domingo, 23 de outubro de 2011

Momentos mornos.


Insônia é algo que não faz mais parte do meu cotidiano. Queria poder tomar um café preto, amargo, degustar de bons momentos de reflexão, à luz da falta de sono, olhos estalados, corpo febril, mas os remédios me impedem...

A vida nos reserva momentos intermediários de sentimentos. Nem de tristeza absoluta, nem felicidade extrema. São intervalos, hiatos que beiram o tédio, e geram inconformismo. São situações perigosas, principalmente para quem é alimentado por uma instabilidade descomunal. Mudar de ares me fez cair num ostracismo que há tempos não era sentido, remetendo a minha acanhada adolescência, onde conflitavam hormônios com a depressão.

A minha imensa parte que vive a me corromper por popularidade, agora, destoa totalmente daquilo que vivo: um sem-fim de expectativas murchas.

Neste exato momento estou me questionando o porquê de correr atrás de um carro em movimento, tal qual um cão que o persegue com afinco, de ofício. Continuo a correr sem parar, cada vez mais, esperando que ele não pare, evitando assim uma tomada de atitude.

Estou numa fase longa, sufocada por poderosos remédios que limitam a minha criatividade e influenciam diretamente as minhas tomadas de decisão. Não é melancólico, mas há tempos meus olhos não brilham por mais de dias seguidos – continuidade, seqüência.

Peguei-me, no meio de um raciocínio, durante a resolução de um problema matemático, me questionando o porquê de resolvê-lo. Achei a solução para a equação, para meu desespero total. Noutros tempos, apenas encontrar a solução seria o ápice, independente do objetivo fim.

Estou estranho, é verdade, preciso parar de me esconder atrás de metáforas e voltar a ser eu mesmo, que tanto trabalho me dá, contudo me rende ótimas experiências de vida e bons textos.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Pragas urbanas.

Pós rebelião, estávamos todos reunidos, nós – os agentes, e os presos responsáveis pela limpeza do local. Um dia atípico, os sinais da destruição estavam por todas as partes: paredes quebradas, grades entortadas, colchões queimados e uma sensação de impotência reinava sobre nossas intenções. Eu, recém transferido, ainda me confundia nos caminhos da imensa construção, mal tive tempo de memorizar as saídas. Embora tentando fugir do senso-comum, não conseguia assimilar o duro golpe dado no aparato estatal, continuava procurando respostas e acalento.

Durante a limpeza, muito entulho sobre os corredores, proporcionou o aparecimento de ratos. Eram muitos, de todos os tamanhos, espécies. Dado certo momento, o nosso cruzamento era inevitável e foi o que aconteceu. Enquanto observava um preso remover os entulhos, avistei um enorme rato vindo em minha direção, completamente desesperado e sem ter por onde desviar. Por um instante, os presos voltaram a sua atenção para o rato desesperado e, conseqüentemente qual reação seria a minha. Noutra ocasião, talvez apenas me esquivasse do animal, deixando-o seguir, mas minha atitude, devido à platéia, deveria ser mais enérgica.

Desferi, ainda sem jeito, um chute que o acertou em cheio, contudo ele se recompôs e continuou a vir na minha direção; desta vez com mais força, o rebati contra a parede, atordoado, ficou estático. Foi o tempo de um preso pegar um tênis que estava perdido no meio da sujeira e desferir violentos golpes, vários, mesmo enquanto já parecia certa a morte. O rato, vencido, já morto, deixou um lastro proporcional de sangue, ainda sentia o ódio e espírito assassino do preso, que só parou de bater quando o animal parou de estremecer. Rindo, teceu o seguinte comentário: “...mais uma alma para o além”.

Preciso rever meus conceitos sobre direitos humanos.