terça-feira, 11 de agosto de 2009

Puro e sem gelo.



Só mais uma dose...uma por vez.

Encosto-me no balcão totalmente encharcado, agora sem paciência; olho aos que estão envolta de mim – todos sedentos, ansiosos por algo que os deixe eufórico ou apenas mate sua sede de não-sei-o-quê. Para mim é só mais uma dose; a sensação de embriagues me apetece, deixa-me alheio à mim mesmo, flutuando, surdo, eufórico por dentro e totalmente calado por fora.

Entre um gole e outro eu ficava mais suscetível ao mundo; mais permissivo comigo mesmo, passivo diante dos problemas e agressivo às responsabilidades.

O atendente me nota: preciso ser rápido, logo aponto para a garrafa! Não se ouve muita coisa, mas meu gesto é enfático, não necessitando de diálogo. Já não me importa muita coisa. Pouco me importa, se é que algo me importa.

Anestesia; esta seria a melhor definição para a sensação de embriagues. Anestesia física e mental. Sensação de torpor, chiado nos ouvidos, boca seca, dor de cabeça, ressaca, amnesia, indisposição; em contrapartida uma fuga. Uma, duas, três, quantas forem necessárias.

A última...da noite.

Noutro dia fico recluso. Tranco-me, fico acometido por arrependimentos; tentando me lembrar do acontecera na noite; procuro os meus pertences, verifico quanto sobrou de dinheiro; vejo os novos contatos no celular, tento lembrar quem são, o que são; logo desisto. Deleto todos, deleto tudo à medida que recupero a consciência.

Um banho quente, independente da temperatura é conveniente para me purificar; lavo-me como se quisesse me punir – com extrema aspereza, força e violência. Assim, sinto a sensação de culpa escorre pelo ralo, ir embora juntamente com tudo o que impregnou em mim na noite anterior.

Desligo tudo, deixo uma garrafa d´ água ao lado da cama; pego um livro, pego vários – leio as introduções, dedicatórias; tento ver algo de interessante na televisão, mas desisto; tento escrever, mas tudo o que consigo são títulos para os textos, que nunca vem. Calo qualquer objeto que possa atrapalhar este momento - tudo; televisão, computador, pessoas e o celular.

Prefiro deitar no travesseiro, fechar a janela e ficar a olhar para o teto branco. Um leve suspiro, outro mais prolongado. Relaxo, sinto que estou bem; tenho a agradável sensação de nada de ruim pode me acontecer. Sempre sobrevivo a tudo, a qualquer situação, independente da dor.

Sou acometido pela melancolia e, para não perder a sensação, procuro por uma trilha sonora adequada. Fones ajustados, música apropriada, em volume baixo. Pensamentos vem e vão à medida que as musicas começam e terminam; não me apego a nenhum/nenhuma. Deixo-os ir e vir; rio e choro.

De repente tudo volta ao seu curso normal - levanto da cama, escovo os dentes, ligo o telefone, entro na internet, abro a janela do apartamento, dou bom dia às pessoas e procuro por comida.

Já é quase noite; preciso parar de pensar...

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