sábado, 7 de fevereiro de 2009

A noite todos os gatos (não) são pardos...

Mais uma noite de trabalho ou menos uma noite? Quando se trabalha no período noturno, com contingente reduzido e não tem cota de produção a cumprir, sobra muito tempo para refletir. Trabalho num mundo de espertos: meus colegas de trabalho são os denominados gatunos profissionais; já os presos – que estão do outro lado, são os gatunos ocasionais; por opção, ambição ou qualquer outro motivo que justifique a sua presença naquele lugar; e, para finalizar os personagens da noite; os gatunos por natureza – nascidos no local e dotados de “rabos”.

O fenômeno da proliferação dos gatos é recente no meu local de trabalho. Alguns fatores contribuíram para o fato: a grande extensão das instalações, abundância de sobras de comida, alguns compartimentos de depósito sem janelas e, principalmente, a falta de cães no local.

Apesar uma grande fartura de restos de alimentos, estes gatos se alimentam quase que na sua totalidade de pequenos insetos, fato este que justifica o seu fraco desenvolvimento físico. São animais selvagens praticamente e evitam qualquer tipo de contato com os outros gatunos: tanto os profissionais quanto os ocasionais. Procriaram entre si, talvez justifique as pequenas ninhadas, sempre com poucos filhotes e, na sua maioria, deficientes.

Os gatunos profissionais são a segunda população do local em quantidade populacional, não obstante, somos a espécie dominante no local – tanto para os ocasionais quanto aos naturais. Nossa alimentação é diferenciada, não há insetos (pelo menos não os vemos) e somos responsáveis pelos gatunos ocasionais.

E os ocasionais são a maioria, algo em torno de vinte para um de nós e duzentos para um em relação aos gatos. Sua alimentação é mais do que o suficiente, isso resumiria tudo. Todos nós temos apenas algo em comum – não estamos lá por vontade própria: azar, sobrevivência e conseqüência, justificaria nosso encontro; não nesta ordem e não necessariamente as três para todos ou apenas uma para cada.

A maioria dos nossos contatos se faz silenciosamente; todos observando todos. O gatos temem a todos; nós, os ocasionais e estes, a nós. Passamos a noite nos observando. Os gatos, curiosos, ficam a se perguntar o porquê de os ocasionais não saírem das suas “casinhas”. Já nós, tentamos nos aproximar dos naturais numa tentativa de companhia na solitária e longa noite de trabalho. Os ocasionais tem mais exito ao se aproximarem dos gatos, usam (como sempre) de artifícios ardis, desta vez o fazem com restos de comida. Os gatos se aproximam, desconfiados, mas se sentem protegidos pelos vidros das celas.

Assim passamos noite após noite, todos nós, os gatunos do local. Para finalizar, os gatos morrem, os presos vão embora e nós ficamos cumprindo nossa “pena”...

Como me sinto? Cansado, fatigado pela rotina e com sono, sempre.





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