quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Espelho

 


Há tempos tento evitar me olhar no espelho: são tantas mudanças, cabelo que branqueia, cabelo que cai, olheiras que se reforçam, barba desgrenhada. Hoje ouvi de uma colega que estou com cara de mal; de imediato me surpreendi e fiz como o Coringa em "why you so serius". Percebi que tinha razão. Mas não saberia interpretar se a feição é de fúria, tristeza, melancolia, raiva ou outro sentimento. 

Respeitei, colega de longa data, mulher e há tempos não nos víamos. Portanto ela tinha razão.

Neste mesmo dia, no final do plantão, um preso do qual eu não tenho contato veio me perguntar se eu estava triste, cabisbaixo, não recordo bem a palavra, mas me disse frases biblicas, pegou na minha mão de forma fraternal; conseguiu arrancar um sorriso de mim, um mínimo de entusiasmo. Por incrível que pareça não me senti invadido, tive a absurda sensação da porra de um acolhimento de um preso. Algo improvável, inaceitável na minha cabeça. 

Fato é que me deu um nó na cabeça este plantão. Não sei mais com que cara estou, qual usar, qual me cabe; apenas vou colocando.