Quando eu era criança, meados de
1987/88, um dos meus passatempos favoritos era correr arás do “caminhão da
dengue”. Estudava pela tarde -
nosso uniforme era um short semelhante ao da adidas, azul gritante, de
brim, resistente, aberto nas laterais, bem curto. Característico da moda oitentista.
O caminho da escola até minha casa, era
relativamente curto, durava em torno de quinze, talvez vinte minutos. Voltávamos aos bandos. As meninas voltavam com
familiares; nós, nos divertindo. Pisando em cascas de sementes “crocantes”;
jogando coquinho uns nos outros; pegando acerola alheia entre outros, quebrando
tijolos e jogando mamona nas costas dos colegas.
Chegava em casa, tomava meu
banho, apresentava o caderno com as tarefas do dia, todas executadas e ia
brincar na rua até o anoitecer, este era o limite. Havia um dia da semana na
qual a extinta SUCEN de Presidente Prudente (Superintendência de controle de
endemias) disponibilizava uma potente D20, adaptada com um equipamento que
vaporizava um potente inseticida que, na teoria, eliminava os mosquitos da
dengue.
Era moleque, adorava desenhar,
sempre fui elogiado pela criatividade com o giz de cera. Sempre ilustrava bem o
vetor da dengue. Tínhamos exaustivas aulas de ciências sobre esta endemia;
detalhes da transmissão, prevenção e tratamento. Era massificado.
Mas o que me divertia era fechar
todas as janelas, cortinas, colocar um lenço no rosto, tal qual um herói do
bang bang e correr atrás do caminhão. Era um barulho ensurdecedor, ele trafegava
lentamente e, por onde passava, deixava seu rastro de fumaça; a salvação da
humanidade.
Dias atrás acordei com
estridentes palmas. Achei que era alguma entrega do serviço de correios, era
cedo, aproximadamente nove horas. Havia trabalhado no dia anterior, caso não
estivesse esperando alguma encomenda, mal me daria o trabalho de me levantar.
Era uma jovem simpática, se identificou como agente de saúde e disse que
precisava vistoriar a minha residência. Prontamente me recompus, pus uma roupa,
abri o portão. Observei atentamente o crachá de identificação e a deixei
entrar. Logo de início, me perguntou se cultivava vasos de plantas, aquários ou
qualquer prática que fosse propícia à proliferação do vetor da dengue. Disse
que não. Logo, pelo meu perfil, simplificou a visita e me disse: - “Onde fica a
dispensa?”. Achei estranho e a questionei. Ela disse que porque o controle
formal era feito num catálogo que era preenchido e deixado neste local. Levei-a
ao local e carimbou o cartão e fez anotações. Depois disso, olhou para mim e
disse um texto padrão, destes bem decorados, no qual fez perguntas para mim,
questionando se eu apresentava algum dos sintomas; talvez uns quinze, da
dengue. Eu disse que não, pois os conhecia. Ela acabou me confessando que, foi intimada
a visitar todas as residências num raio de trezentos metros da minha, pois
haviam diagnosticado um caso de dengue hemorrágica neste período.
Confesso que fiquei assustado,
pois, me lembro bem dos sintomas, causas e efeitos desta moléstia. Aprendi na
escola; escola pública. Abri o portão e fiquei receoso.
Passaram-se quase trinta anos e
ainda este mosquito assola a nossa população. Não consigo entender, pois, no
meu caso, foram necessários APENAS uns meses para entender o perigo disto. Na minha educação eu descobri que existem dois
tipos de “pedagogias”. A de instrução formal e a de “punição”. Se uma não
funciona, se faz necessário utilizar-se da outra. Já é hora de colocar em
prática a segunda opção.
Fabiano Pereira é aspirante a escritor; teve infância, porém não
adolescência; oitentista, sofre de
neofobia; Lê e faz amigos indiscriminadamente; tem problemas com a balança, mas
segundo consta, é feliz.