domingo, 14 de fevereiro de 2010

Quem vai pagar o pato eu não sei.




Setenta e duas horas recluso dentro de um quarto, completo hoje. Tudo começou quanto toquei a câmera digital e ela se quebrou; logo após fui regular os graves das minhas caixas acústicas e elas se perderam; então me dirigi ao restaurante mais próximo e barato, meu carro apresentou problemas; não obstante, fui atender o telefone celular e o mesmo recusou-se a me dar qualquer informação. Minhas relações comigo andam desgastadas e não é de hoje.

Tenho ouvido palavras-chave das pessoas próximas que martelam, martelam até que me convenço que realmente estou errado. E eu estou. Vivo num mundo teoricamente de aparência, onde tenho que manter uma suposta estabilidade para ser aceitável no meu convívio social.

E eu não sou estável, tão-quanto normal ou sociável - e cada vez mais tenho chegado a conclusão de que não preciso disso para viver. Eu posso ser isso mesmo quando saio do quarto; um completo irresponsável, que faz o que dá vontade e não mede as conseqüências; que muda de opinião a cada instante e não tem vergonha de assumir; que leva o corpo ao extremo e depois se penitencia comendo legumes cozidos. Atropela o sentimento dos outros e logo depois pede desculpas e ri; pouco se importa com o resultado porque não sente solidão nem medo de ficar sozinho, pois já o é.

Eu posso viver setecentas horas trancafiado no meu quarto que não me sentirei mal. Os meus cabelos brancos me permitem isso - somado ao meu poder de persuasão, alguns caraminguás na conta bancária e um suprimento de leitura, comida e remédios para dormir. O mais lamentável é que quando eu sair do quarto ninguém terá notado a minha ausência.

Sinceramente eu desisto de me policiar, manter a pose de bom menino, desisto daquilo que nunca fui, literalmente.

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