Foi então que peguei uma garrafa de Porto e ficamos a namorar descompromissadamente. Wes Montgomery interpretava na guitarra, Insensatez de Vinícius de Moraes e Tom Jobim; - aumentei o volume do som, deixei os graves ecoarem por todos os cômodos vazios do apartamento e voltarem para os meus ouvidos para ali ficar. O tempo quente, nada acolhedor, empurrou-me para a vazia sala, fiquei ali, sentado por alguns minutos; alcancei uma das únicas taças que me restam – senão a última apropriada para degustar vinho e me servi.
Queria que estivesse aqui do meu lado, apenas a me observar, sem falar nada, como lhe é peculiar. Apenas me interpretando, pensando por mim – até que terceiro gole nos arrancasse o silêncio para substituí-lo por sorrisos.
Sinceramente não sei explicar o que eu sinto – se me pressionasse talvez diria o que quer ouvir; caso contrário ficaríamos a noite toda apenas imaginando - eu com os meus e você com os seus pensamentos - até que secássemos a garrafa toda e, como era de se esperar, terminasse entrelaçada aos meus braços.
- Acabou...?
- O vinho sim...Responderia-me sorrindo.
- E o que tivemos?
- (…)
Eu, sempre com as perguntas prontas, e você com todas as respostas, sempre me surpreendendo. Tento me desvencilhar, mas tudo me leva às saudades: desde o silêncio da minha vida até o ruído das suas estridentes gargalhadas.
O vinho acabou sim; a música voltou ao seu início; mas o que tivemos parece não ter fim.
Nostalgiei legal na Insensatez desse Porto. Era eu, né?
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