-los na estante esperando que o conteúdo entre por osmose nas suas duras cabeças.

Meu computador está com vírus, preciso fazer uma cópia de segurança para não perder tudo de uma hora para outra – fotos de família, textos, e-mails que gosto de ficar lendo, relendo - mas não tenho tempo, pois faço questão de ajudar meu amigo a fazer uma “montagem” num programa gráfico parodiando seu colega de trabalho; ou tento por msn fazer um gráfico no Excell para um amigo de um conhecido.

Tenho assuntos pendentes no trabalho - mesmo estando de férias; contudo perco-me nas conversas dos meus colegas que insistem em perguntar o porquê de eu não ter ido viajar para a casa dos meus pais durante as férias, mesmo já sabendo a simplicidade da resposta.

Estou um tanto cansado das pessoas que não tem nada a me oferecer e/ou retribuir a curto, médio e longo prazo - para falar a verdade estou com muitas saudades de mim; dos tempos nos quais imperava apenas meus interesses; minhas necessidades primárias e colocava no centro do universo o meu enorme umbigo.

Porque eu tenho que sempre estar de prontidão? Sempre esperando alguém aparecer com um problema para eu resolver; porque não o Google; o terapeuta de vocês; a vizinha; o diretor do colégio; o mecânico; a polícia ou a justiça?

Porque tem que ser eu? Já ouviram falar em terapias alternativas, cartomantes, álcool, bíblia, namorados, filosofia, drogas ou enciclopédias? Pois então pessoal!

Dar atenção seria uma forma indireta de receber atenção - algo que a astrologia talvez explique; que fuja da razão ou que - de forma direta eu sinta esta necessidade. Não envolve amizade, mas sim interesses; por isso destoa do simples altruísmo e por isso só agora me perguntei o porquê ficar até as três, quatro horas da madrugada ouvindo os problemas alheios, enquanto os meus ficam na geladeira, acumulando gelo.

Em se tratando de mim, deve ter uma explicação, algum egoísmo envolvido, algum interesse meu por trás de tudo; não há como negar, não sou assim – talvez seja um estado de espírito momentâneo (que está durando bons três anos); uma forma de me purificar, de imputar nestes pequenos atos - nesta “doação”, (até porque faço decoração) àquilo que eu não tenha feito antes e, como numa forma de penitência, abrisse mão momentaneamente dos meus interesses para me sentir bem com os outros.

Bingo novamente; enfim, prazer – ser humano, Fá, para os íntimos! Uma forma ponderada de “contribuir no sinaleiro com moedas”; uma medida paliativa quanto à minha mea-culpa da falta de coração de outrora, do modo blasé de ver tudo ao meu redor, pois eu era assim, ou talvez sempre fui, mas nunca tinha parado para pensar.

Fato é que não estou me sentindo bem (ser humano novamente - prazer, Fabiano agora) – sentir-se “leve” é um termo ambíguo: leve de espírito, mas vazio, faltando meu conteúdo, meus pedaços, minhas dúvidas, meus problemas, meu relacionamento, meu tempo.

Como diria uma (como definir alguém que comenta no blog?); enfim, uma pessoa que me leu e comentou algo como:"Doar-se para os outros é ser egoísta consigo mesmo." (Marcelle) - logo, então, para fugir do estereotipo do ser egoísta (que hoje me incomodaria); qual a solução? A ponderação? A seleção ou o tempo a dedicar? Ou a quem dedicar - algo burocrático como: - Tenho dez minutos, seja breve e tire a corda do pescoço, respire fundo e entre neste site!?

Pensando bem, quem tiraria a corda do meu pescoço; quem largaria algo que está fazendo despretensiosamente (que não os melhores amigos) para fazer tal doação? - mas como disse, meus amigos não contam - e tudo isso sem interesse algum? (pensando...pensando...pensando...).

Logo chego à conclusão então de que estou perdendo meu tempo; meu precioso tempo, meus minutos de ócio enquanto outras pessoas o gozam por mim/de mim. E eu continuo a estar sempre atrasado e com muitas coisas por fazer e desesperado – sempre!

Meu proveito é tão pequeno, minha pseudo-doação-com-interesses-alheios, não me satisfaz e sequer faz cócegas nos meus pecados - até porque ainda tenho muitas, mas muitas contas a acertar; devo para tanta gente, fiz tanto mal a pessoas com boas intenções; tenho tantos pecados; erros injustificados; maldade deliberada; e todos os sinônimos cabíveis referente à egoísmo, ser o centro do universo e literalmente ligar o foda-se para todo e qualquer ser – independente da sua proximidade. Agora me vejo nesta desconfortável e conflitante situação...

Outro dia, despretensiosamente, me perguntaram bem vagamente, do nada: qual era o segredo...

Eu curioso disse: - Mas que segredo? Não há segredo algum para você e um seleto grupo de cinco pessoas na minha vida no qual faço questão de falar abertamente tudo e não me sentir culpado! Para os outros, minha vida é um blog aberto, basta saber interpreta-lo – sorri; digo fiz “rsrs”.

- O segredo de ser tão assediado; de te procurarem direto; de você entrar na internet abrir dez janelas do Messenger instantaneamente; ligarem de madrugada todos os dias; mandarem e-mails; cartas...De te quererem tão bem. Qual o segredo? – explicou-se melhor. Você, aparentemente é um cara comum, destes que se não o conhecessem, passaria despercebido pela multidão; eu o “via” assim antes de conhecê-lo, de me envolver contigo, precisar... - concluiu.

A pergunta não fora tão específica, tive que desvenda-la; mas a resposta foi.

- É um jogo mútuo de interesses e, dependendo da situação, um lado sempre sairá em vantagem. O ideal seria os dois, porém; ora perdemos, ora ganhamos. É vida minha pequena, um jogo de interesses, de egoísmo e segundas intenções ou acha que estou até agora acordado tão tarde à toa? Ainda acredita que as pessoas trabalham porque trabalham; sofrem porque gostam de sofrer ou resolvem os problemas dos outros por resolver?

- Fazemos o bem, ajudamos as pessoas não por simplesmente ajuda-las, mas para nos sentirmos bem, entende? Nós, nos sentirmos bem – o resultado é uma conseqüência benéfica para ambos, todos saem felizes e satisfeitos dependendo das circunstancias. - conclui com toda a sinceridade explicando os motivos que me levam a cometer tal ato de doação e conseqüentemente, hoje não estar me sentindo satisfeito com os resultados.

- Pensando bem, ninguém me conhece realmente, ninguém! Nem eu.

Para finalizar; a interpretação é algo tão íntimo, tão pessoal e interno que pode ser considerado uma habilidade egoísta, portando não me entendam mal. (Não, não escrevi para vocês; escrevi para mim – como era de se esperar).


sábado, 4 de julho de 2009

BR-277


Há muito tempo atrás tomei um antiinflamatório, não lembro qual era o seu nome, mas era potente; tive uma espécie de alucinação. Estava sentido fortes dores nas articulações e me receitaram este, que segundo o farmacêutico era absorvido mais rápido e não prejudicava a mucosa estomacal.

Foi uma sensação estranha, de lentidão de movimentos – mexia vagarosamente meus braços e podia ver uma luz seguindo meus movimentos; tal qual uma espécie de espectro.

Passava longe de ser uma substancia alucinógena, afinal de contas era uma medicação - talvez o efeito fora causado pela falta de alimentação adequada por minha parte e pelo excesso na posologia, devido ao alto grau de dor. Qualquer movimento que eu realizasse era seguido pela luz, tal qual um efeito especial: fosse com as mãos, dedos, perna, cabeça... A dor passou, deitei na cama e dormi satisfeito.

À medida que ia se afastando da minha atual casa, tive a mesma sensação - só que desta vez sem antiinflamatórios e quem me seguia eram pensamentos apenas.

Estávamos atrasados, era preciso cruzar todo o Estado do Paraná; tínhamos seiscentos e poucos quilômetros pela frente de estrada esburacada em muitos trechos, duas pistas apenas, muito tráfego e três destinos finais diferentes.

O carro; novo e potente - somado a nossa pressa, habilidade de dirigir do meu amigo, e a sua intimidade com seu bólido - tentavam em vão deixar tudo para trás.

Afinal de contas eu estava indo para casa ou voltando para casa?

– Vamos acelere! – pensava; uma hora isso vai ter que deixar de me seguir. Bons trechos de asfalto e conversas divertidas sobre experiências amorosas nos permitiam ultrapassar a barreira dos centro e quarenta quilômetros.

- Quero ver se é capaz de me seguir com cento e oitenta quilômetros por hora! - desejava. Não adiantava, estava sempre atrás de mim, dos meus movimentos – os pensamentos.

Foi então que, ao passar vagarosamente por um obstáculo que respirei fundo, olhei para o espelho retrovisor e não vi mais nada. Senti um pequeno estalo - talvez provocado pelo obstáculo e pela parada repentina para efetuar a manobra na estrada.

Mexia as mãos ainda com receio; olhava para trás e só via meu outro amigo entretido num sono cadenciado com os balanços dos amortecedores do carro, em perfeita sincronia de movimentos: homem/máquina. Respirei aliviado, estiquei as pernas e pedi para aumentar o som – era música eletrônica, destas que não falam nada, não expressam nada e não transmitem emoções, sentimentos - somente sensações.

A sensação era prazerosa - coloquei o banco mais para trás, tirei o tênis e cruzei os braços entre o pescoço e deixei as sensações da trance, techno, house - seja lá qual nome dão a este tipo de “música” permear meus pensamentos provocando apenas sensações.

Quando retornar para casa, daqui há dez dias - quero sentir apenas sensações, chega de pensamentos.


quarta-feira, 1 de julho de 2009

Bang!



- Acertou Fabiano?

- Sim! Um tiro só foi o suficiente.

- Matou?

- Não, não sei; acho que já estava morta, já.

- E agora?

- Eu vou ficar ficar aqui! Foi em legítima defesa, era matar ou morrer.

- Mas você atirou!? Como pôde?

- Atirei! Não tive escolha, mas não fui eu que matei.

- Quem matou então?

- Não sei, acho que foi suicidio.

- Mas tem várias perfurações, ferimentos profundos, feridas abertas nela; várias pessoas a feriram, não acha? Como pode ter se matado então?

- Por isso mesmo, talvez o sofrimento tenha sido tanto que preferiu morrer à viver.

- E se estiver viva ainda?

- Não está: não se move, não respira, não esboça reação, não há pulsação, não há vida - talvez um dia houve, mas eu não existia nesta época.

- Vamos chegar perto para ver então, vamos socorrê-la?

- Não adianta. Eu já tentei, fiz tudo o que era possível – eu me entreguei; doei meu sangue; amor; calor; protegi - mas a dor era tão intensa que não era da sua vontade viver; vamos embora daqui não há mais o que se fazer.

- Mas o que teme? Se não a matou, qual o motivo de não querer mais ficar; de tentar novamente, porque quer ir agora?

- Porque eu tenho medo de morrer de novo.

- Então não tem escolha, vamos embora!

- Sim, vamos.

(Silêncio)