quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Ano arroz.



Este foi meu ano arroz (depois das primeiras horas de 2010, concluo este pensamento).

2010.




2005, 2006, 2007, 2008, 2010.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Vai um OMEPRAZOL aí?




Há tempos não sentia a imunidade tão baixa, tanta dor física, mais especificamente esta no esôfago. Até então não sabia qual era a função deste órgão, hoje eu sei detalhes da sua anatomia e funcionamento. O que ocasionou isso? Uma boa dose de estresse, misturada com muita bebida alcoólica e uma musculatura lisa fatigada.

Pareço uma mulher grávida: fico com ânsias o tempo todo, salivando, soluçando e sentindo dores na região do esterno, não sinto fome e tenho dificuldade incrível para engolir até água, isto quando não sou acometido por ataques de asma e regurgitação.

Basicamente o que acontece é um bombardeio impiedoso de ácidos do estomago e sucos biliares no meu esôfago, o que ocasiona um ulcera. Estes, que deveriam ficar no estômago, retornam devido ao não fechamento da “válvula” do esôfago. O esôfago tem um revestimento fino, não resistindo aos “refluxos” de substâncias digestivas advindas do estômago.

Ano retrasado quase perdi a voz, devido à corrosão dos ácidos que afetavam as minhas cordas vocais. Há quem não reconheça a minha voz hoje, devido ao tratamento, voltei a falar sem fazer muito esforço. A minha culpa se resume nas doses cavalares de bebida, estresse, comer e deitar imediatamente, fazendo com que ocasione o tal refluxo gastro-esofágico.

Admito que abandonei o tratamento, mas não os novos hábitos recomendados pelo Dr. Mohamed. Abandonei comidas, pimenta, reduzi o chocolate, aboli alguns refrigerantes à base de cola e comprei um travesseiro triangular, mais conhecido como uma manta anti refluxo.

- E agora quem poderá me salvar? Seu nome é Omeprazol. Uma medicação miraculosa e cara, mas que reduz a acidez do estômago - para isso basta tomar uma dose em jejum. É um anti-ácido elevado a mil, por assim dizer. Segundo meu médico ele um inibidor da bomba de prótons, não sei o que significa, até porque sou péssimo em Química, mas sei que me faz bem. O tratamento clínico é longo e restritivo ao extremo e veio em péssima hora, péssima!
- Burb…burb…

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Ho ho ho.




Natal me remete a muito saudosismo e, por este motivo, quando voltar a Foz do Iguaçu, acredito que terei muito que escrever. Natal para quem não sabe, é aquela data Cristã, (que os judeus e os chineses aproveitam o feriado para ganhar dinheiro) na qual as pessoas se reúnem em volta de um objetivo comum: não, não é o nascimento de Jesus, mas sim o Peru!

O grande símbolo do Natal, sem dúvida nenhuma, é o consumismo. Nunca vi data mais apelativa, hipócrita e significante para as pessoas. Ao longo do ano, servimo-nos de ganância, intolerância, egoísmo - mas ao chegar o Natal, nos reunimos, juntamente com as pessoas que, na maioria das vezes, mal nos importamos o ano todo, e de uma maneira “mágica” (como na propaganda da Coca-Cola); tudo se resolve, consumindo, consumindo e consumindo.

Independente destes conceitos e da dor de cotovelo que estou sentindo das pessoas que realmente assemelham a essência do Natal; pensei numa inversão total: durante todo o ano, praticamos o espírito de Natal; nem precisa nos encher de presentes e se entupir de Peru; apenas a essência do Natal - e no dia vinte e cinco; chutamos o balde, a bunda gorda do Papai Noel, a mesa, o peru, os convidados e o caralho a quatro!

Soa mais coerente, porém acredito ser impraticável para muitos – talvez me inclua também, mas para os entusiastas do Natal em si – o que me excluo desde já – para estes sim, impraticáveis desde sempre.

Antes da ceia, vamos todos nós – ao redor do mundo – rezar pelas pessoas que tem fome, não tem trabalho, não tem teto; depois, sem o mínimo constrangimento, enfiar um pedaço suculento de carne na boca, tomar bastante vinho e depois dormir nas nossas camas secas, não atingidas pelos desastres naturais.

Viva esta magia do Natal, o verdadeiro espírito de felicidade que nos contagia e faz-nos sentir menos culpados pelos problemas do mundo, afinal de contas, é Natal!

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Pode sim.




- May i help you? Era o que eu ouvia quando apertava incessantemente o único botão que não era fake do celular de brinquedo - que vendeu muito pelas feiras-livres no começo dos anos noventae, ouvia repetidas vezes esta maldita frase.

No começo confesso que era quase impossível decifrá-la - dado meus ínfimos conhecimentos de língua inglesa e a péssima pronúncia robotizada do aparelho, mas com o tempo fui me concentrando e decifrando cada palavra.

O que será que este maldito está tentando dizer? -“laila viu”; era tudo o que eu entendia. -“laila viu”, mas que diabos é esse “laila viu”, será que é alô em chinês? - Pensava. Destruí vários na parede, mas até hoje eu não decifrei as primeiras frases, mas sei que o final era realmente este: Posso ajudá-lo?

- May i help you?

As vésperas de viajar, ao longo de um dia cansativo fisicamente de trabalho, após efetuar minhas tarefas cotidianas, vagueava de posto em posto de trabalho, esperando acabar o plantão.

Uns falavam sobre motores de barcos e as suas funcionalidades – as melhores marcas, potências, custo benefícios; não me senti muito a par do assunto, fiquei pouco tempo e me desvencilhei das histórias de pescadores. Então segui em frente, até me deparar com o grupo dos especialistas em futebol. Eu era bom nisso quando era mais jovem, já hoje, não sei escalar metade do meu time do coração. Fiz comentários defasados e continuei a rodar. Encontrei com o grupo dos casados aventureiros – destas histórias eu estava cheio, no começo é divertido, mas a partir do momento em que os desfechos se repetem, fica redundante tecer qualquer comentário.

Por um instante - senão por toda a minha vida - não me vi ligado a nenhum grupo especificamente. E puxando pela memória, realmente não fiz parte de grupo algum durante toda a minha vida.

Não me sinto excluído por este detalhe, pelo contrário, eu me vejo interagindo com todos. Entro e saio a qualquer momento; seja por afinidade, necessidade, oportunidade, instabilidade ou amizade; no meu trabalho, na minha vida sentimental, social, faculdade e até da minha família.

O meu, sem dúvida, é um grupo com uma pessoa só: transparente, amorfo, mas com conteúdo, seja ele qual for. Tenho que parar de admitir que preciso de ajuda, pois estou ciente há muito tempo, está ficando constrangedor para mim mesmo, até porque ninguém percebe, só eu. Sempre soube o que, quem e onde (não) procurar; o que eu inverto é a seqüência, ou pulo etapas, ou não dou prosseguimento ou simplesmente vivo.

De qualquer forma, um feliz natal a todos os grupos, inclusive o meu. Seja lá qual for.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

2+2



Era uma conta simplória; bem incipiente para o nível das atividades que desempenho – era uma soma seqüencial: cela x, quantidade de presos x; cela x1, quantidade de presos x1; cela x2, quantidade de presos x2; até celas xn e quantidade de presos xn.

Inicialmente fiz o procedimento à moda antiga: contagem visual; procedimento cético, logo não havia probabilidade de erro formal, somente um descuido - o que era improvável - dado meu apetite por perfeição e minha síndrome de transtorno-obsessivo-compulsivo.

Ordenei que se enfileirassem lado a lado, olhei fixamente todos, contei um a um e anotei o número da cela e a quantidade. Faltavam apenas quinze minutos para executar a tarefa, passar a limpo, assinar e entregar ao relator, mas seu não conseguia fazer as somas simples, não batiam – tentava por pares (quantidades iguais primeiro), mas sempre faltava um; tentei um a um então – infelizmente o silêncio nunca imperava – logo perdia a concentração, mas o erro persistia.

Estava tudo certo, conferido visualmente, estavam todos lá, ninguém havia fugido, menos eu. Estava ausente, longe, disperso procurando achar razão naquelas contas, relacioná-las com algo que fizesse sentido na minha vida, que não apenas entregar o serviço. Meu trabalho é minha fuga.

O tempo acabou, entreguei-as para a conferência e as contas não bateram. Faltou um apenas. Um, somente. Todos nós sabíamos que estava tudo certo, nunca dei margem para erros gritantes, mas havia uma divergência e ela estava no raciocínio e não no conteúdo. Havia visualizado todos, colocados no papel, mas a soma final na batia.

- Calma Fabiano, estamos aqui para resolver isto. Ouvi de um afável colega, responsável pela conferência.
- Estava certo, eu disse, só precisava de mais tempo, talvez mais uns cinco anos de terapia. Ele não deve ter entendido, obvio.

Corrigi, passei a limpo apenas, assinei, vi a escala do plantão seguinte, cumprimentei “por cima” os colegas do outro turno e parti.

Dirigi meu velho e fiel carro por osmose, calmamente; mantendo-me nos cem quilômetros horários de média, na faixa da direita, sem me preocupar com o fluxo do horário de rush. Sempre atento ao retrovisor, mas não por prudência, apenas a mesma mania de olhar sempre para trás em todos os sentidos. O trajeto do trabalho para casa é retilíneo, por uma movimentada rodovia; por um instante tive vontade de dar uma guinada, de parar no meio do caminho ou até mesmo de voltar.

Admito que estou perdido num caminho reto, se é que isso é possível de acontecer. Não estou conseguindo parar para pensar em tudo o que está acontecendo, estou apenas fazendo. Eu faço e pronto. Eu vejo e tento somar, as contas estão certas, mas o raciocínio não, eu me perco em alguma linha e não sei qual é.

Está tudo certo, mas alguma coisa não quer bater na minha vida.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Vontade de fazer nada e descançar depois.





Enfim o ócio. É incrível como consigo raciocinar melhor enquanto não estou fazendo absolutamente nada. Sei que meu pensamento é completamente incompatível com os dias atuais, onde as informações são recebidas, assimiladas e transformadas em decisões num curto espaço de tempo. O ócio é comprovadamente por mim, em minhas pesquisas particulares e experiências vividas como o comportamento mais produtivo do mundo.

Ócio mental; o momento em que seus pensamentos simplesmente tomam vida própria, procriam indiscriminadamente e até tomam decisão por si mesmos. Vem e vão sem compromisso algum, sem pressão – a esmo. Estou refletindo agora, apenas isso; agora tenho tempo suficiente para analisar tudo o que eu fiz e como isso me fazia falta.

O pragmatismo do dia-dia me impede de cometer desatinos e me deixa um tanto quanto formal e nada mais cruel do que eu me olhar no espelho e enxergar-me como o mais comum dos seres. Não que não o seja; mas esta auto-concepção me desanima em todos os sentidos.

Estou me sentindo aliviado de algo que não reconheço como problema – mas aliviado por não ter o com o que me preocupar momentaneamente, senão em deitar a cabeça no travesseiro, deixar meus pensamentos caminharem por si só. Era o que eu precisava. É passageiro, eu sei. Logo sentirei vontade de colocar em prática novamente tudo aquilo no qual perdi alguns dias refletindo e, enquanto não pô-los, a situação se inverte – o que era refúgio e soluções para a ser calvário e dor-de-cabeça.

Por enquanto estou me divertindo desritmicamente, com o compromisso de me preocupar apenas na hora em que eu bem entender.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Mens Sana Corpore Insano.




De volta às origens novamente. Saí sedento por um pedaço de carne qualquer. Estava faminto, seco por dentro e completamente obstinado por um objetivo: Saciar a minha gula, minha fome - instinto animal ao extremo. Nunca me senti tão humano quanto agora. As necessidades fisiológicas, algo simples que passam despercebidos em tempos de bonança. Não via nada a um palmo de distância. Olfato aguçado, porém com visão turva de fome. Confusão mental oscilando com momentos de sanidade.

Eu queria, eu precisava. Eu quero, eu preciso. Quero, preciso. Logo faço, custe o que custar, ou melhor, custe quem custar! Dentro de poucas possibilidades me foquei em apenas uma.

Parecia um alvo fácil. Mas relutei; não poderia errar, pois meu ego não admitiria um erro. O bote foi armado meticulosamente. Meus olhos brilhavam, eu salivava. Ria por dentro, apesar da tensão que me cercava. Eu me guiava pelas linhas tênues da insanidade e pelas curvas sinuosas da ansiedade. Era chegado o momento do encontro. Seria fatal para uma das partes. Impossível dois vencedores, inadmissível dois perdedores. Entre mim e ti, acolho a mim. Perdoe-me; é a lei da vida. A lei da natureza. É vil, revoltante em certos casos, é violento na maioria das vezes. Mas é natural. Nada podemos fazer, apenas seguir o fluxo natural da vida. Os porquês ficam de lado.

A batalha está travada. Você não tem argumentos e de forma alguma tentará me questionar. Se tentar será tarde, estarei com os dentes cravados no seu pescoço, tremendo, com a pulsação acelerada, ofegante. Sentirá o quão fraca é diante das leis da natureza, da minha necessidade.

Terá sorte se sair com vida, quanto mais duro for o embate, maior será minha sede de vitoria, minha gana, minha gula. Não é a primeira vez, dada experiências anteriores e do alto dos meus vinte e nove anos, que não me permitiriam errar. De repente o que era necessário virou fatal. Pobre de ti, não sinto pena, não sinto absolutamente nada racional. Reaja, não se entregue, lute, debata, mas não implore por nada, não peça – faça!

Tudo em vão, enfim saciado. Desvencilhei lentamente minhas presas de sua carne. Você, combalida, sensível, arrepiada e sem reação. Eu satisfeito, saciado, quieto, feliz por dentro.

Tudo volta ao normal; a pulsação, os olhares, a respiração. Sinto a vida fluir novamente por minhas veias. O gosto suculento da avidez por carne. Afasto-me. Sinto um misto de culpa com necessidade. E é o que me salva dos meus pecados - A necessidade.

Talvez nos veremos novamente, talvez não. Dependerá da minha fome.