Sorveu lentamente até a
minha última gota de felicidade; tornei-me cabisbaixo, fechado, sem expressão e
confiança – matou-me sem assumir a autoria. Estou seco, ao avesso, com escaras
expostas na minha psique; prostrado e com a pior das sensações na alma: A dor
que não se sente, se vive.
Vivo sua vida, respiro
sua rotina, me apego a migalhas das mensagens que raramente dispensa a mim;
leio, releio, interpreto, fantasio e faço alusões; travo batalhas. Tiro conclusões precipitadas; amo-te com a maior das forças existes, ora te culpo, ora
resigno à minha insignificância, aumentando minha baixo-estima.
Tento ignorar, excluir,
não me aproximar, mas é um vício, um carma, uma doença. É obsessão pela dor,
pelo sofrimento. Sentir dor é sentir-se vivo.
Eu era forte,
autoconfiante, às vezes soberbo, mas era fruto das calcificações da vida e das
experiências. A vida nos torna assim quando chegamos ao limite: ou matamos ou
morremos, não há meio termo; é sobrevivência.
A intensidade resulta
nisso; prazer imediato e depois morte lenta; olho-me no espelho e vejo no
reflexo uma massa enorme de queratina, despenteada e desalinhada; um pouco
grisalha; reparo nos detalhes do rosto, tento me imaginar como eu seria se
tivesse auto controle; procuro por navalhas, tesouras, mas graças ao acaso não
as tenho.
Se teria coragem de me
cortar? Sim, imediatamente. As esterilizaria com álcool estéril – aqueles com
cheiro de hospital e arrancava cada pelo da minha cara e cabeça; com precisão,
firmeza e raiva.
Talvez utilizasse as
lâminas para arrancá-la como se fosse uma metástase que se tornara parte do meu
corpo e se alimenta da minha energia vital, levando-me ao colapso total.
Mas não teria coragem;
pois quero morrer disso e, se tudo der certo, assim o será.
- Mate-me, mulher.
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