terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A minha história da arte.


A arte está presente na minha vida desde quando tinha apenas dez anos de idade e a minha professora de educação artística – da qual não me lembro o nome, mas que fumava muito – ficou surpresa com a minha representação temática sobre o tema carnaval.

Fugindo do óbvio, combinei no meu cartaz não o brilho e as cores do carnaval, mas remetendo às origens venezianas – as máscaras tristes, predominando o preto e o branco. Depois de uma pesquisa às antigas (naquela na qual se pegava a enciclopédia, escolhia um banco da biblioteca e passava várias tardes pesquisando), descobri a essência do carnaval e porque não representá-la?

Era divertido, porque além de pesquisar, tinha que copiar os trechos, pois não existiam máquinas de fotocópias. Geralmente ia sozinho; gostava da opulência das bibliotecas, do cheio dos livros velhos, do silêncio - quebrado apenas pelas hélices do antigo ventilador.

E assim segui minha vida estudantil, sempre com as maiores notas em artes - até conhecer o Profº Martinelli que, segundo este, nota máxima era somente atribuída a “Deus”.

Dogmas religiosos à parte, o que chamava a atenção no professor era a sua metódica: as mesmas roupas nos mesmos dias da semana e os mesmos trabalhos exigidos nos mais de vinte anos de licenciatura.

Os materiais exigidos eram obrigatórios, apesar de ser um colégio Estadual e quem não os trouxesse, perdia pontos. Dentre as extravagancias, estava a exigência de um caderno para desenho com folhas indestacáveis, capa de simulacro de couro (igualmente dura) e um sem-numero de lápis com diversas “durezas” de grafite. Do pouco que me lembro, a mochila ficava com o dobro do peso quando tínhamos aulas com o professor de artes.

Não era somente arte por arte, eramos contemplados com exaustivas de geometria analítica, proporção matemática e várias outras disciplinas matemáticas que provavam que não existe arte sem a maldita matemática.

Arte levada à cabo, além de por à prova nossas habilidades práticas, era necessário também pesquisar sobre os artistas: deste os italianos do renascimento até a arte barroca brasileira. Pesquisa, resumo e prova oral.

- Fabiano, quais as características que mais te saltam aos olhos na arte do Rococó? - Abria um sorriso sarcástico o guia turístico de museus europeus, vulgo professor.

- Filho da puta! - Pensava. Ele sabia que era exigir demais de pré-adolescentes que tivessem senso crítico para com algum estilo artístico, então depois do seu riso irônico e do meu constrangimento ele reformulava a questão: - Fabiano, cite um ícone da arte Rococó.

- Precisa fazer bico para falar em francês professor?

Professor Martinelli quebrou tabus em relação ao conceito geral sobre arte da nossa turma; uma matéria tida como supérflua, homossexual e à toa, passou a ser essencial ao nosso curriculum escolar e para a vida Era interessante ver a tensão da turma do fundão (da qual fazia parte), estudando para não passar vergonha nas provas orais. Gravuras nunca eram mais vistas com os mesmos olhos. Era obrigatório, mesmo que inconsciente, sabermos os autores, as características e ate as razões fundamentalistas dos artistas das obras.

Quinze anos se passaram, muito provavelmente professor Martinelli deve ter se aposentado e eu esqueci boa parte do que aprendi. O que ficou foi o interesse, mas talvez não o talento. Nunca soube realmente qual o meu grande veio artístico. Não vivo sem música, mas nunca coloquei nenhum instrumento no colo; quanto à pintura, não tenho muita coordenação e sou muito ligado à simetria, talvez isso atrapalharia e deixaria futuros trabalhos retos demais. Fotografia e esculturas são assuntos que me interessam, mas demandam equipamento e espaço, respectivamente; coisas que ainda não possuo. Já as artes cênicas sou apaixonado: desde a trupe até os roteiros, infelizmente minha timidez e o problema de memória recente me impediriam de me apresentar.

Por ora, divirto-me como apreciador; de longe, de perto...Nada muito técnico ou crítico, sem compromisso, como a arte deve ser vista...

3 comentários:

  1. Não existe arte sem o maldito dom! Maldito porque eu não tenho, claro.

    Sua pergunta virou post, vai lá ver a resposta.

    ResponderExcluir
  2. Esse Profº Martinelli! São esses professores qe nos inspiram durante a vida! Garanto que jamais se esquece do ícone de Rococó! Eu lembro que aprendi a jamais repetir uma palavra numa redação com um "exemplo" de professora! Ela era um dragão, em TODOS os sentidos: sábia, antiga e feia! Mas me marcou pra sempre!! ;) Também falei sobre carnaval no meu cantinho, aparece lá!

    ResponderExcluir
  3. ixe Gustafson, nem chocolate eu quero hoje....juro q passaria se eu "estapeasse" alguém..mas isso não é socialmente bem aceito...

    ResponderExcluir