quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Pragas urbanas.

Pós rebelião, estávamos todos reunidos, nós – os agentes, e os presos responsáveis pela limpeza do local. Um dia atípico, os sinais da destruição estavam por todas as partes: paredes quebradas, grades entortadas, colchões queimados e uma sensação de impotência reinava sobre nossas intenções. Eu, recém transferido, ainda me confundia nos caminhos da imensa construção, mal tive tempo de memorizar as saídas. Embora tentando fugir do senso-comum, não conseguia assimilar o duro golpe dado no aparato estatal, continuava procurando respostas e acalento.

Durante a limpeza, muito entulho sobre os corredores, proporcionou o aparecimento de ratos. Eram muitos, de todos os tamanhos, espécies. Dado certo momento, o nosso cruzamento era inevitável e foi o que aconteceu. Enquanto observava um preso remover os entulhos, avistei um enorme rato vindo em minha direção, completamente desesperado e sem ter por onde desviar. Por um instante, os presos voltaram a sua atenção para o rato desesperado e, conseqüentemente qual reação seria a minha. Noutra ocasião, talvez apenas me esquivasse do animal, deixando-o seguir, mas minha atitude, devido à platéia, deveria ser mais enérgica.

Desferi, ainda sem jeito, um chute que o acertou em cheio, contudo ele se recompôs e continuou a vir na minha direção; desta vez com mais força, o rebati contra a parede, atordoado, ficou estático. Foi o tempo de um preso pegar um tênis que estava perdido no meio da sujeira e desferir violentos golpes, vários, mesmo enquanto já parecia certa a morte. O rato, vencido, já morto, deixou um lastro proporcional de sangue, ainda sentia o ódio e espírito assassino do preso, que só parou de bater quando o animal parou de estremecer. Rindo, teceu o seguinte comentário: “...mais uma alma para o além”.

Preciso rever meus conceitos sobre direitos humanos.

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