quarta-feira, 3 de julho de 2019

Enjoy-se


Sorveu lentamente até a minha última gota de felicidade; tornei-me cabisbaixo, fechado, sem expressão e confiança – matou-me sem assumir a autoria. Estou seco, ao avesso, com escaras expostas na minha psique; prostrado e com a pior das sensações na alma: A dor que não se sente, se vive.

Vivo sua vida, respiro sua rotina, me apego a migalhas das mensagens que raramente dispensa a mim; leio, releio, interpreto, fantasio e faço alusões; travo batalhas. Tiro conclusões precipitadas; amo-te com a maior das forças existes, ora te culpo, ora resigno à minha insignificância, aumentando minha baixo-estima.

Tento ignorar, excluir, não me aproximar, mas é um vício, um carma, uma doença. É obsessão pela dor, pelo sofrimento. Sentir dor é sentir-se vivo.
Eu era forte, autoconfiante, às vezes soberbo, mas era fruto das calcificações da vida e das experiências. A vida nos torna assim quando chegamos ao limite: ou matamos ou morremos, não há meio termo; é sobrevivência.

A intensidade resulta nisso; prazer imediato e depois morte lenta; olho-me no espelho e vejo no reflexo uma massa enorme de queratina, despenteada e desalinhada; um pouco grisalha; reparo nos detalhes do rosto, tento me imaginar como eu seria se tivesse auto controle; procuro por navalhas, tesouras, mas graças ao acaso não as tenho.

Se teria coragem de me cortar? Sim, imediatamente. As esterilizaria com álcool estéril – aqueles com cheiro de hospital e arrancava cada pelo da minha cara e cabeça; com precisão, firmeza e raiva.
Talvez utilizasse as lâminas para arrancá-la como se fosse uma metástase que se tornara parte do meu corpo e se alimenta da minha energia vital, levando-me ao colapso total.

Mas não teria coragem; pois quero morrer disso e, se tudo der certo, assim o será. 
- Mate-me, mulher.

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