Deveria ter sido comigo; não
tivemos culpa, eu não tive, taoquanto eles, mas a sensação de impotência
naquele momento somado a empatia que sinto pelos colegas de trabalho, me
condenou. Os gritos, as imagens, as faces de desespero, o barulho, a confusão...A
incredulidade. Ninguém imaginava que isso ocorreria da forma como ocorreu,
todos se precaveram, todos se ajudaram, foi feito o possível, esforço sobre
humano sob o que tínhamos; mas minha consciência não absorve este alento.
Sempre me mantive frio; uma
das características que aprimorei ao longo dos anos, principalmente em tempos
de crise, mas não estava preparado para isso. Era teoria pura, era o “se”; a
prática desconstrói conceitos. Aconteceu. Ver meus amigos reféns foi a pior
estocada que levei no peito; latejou tanto que inflamou, estava virando um
câncer.
Pensei nas esposas dos meus
amigos vendo pela televisão as notícias, tentando ligar para o trabalho e não
obtendo respostas; pensei nelas tentando explicar o que havia acontecido para
os seus filhos. Comigo seria menos pior, tenho uma família solida, que confia
em mim. Sou frio, mantenho a calma em situações adversas, tenho certeza que
sairia íntegro e não teria que dizer, depois de tudo, que precisava voltar ao
trabalho, pois é o que me sustenta. Tenho menos a perder, é triste mas tenho.
Confesso que descobri uma
vulnerabilidade na minha personalidade: ameaçar as pessoas nas quais eu gosto.
Peço água logo, entrego tudo o que tenho no momento; não tenho argumentos
enquanto estão cortanto a minha própria carne e eu não posso reverter a
situação. Da próxima vez (sim haverão), sei como me comportar, empiricamente.
PS.: Não mexa com meus colegas
de trabalho, ok?
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