segunda-feira, 14 de março de 2011

Tsunami Hits.

Desde pequeno cresci sob a influência nipônica – meu melhor amigo era descendente, membro de uma grande família de japoneses, os Takakura, que vieram para o Brasil na década de 50. Passei minha adolescência a freqüentar aquela casa lotada de costumes estranhos, regada a muita tecnologia, comida insossa, cultura milenar e disciplina nos estudos. Nossa amizade era unida pela curiosidade; ele ficava admirado de como éramos capazes de nos divertimos tanto em tão pouco espaço de tempo e nós admirados com aquele universo deles que não era aproveitado da forma como nós aproveitaríamos.

Foram aproximadamente dez anos de convivência a fio, amizade de moleque, de jogar bola no parque, de ir para escola juntos, de um tempo que não volta mais. O tempo passou, comecei a trabalhar aos dezenove anos, ele foi embora para o Japão seguir o rumo de muitos decasséguis, que tentam acumular dinheiro trabalhando até quinze horas por dia. Perdemos contato, nos distanciamos, mas há dois anos nos encontramos nas redes sociais e soube que retornara ao Brasil.

Atualmente estava me sentindo constrangido em viver, mesmo sendo um cidadão comum, insignificante dentre tantos, que paga seus impostos honestamente, que não tem entraves na justiça, enfim que cumpre fielmente com todas as suas obrigações cívicas.

O simples ato de ir ao supermercado fazer suas compras, depois embalá-las com inocentes sacolas plásticas pode ser motivo para alarmar a população de um possível colapso no sistema de aterro de lixo. Voltar de carro do supermercado trata-se de um pecado sem tamanho, ainda mais quando seu veículo for alimentado com gasolina e tiver um motor potente capaz de consumir muita gasolina. A queima de combustível libera gases tóxicos que aumentam o efeito estufa que acabam aumentando o nível dos mares, aumentando assim as precipitações de maremotos, temporais, furacões.

Até o meu elevado consumo de carne acarreta danos à natureza; quanto maior o consumo, maior o numero de áreas plantadas, em contrapartida maior o desmatamento para pastagens, maiores queimadas. Chegar em casa, tomar um banho para relaxar me faz lembrar dos mananciais que estão sendo sacrificados pelo meu pequeno afago de uns minutos.

Não somos somente culpados por fenômenos naturais, somos culpados pelos sociais, tais como a miséria, esta sim se a causa não foi ocasionada por nós, mas o efeito sem dúvida poderia ser evitado se não fosse o nosso olhar egoísta, indiferente. A violência crescente que só nos damos ao trabalho de nos chocarmos apenas. Ficamos boquiabertos, nos revoltamos por um instante depois nos trancamos nos condomínios e dormimos tranqüilos.

As cenas foram daqueles filmes de terror antigos japoneses, que tinham efeitos especiais grotescos, feitos com isopor e explosões com faíscas pequenas e inundações em cidades de brinquedo. Desta vez era realidade, nada de efeitos especiais, destruição total, devastação, terror, mortes, desolação, catástrofe e palavra que define todo este pensamento: tragédia.

Não só o povo japonês está sofrendo, o mundo todo sofre com esta nação que nasceu para se reconstruir, eles estavam preparados, acreditem. Estavam preparados para morrer e não receberam com tanta surpresa o terremoto e posteriormente as ondas. Nós sim estamos surpresos, estamos pasmos porque o primeiro ministro se pronunciou e não elegeu nenhum culpado. Aqui no deslizamento no Rio de Janeiro os políticos elegeram as chuvas, nunca seriam eles por não retirarem as pessoas das encostas, obvio.

- Mas e aí Japonês, diz quem é o suspeito que a gente pega o malandro? Diria um delegado carioca.

Pois é, não há suspeito, não há culpado, não há sacola plástica para exorcizarmos, desta vez estamos livres, enfim não somos culpados de uma tragédia, deste genocídio. Somos inocentes desta atrocidade. Minha avó diria se tratar do final dos tempos, já eu acredito ser um ciclo natural apenas, como tantos outros que o planeta sofreu nestes quatro bilhões de anos.

Eu estou com a minha consciência tranqüila. Ainda acompanho as notícias com muita atenção e desconsolo, sinto as dores das pessoas, pois ainda tenho boas lembranças desta cultura rica e educada, posso, enfim fazer minhas compras tranqüilo no supermercado sem ser acusado de crime contra a humanidade.

3 comentários:

  1. Meu caro,
    Se todos pensassem como VOCÊ, esse mundo seria bem melhor.
    Políticos brasileiros, cabada de hipócrita!

    Força para os Japoneses!

    Paula

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  2. Penso que se UMA PARTE, uma pequena parte dos seres humanos, tivesse a noção que sua mente bem conduzida tivesse, ah meu camaarada, o mundo em sí, estava indo de melhor à melhor!
    Parabéns pelo seu texto que chama à realidade e consciencia da vida.

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  3. Direto como sempre!!!!! Parabéns!!!

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