sábado, 17 de abril de 2010

Why so serius I.




A causa é totalmente desconhecida, não há um ignitor para desencadeá-la. Inexiste fato ou motivo para que os primeiros sintomas ocorram. A expressão “do nada” encaixa-se perfeitamente para definir seu início.

Os sintomas iniciais são imperceptíveis; pequenas alterações na rotina, sendo a primeira, o simples ato de procrastinar – deixar para depois o que poderia ser feito agora. Tal fato, resulta num aumento considerável do tempo ocioso, o que acaba por alimentar o círculo vicioso. A feição muda, sorrisos são menos recorrentes e o que impera são os bocejos. A melhor companhia parece ser a solidão, qualquer que manifeste sentimento diferente, gera repulsa. Fala-se menos neste período. O afastamento do convício social é inevitável, vem de forma gradual com recusa de convites, não retorno de ligações e o isolamento.

A aparência física é deixada em segundo plano. A barba cresce à revelia, fazendo jus aos cabelos irregulares. A perca de peso é iminente - tarefas incipientes como comer, torna-se um martírio. Geralmente a opção é para comidas prontas, de baixo valor nutritivo.

Logo as alterações passam a serem visíveis e influir diretamente para o agravamento a situação. A acumulação de tarefas gera uma sobrecarga de responsabilidade e a sua não-realização desencadeia frustração. Faz-se tudo por obrigação e apenas o suficiente; quando não, aquém do esperado. Questionamentos são comuns nesta fase, porém nada é colocado em prática.

O relógio torna-se um considerável algoz; as cobranças internas martirizam o já combalido corpo, que como resposta entra em colapso. A sua única defesa é o sono. Dorme-se a qualquer momento, até mesmo depois de acordar de uma longa noite de sono. Dormir, a defesa involuntária encontrada, agora para a ser vista como fuga. Fugir para não enfrentar, pois os combates são sempre esquivados.

Não há mais rotina e o senso de responsabilidade é devorado pelas fugas. Já não há mais fontes internas de satisfação e para supri-las é necessário algo que deturpe a realidade. A obscuridade toma conta dos pensamentos. Sentir-se inferior, reduzido, excluído fomenta ainda mais a sensação. Nesta fase o processo torna irreversível: o efeito “rebote” das fugas cai como uma luva para a depressão.


(Continua...)




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