Aniversário, sem dúvida é a data mais nostálgica que existe; a mais inquisidora; mais dura e cruel de todas as comemorativas. Aniversário é meu algoz – serve para dizer com todas as letras aquilo que recuso a enxergar no meu espelho: a realidade.
Ninguém fica feliz em saber que ainda não alcançou aquilo que deseja ou saber que aquilo que se passou nunca mais voltará. Num dia qualquer, estes detalhes passariam despercebidos, mas visto que se trata de uma data marco, e que seu tempo vital está numa derrocada, acaba caindo como uma bomba na já mascarada percepção da realidade.
Não é trágico, rancoroso, frustrado, mas é real. A minha visão romântica da vida ficou guardada dentro da minha caixa de brinquedos, há muito tempo atrás e quando fazer aniversário era uma festa. A concepção que tenho disto difere de muitos que, com certeza, não têm a mesma opinião que a minha.
Confesso que demorei a aceitar esta realidade da vida: as cobranças. Deste a mais tenra idade somos cobrados - primeiro por nossos familiares, depois amigos e por fim, pela humanidade. Quando se satisfaz todas estas partes, vem a mais exigente: você! Era capaz de lidar com tudo: desde indiferença até com rancor, mas me sentia desarmado quando o assunto era eu mesmo. Não é difícil atingir metas pessoas, mas começa a ficar impossível atingi-las a partir do momento em que se mudam as metas repentinamente ou não se sabe o que quer realmente.
Estou deixando as unhas crescerem bem nestas semanas que antecedem meu próprio julgamento, mas confesso que depois de tanto tempo, resolvi ser benevolente comigo mesmo, por ora. Afinal estou às vésperas de completar trinta anos. Meus vinte anos que, em boa parte foram aproveitados ao máximo, mas pouco bem investidos. Esta sim seria a palavra/foco importante a me dedicar nos próximos onze anos: Investimento.
Aquela ladainha que antes não passava de aborrecimentos, agora passa a ser prioridade para os meus próximos aniversários. Numa meta a curto prazo, investimento sem risco, pretendo implementar este desejo/conceito antes de completar os trinta, ou seja, até dia oito de abril de 2010. É hora de planejar e cumprir. Ponto.
Ao contrário de que tudo indica, estou melhor do que nunca – este vai ser o aniversário mais consciente dos últimos anos. O mais real: sem paixões, mas com a família querida; sem cobranças mas com algumas metas. Sem dinheiro porém sem dividas; sem remédios mas com muitas soluções; sem paixões, contudo, sem paixões...
Achei outro maldito cabelo branco - completamente desprovido de melanina, este aniversário literalmente não quero passar em branco. Quero não enlouquecer até o ano que vem. Quer saber? Esquece as cobranças internas, esquece investimento, esquece tudo o que escrevi ou falei antes. Para tudo! Vou comemorar, encher a cara, comer bolo, ganhar belos presentes de mim mesmo, muito bem embrulhados em grandes caixas, comemorar cada cabelo branco que aparecer na minha cabeça! (depois decepá-los milimetricamente).
Nada como uma crise existencial de final de década para finalizar uma era em grande estilo. Tento ignorar o meu interior mas não consigo. O mundo é cruel, duro e competitivo - não há como mudar eu sei. Tento seguir as tendencias, sobreviver, mas é pouco para mim isso tudo. Sobreviver por sobreviver. Competir para que? Perder horas da minha vida fazendo planos para daqui a dez, vinte anos... E quando ao hoje? O que eu ganho atropelando as pessoas, ganhando sempre, morrendo ante a derrota?
O meu algoz se rende a mim no dia seguinte, quando eu, devidamente conformado com a idade, abro minha caixa de brinquedos e deixo todos os meus sonhos saírem novamente, juntamente com toda a esperança que nunca me abandonou.
"enquanto os convidados comemoram mais um ano de vida, o aniversariante lamenta menos um."
ResponderExcluirmillôr fernandes
parabéns!