domingo, 16 de maio de 2010

Keep walking.



Esta noite tive um pesadelo que me fez acordar ofegante, assustado. Há tempos não tinha tantos sonhos que traduziam exatamente aquilo que estava se passando comigo. Meus sonhos tornaram-se extensões da minha realidade; ora promissores, ora assustadores. Nada de naves espaciais, conversas com desconhecidos, situações surreais, apenas situações cotidianas, com pessoas próximas.

Não me recordo ao certo onde estava, mas era noite, eu estava alegre, mas ao mesmo tempo confuso. A sensação que tinha era de que eu estava a me observar, entretanto, não conseguia interferir nas minhas atitudes, tal qual um sonho qualquer.

Para meu desespero eu estava com um copo de cerveja na mão e o levei até a boca. Senti o gosto forte da bebida e, aos poucos, o torpor e a euforia causada pelo álcool foram tomando conta de mim. Junto com a euforia veio o arrependimento, o desespero por estar sóbrio há muito tempo e ter cedido. Pelo que pude inferir de toda a situação, apesar da aparente felicidade, eu não desejava beber, devido a uma série de acontecimentos, mesmo assim não relutei. Eu cedi no sonho, como sempre fiz na realidade.

Certa vez um psiquiatra me disse que a fonte de todos os meus problemas era não ter problemas. Não me lembro de ter dado muita importância a este comentário aparentemente sem nexo. Sempre quis ter uma vida dramática - o normal me causava insatisfação - queria sofrimento, problemas para resolver, amores impossíveis, brigas sem fim, tensão, agonia. Quanto não os tinha, eu criava da melhor (pior?) forma possível. O porquê de maximizar as situações difíceis eu não sei, mas seria algo relacionado à valorização das conquistas. Quanto maior a dificuldade, maior a sensação de conquista.

Chegando sempre a extremos, transformava tudo num trem desgovernado, sem controle algum, até bater de frente com o muro da realidade. Depois ficava um tempo à deriva, até me recuperar, readaptar e iniciar o ciclo novamente.

Com os resultados cada vez mais catastróficos, fui tentado a parar, evitando assim, interromper ciclo por motivo de força maior. Trocando em miúdos, eu parei com o álcool. Fiz, ouvi, falei tantas coisas que cheguei à conclusão de que realmente não tenho controle algum sobre meus atos depois de embriagado.

Beirava o absurdo; a cada dia eu perdia mais amigos, neurônios, dinheiro, aumentava o leque de inimizades, moléstias físicas, relacionamentos perdidos e tempo. Interessante é que ninguém me forçou a nada. Há tempos não tinha um sentimento tão incomum na minha vida: vergonha.

Como nunca consegui controlar os fatores que me levavam a ficar entorpecido em álcool, resolvi abstê-lo totalmente da minha vida. Socialmente, em pequenas doses, almoços, jantares, comemorações ou em qualquer situação. Como diria meus amigos mais próximos: ..era de se esperar, assim como também é esperado uma recaída. Não descarto hipótese alguma, mas desta vez, estou decidido a ficar sóbrio não o maior tempo possível, mas todo o tempo possível.

E quanto as recaídas, espero que sejam sempre em pesadelos.




2 comentários:

  1. Processo muitas vezes doloroso de dar conta de nossas próprias limitações, nossos mecanismos, funcionamento... mas é importante para o amadurecimento, e olha que muita gente não consegue... mas entendo ainda o quanto é difícil modificar comportamentos... parabéns!

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  2. De tempos em tempos eu sonho com comida. Ora é um buffet daqueles maravilhosos e meu prato é pequeno demais, ora são docinhos maravilhosos, bonitos, cheirosos, daqueles de casamento.
    Geralmente sonho esse tipo de coisa quando estou infeliz.
    Com o tempo entendi o quanto meu cérebro pedia, assim disfarçadamente, por pequenos e efêmeros prazeres.
    Não seria o caso?

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