sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Feliz 2010.




Logo na primeira semana de 2010, ainda atordoado pela languidez financeira do ano que se passara, dirigi-me ao caixa eletrônico do meu banco - apesar de não ter gasto nem um quarto de todo dinheiro que havia retirado para as despesas do final de semana de réveillon, queria ter a sensação prazerosa, pelo menos por alguns breves dias, de ter o dinheiro em mãos e não ter algo imprescindível para usá-lo, obrigatoriamente, diga-se de passagem.

Antes de entrar ao caixa fui interpelado por um pedinte, que de forma brusca e inesperada estendeu a mão pedindo uma moeda quando saísse do caixa, depois e voltou ao seu estado de aparente necessidade, olhei apressadamente e fiz apenas um sinal afirmativo com a cabeça.

- Vamos ver... saco quanto? As faturas das despesas mensais ainda não chegaram, os impostos anuais também não. Pensava.

Saquei um valor para abastecer o carro, levá-lo para revisão e calculei uma provisão para comer fora a semana toda, pois não me restara muito tempo disponível nos primeiros dias do ano para fazer nada além de trabalhar, comer e dormir – isso tudo até cumprir a carga horária que estava devendo no trabalho, devido às despensas para viagens de final de ano.

Para minha surpresa, o caixa eletrônico liberou todo meu valor em notas de valor mínimo e mal couberam na minha carteira, devido à sua quantidade (e não ao valor). Enquanto ajeitava o dinheiro, sai calmamente e me deparei com o pedinte - olhou para mim com leve desespero e desacreditado, pois a maioria se esquiva de situações como esta, mas ainda assim estendeu a mão e pediu uma moeda. Lembrei-me que não ando com moedas, pois as guardo dentro de uma gaveta em casa e achei estranho o fato de alguem pedir moedas quando é impossível sacá-las num caixa eletrônico. Então apressadamente peguei umas notas, entreguei-lhe e disse, dirigindo-me para o meu carro:

- Só não vá beber pinga. Vá no boteco da esquina e tome umas boas doses de whiskey para começar bem o ano. Enfatizei.

Ele ficou surpreso com o meu pedido, franziu as sobrancelhas, segurou as notas e enquanto eu me preparava para entrar no carro ele retrucou:

- Não, imagina senhor, não vou beber não, eu não bebo. Disse num tom sério, segurando as notas.

Quando disse isso, eu estava com a chave na porta do carro, quase girando a fechadura; tirei-a, dei meia volta e, num golpe de agilidade, tomei o dinheiro da mão do andarilho, enquanto ainda contava. Ele se assustou e ficou atônito com a minha reação.

Eu também fiquei surpreso, foi tudo muito rápido e inesperado. Bastava ele pegar as notas, sorrir, desejar que Deus me abençoasse, dirigisse ao bar e se fartasse; era simples.

- Ma...ma...mas...Gaguejava, sem esboçar reação.

Obviamente eu me justifiquei enquanto guardava o dinheiro novamente.

- Já que não vai beber, devolva-me o dinheiro, porque eu estou te dando justamente para este propósito, pois se quisesse te ajudar a sair das ruas daqui não pediria aquilo. Além do quê, este dinheiro, não me fará falta hoje... Até mais senhor, boa sorte.

Foi de bom coração, assim como sempre faço, mas desta vez, neste novo ano, foi por um outro propósito, não tão politicamente correto quanto antes, mas sincero e eficaz. Não fiquei com uma grama de dor na consciência; peguei o dinheiro, juntei com tantas outras notas e segui para um restaurante bacana de um hotel de luxo aqui na minha cidade e me esbaldei.

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