quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Pode sim.




- May i help you? Era o que eu ouvia quando apertava incessantemente o único botão que não era fake do celular de brinquedo - que vendeu muito pelas feiras-livres no começo dos anos noventae, ouvia repetidas vezes esta maldita frase.

No começo confesso que era quase impossível decifrá-la - dado meus ínfimos conhecimentos de língua inglesa e a péssima pronúncia robotizada do aparelho, mas com o tempo fui me concentrando e decifrando cada palavra.

O que será que este maldito está tentando dizer? -“laila viu”; era tudo o que eu entendia. -“laila viu”, mas que diabos é esse “laila viu”, será que é alô em chinês? - Pensava. Destruí vários na parede, mas até hoje eu não decifrei as primeiras frases, mas sei que o final era realmente este: Posso ajudá-lo?

- May i help you?

As vésperas de viajar, ao longo de um dia cansativo fisicamente de trabalho, após efetuar minhas tarefas cotidianas, vagueava de posto em posto de trabalho, esperando acabar o plantão.

Uns falavam sobre motores de barcos e as suas funcionalidades – as melhores marcas, potências, custo benefícios; não me senti muito a par do assunto, fiquei pouco tempo e me desvencilhei das histórias de pescadores. Então segui em frente, até me deparar com o grupo dos especialistas em futebol. Eu era bom nisso quando era mais jovem, já hoje, não sei escalar metade do meu time do coração. Fiz comentários defasados e continuei a rodar. Encontrei com o grupo dos casados aventureiros – destas histórias eu estava cheio, no começo é divertido, mas a partir do momento em que os desfechos se repetem, fica redundante tecer qualquer comentário.

Por um instante - senão por toda a minha vida - não me vi ligado a nenhum grupo especificamente. E puxando pela memória, realmente não fiz parte de grupo algum durante toda a minha vida.

Não me sinto excluído por este detalhe, pelo contrário, eu me vejo interagindo com todos. Entro e saio a qualquer momento; seja por afinidade, necessidade, oportunidade, instabilidade ou amizade; no meu trabalho, na minha vida sentimental, social, faculdade e até da minha família.

O meu, sem dúvida, é um grupo com uma pessoa só: transparente, amorfo, mas com conteúdo, seja ele qual for. Tenho que parar de admitir que preciso de ajuda, pois estou ciente há muito tempo, está ficando constrangedor para mim mesmo, até porque ninguém percebe, só eu. Sempre soube o que, quem e onde (não) procurar; o que eu inverto é a seqüência, ou pulo etapas, ou não dou prosseguimento ou simplesmente vivo.

De qualquer forma, um feliz natal a todos os grupos, inclusive o meu. Seja lá qual for.

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