Era uma conta simplória; bem incipiente para o nível das atividades que desempenho – era uma soma seqüencial: cela x, quantidade de presos x; cela x1, quantidade de presos x1; cela x2, quantidade de presos x2; até celas xn e quantidade de presos xn.
Inicialmente fiz o procedimento à moda antiga: contagem visual; procedimento cético, logo não havia probabilidade de erro formal, somente um descuido - o que era improvável - dado meu apetite por perfeição e minha síndrome de transtorno-obsessivo-compulsivo.
Ordenei que se enfileirassem lado a lado, olhei fixamente todos, contei um a um e anotei o número da cela e a quantidade. Faltavam apenas quinze minutos para executar a tarefa, passar a limpo, assinar e entregar ao relator, mas seu não conseguia fazer as somas simples, não batiam – tentava por pares (quantidades iguais primeiro), mas sempre faltava um; tentei um a um então – infelizmente o silêncio nunca imperava – logo perdia a concentração, mas o erro persistia.
Estava tudo certo, conferido visualmente, estavam todos lá, ninguém havia fugido, menos eu. Estava ausente, longe, disperso procurando achar razão naquelas contas, relacioná-las com algo que fizesse sentido na minha vida, que não apenas entregar o serviço. Meu trabalho é minha fuga.
O tempo acabou, entreguei-as para a conferência e as contas não bateram. Faltou um apenas. Um, somente. Todos nós sabíamos que estava tudo certo, nunca dei margem para erros gritantes, mas havia uma divergência e ela estava no raciocínio e não no conteúdo. Havia visualizado todos, colocados no papel, mas a soma final na batia.
- Calma Fabiano, estamos aqui para resolver isto. Ouvi de um afável colega, responsável pela conferência.
- Estava certo, eu disse, só precisava de mais tempo, talvez mais uns cinco anos de terapia. Ele não deve ter entendido, obvio.
Corrigi, passei a limpo apenas, assinei, vi a escala do plantão seguinte, cumprimentei “por cima” os colegas do outro turno e parti.
Dirigi meu velho e fiel carro por osmose, calmamente; mantendo-me nos cem quilômetros horários de média, na faixa da direita, sem me preocupar com o fluxo do horário de rush. Sempre atento ao retrovisor, mas não por prudência, apenas a mesma mania de olhar sempre para trás em todos os sentidos. O trajeto do trabalho para casa é retilíneo, por uma movimentada rodovia; por um instante tive vontade de dar uma guinada, de parar no meio do caminho ou até mesmo de voltar.
Admito que estou perdido num caminho reto, se é que isso é possível de acontecer. Não estou conseguindo parar para pensar em tudo o que está acontecendo, estou apenas fazendo. Eu faço e pronto. Eu vejo e tento somar, as contas estão certas, mas o raciocínio não, eu me perco em alguma linha e não sei qual é.
Está tudo certo, mas alguma coisa não quer bater na minha vida.
1 é ímpar, e 2 é PAR... talvez os pares não estão batendo!
ResponderExcluirMas 2010 é ano PAR... quem sabe?!?
Bjs
:-)
O que te falta é o que voce tem à mais: BRILHO; muito brilho poeta das coisas; poeta de Deus! Ah cara, dane-se sou tua admiradora!Aff vai escrever tantas emoções assim lá prá cima cara, lá pra cima.Que viajem........
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