80% da CCM foi destruída
Roberto Silva e Rubia Pimenta
Engenheiros da Secretaria de Estado da Justiça, Cidadania e dos Direitos Humanos (Seju) concluem hoje a vistoria na estrutura da Casa de Custódia de Maringá (CCM), palco de uma rebelião que durou 23 horas, encerrada na manhã de ontem.
Eles vão verificar os danos estrutural causados durante o motim e apontar as obras que serão necessárias para recuperar a unidade prisional.
Segundo a assessoria de imprensa da Seju, 80% do mobiliário da CCM, principalmente camas e colchões foram destruídos. Já o Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná (Sindarspen) afirma, com base em informações passadas por agentes que trabalham na unidade, que 90% foi destruído pelos presos.
Grades, muros e portas foram quebrados e pertences espalhados por todas as galerias. A possibilidade de interdição da unidade, por enquanto, foi descartada.
A rebelião terminou depois que a secretaria aceitou transferir 31 detentos para unidades prisionais de suas cidades de origem, acatando uma das principais reivindicações dos rebelados. Dos 900 internos no presídio, aproximadamente 400 participaram do motim.
Detentos rebelados mostram os presos que foram feitos reféns; apesar de exaustos, eles não se feriram
Eles mantiveram como refém o agente penitenciário Paulo Arruda e dois presos, que foram liberados assim que a rebelião foi encerrada. Apesar de exaustos, eles não foram feridos.
Durante a manhã, os presos ainda atearam fogo a roupas e colchões em um dos setores do presídios. Os integrantes do grupo conhecido como "Ferro Velho", em Maringá, liderados por Benedito Batistiole, foram os últimos a se renderem. Eles foram presos no início de julho em uma operação da Polícia Federal (PF).
Logo após, os amotinados desceram da laje e ficaram deitados, apenas de roupas íntimas, no pátio do presídio, para revista. A Polícia Militar (PM) e agentes penitenciários iniciam um processo de varredura na Casa de Custódia, para avaliar os estragos e recolher as armas utilizadas pelos rebelados.
Transferências
Maico de Souza Moretti, 25 anos, conhecido por Guerreiro, tido como líder da rebelião, e outros 22 presos foram transferidos ontem por volta das 11h para um centro de triagem em Curitiba, de onde seriam posteriormente remanejados para unidades em suas cidades de origem. Outros oito presos aguardavam contato Vara de Execuções Penais com a Justiça de outros Estados para que sejam transferidos.
O comandante do 4º Batalhão da Polícia Militar (BPM), Chehade Elias Geha, não permitiu que a imprensa acompanhasse a descida dos presos.
Os primeiros internos foram transferidos logo após o término do motim
Familiares se revoltaram com a atitude e tentaram barrar a entrada de uma das viaturas no presídio. Houve confronto com a polícia e algumas mulheres disseram ter sido agredidas. Elas temiam que os policiais agridam os presos que ficarem no presídio, fato que foi contestado pela PM.
Início
A rebelião na Casa de Custódia foi iniciada por volta das 12h30 de segunda-feira, com cerca de 20 detentos que estavam na galeria 2, e se espalhou rapidamente. Presos do regime semiaberto e pertencentes a grupos evangélicos não aderiram ao movimento.
Os rebelados chegaram a hastear uma bandeira do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa conhecida pela atuação em presídios do Estado de São Paulo. Não houve confirmação se os amotinados tinham relação com a facção.
Os detentos reclamavam que eram constantemente agredidos e recebiam comida "azeda". A Justiça vai analisar as denúncias de maus tratos e de má alimentação na penitenciária. Também cobravam mais agilidade nos processos de pedido de liberdade na Justiça em Maringá.
A rebelião terminou com um ferido. Trata-se de um interno que tentou fugir da CCM , durante o motim. Ele levou um tiro no ombro, foi internado e passa bem.
Mais remoções
A assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Justiça, Cidadania e dos Direitos Humanos informou que nos próximos dias haverá o remanejamento de mais presos para outras unidades, de acordo com um levantamento que está sendo realizado. "Temos mais de 100 presos do regime semiaberto que poderão deixar a Casa de Custódia de Maringá agora", afirma o diretor do Departamento Penitenciário, Maurício Kuehne. A CCM tem capacidade para 500 presos, mas abrigava quase 900.