segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Dois de carne com legumes, um pão de alho e uma coquinha de garrafa, por favor.

Acordei cedo para um domingo chuvoso.  Assisti aos programas dominicais da TV aberta ao mesmo tempo em que me atualizava das notícias pelo telefone celular.  Selecionei a minha região, o meu Estado e cai numa página genérica.  Noticias triviais: protestos, acidentes automobilísticos, movimentação política regional e a notícia da captura de suspeitos de latrocínio contra a vida de um empresário de Foz do Iguaçu. Fiquei curioso, de certo, apesar de ser um fato corriqueiro. As pessoas morrem diariamente, indiscriminadamente e nós nem ficamos sabendo. É tudo muito rápido, um flash. As pessoas morrem, as famílias ficam em choque, ninguém quer acreditar. O corpo passa por perícia ao mesmo tempo em que são feitos os preparativos para o funeral. As pessoas são avisadas às presas, acredito que grande parte nem comparece ao velório, mas vão ao enterro. Este lapso temporal não demora mais do que um dia. Talvez você esteja no trabalho, incomunicável, ou viajando, ou mesmo em casa, sem comunicação por telefone. Quando fica sabendo esta pessoa não está entre nós. Não é como um parto, ninguém espera pela morte. Nem o mais pessimista, nem ele. É um instinto - sem sombra de dúvida o nosso mais incipiente instinto. Eu não sei como reagir, não consigo fazer cognição deste fato. Particularmente, ninguém que tenha meu sangue morreu, parente consanguíneo  Havia apenas um tio que fora casado com minha tia, contudo ele não era filho da minha avó.
Foi uma experiência indescritível, pois eu simplesmente travei. Não expressava nenhuma emoção, eu não processei este episódio no momento, num primeiro momento eu agi com frieza, num segundo também. Não quis entender, Não precisava ter que aceitar a ideia também porque era algo irreversível: a morte não tem que ser entendida, tem que ser sentida. Fiquei tento flashes destes momentos por muito tempo. Liberei um choro desesperado, inconsolável e tardio. Um misto de sentimentos: culpa, saudades, dor.
Definitivamente eu não sei como proceder, eu tenho medo. Eu espero a morte sim, é estranho isso, não é pessimismo, é realismo. Isso não me impede  de viver, pelo contrário, me entusiasma. Minha avó, vai morrer, minha, minha irmã, minhas tias, primos, meus amigos íntimos.
Querendo eu ou não.


Quem não sabe o que é a vida, como poderá saber o que é a morte?
(Confúcio)


A notícia da morte que me deixou pensativo foi a de um proeminente empresário da cidade pela qual morei os mais intensos cinco anos da minha vida. Eu o conhecia por ser freqüentador do seu estabelecimento comercial, sua história era um exemplo de vida e de orgulho para toda a cidade. Era simpático, aficionado pelo trabalho. Sinceramente não fiquei chocado com a morte em si, apesar de ser uma grande perda. Na verdade, a notícia me remeteu às queridas pessoas que passaram na minha vida nesta época – pessoas incríveis que fazer uma falta que sinceramente jamais será reposta, verdadeiros irmãos. Era o local onde nos reuníamos no final de tarde para jogar conversa fora. Obviamente não era isso que ele queria, logo seria injusto desejar que ele descanse em paz. Na verdade eu desejo que a família sim, descanse em paz e que tenha sempre ele nas suas lembranças.
Queria uma imagem que retratasse a morte, mas que fosse desvinculada de alguma religião ou que não representasse uma punição, mas não encontrei. Link para a notícia: