sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Mens Sana Corpore Insano.




De volta às origens novamente. Saí sedento por um pedaço de carne qualquer. Estava faminto, seco por dentro e completamente obstinado por um objetivo: Saciar a minha gula, minha fome - instinto animal ao extremo. Nunca me senti tão humano quanto agora. As necessidades fisiológicas, algo simples que passam despercebidos em tempos de bonança. Não via nada a um palmo de distância. Olfato aguçado, porém com visão turva de fome. Confusão mental oscilando com momentos de sanidade.

Eu queria, eu precisava. Eu quero, eu preciso. Quero, preciso. Logo faço, custe o que custar, ou melhor, custe quem custar! Dentro de poucas possibilidades me foquei em apenas uma.

Parecia um alvo fácil. Mas relutei; não poderia errar, pois meu ego não admitiria um erro. O bote foi armado meticulosamente. Meus olhos brilhavam, eu salivava. Ria por dentro, apesar da tensão que me cercava. Eu me guiava pelas linhas tênues da insanidade e pelas curvas sinuosas da ansiedade. Era chegado o momento do encontro. Seria fatal para uma das partes. Impossível dois vencedores, inadmissível dois perdedores. Entre mim e ti, acolho a mim. Perdoe-me; é a lei da vida. A lei da natureza. É vil, revoltante em certos casos, é violento na maioria das vezes. Mas é natural. Nada podemos fazer, apenas seguir o fluxo natural da vida. Os porquês ficam de lado.

A batalha está travada. Você não tem argumentos e de forma alguma tentará me questionar. Se tentar será tarde, estarei com os dentes cravados no seu pescoço, tremendo, com a pulsação acelerada, ofegante. Sentirá o quão fraca é diante das leis da natureza, da minha necessidade.

Terá sorte se sair com vida, quanto mais duro for o embate, maior será minha sede de vitoria, minha gana, minha gula. Não é a primeira vez, dada experiências anteriores e do alto dos meus vinte e nove anos, que não me permitiriam errar. De repente o que era necessário virou fatal. Pobre de ti, não sinto pena, não sinto absolutamente nada racional. Reaja, não se entregue, lute, debata, mas não implore por nada, não peça – faça!

Tudo em vão, enfim saciado. Desvencilhei lentamente minhas presas de sua carne. Você, combalida, sensível, arrepiada e sem reação. Eu satisfeito, saciado, quieto, feliz por dentro.

Tudo volta ao normal; a pulsação, os olhares, a respiração. Sinto a vida fluir novamente por minhas veias. O gosto suculento da avidez por carne. Afasto-me. Sinto um misto de culpa com necessidade. E é o que me salva dos meus pecados - A necessidade.

Talvez nos veremos novamente, talvez não. Dependerá da minha fome.

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