sexta-feira, 17 de julho de 2009

Fraldas...


Há tempos não tinha uma sensação tão diferente na minha vida. Destas que você não sabe se ri ou chora; se diz sim ou diz não - simplesmente fica atônito, sem reação alguma, travado.

Tratando-se de mim, não é fácil disso acontecer. Não é fácil mesmo.

Eu, sinceramente, sem hipocrisia, já tive muitas experiências e me permiti a muita coisa e (quase) nada me assusta ou me surpreende, no que se refere a comportamento das pessoas. Literalmente faço o que eu quero e, às vezes, faço o que nunca faria somente para ter sentir a sensação de ter feito.

Isso não torna minha vida previsível, pacata e sem expectativas - pelo contrário; torna ainda mais imprevisível, pois estou sempre buscando algo diferente, sempre querendo algo que me desarme e me deixe assim, com a sensação de ainda há muito o que vivenciar, sentir e aprender. E há! E em tantas intensidades diferentes que fico desnorteado quando acontece.

Já tiveram situações semelhantes no passado, mas talvez o momento não tivesse sido oportuno, faltava algo ainda - talvez pela pouca idade, falta de experiência e vivência não teve o mesmo sabor de hoje, beirando aos trinta anos de idade. Pouco me importava com isso antes; para falar a verdade eu evitava, tinha um pouco de medo, ou melhor, eu tinha muito medo. Tenho amigos bem mais jovens que já tem um, dois... Eu sequer cogitava imaginá-los. Sequer...

Dia seis de julho de 2009; era começo de tarde - fomos convidados para jantar, mas somente eu e a minha mãe fomos. Eu por saber que tão cedo não veria a anfitriã e a sua prole (meus queridos primos) e a minha mãe foi porque era o convite de sua irmã mais velha (minha tia).
É estranho, mas agora que estou longe, faço-me mais presente em reuniões familiares - uma leve ponta de melancolia, misturada com boas expectativas. Uma sensação prazerosa, mas ao mesmo tempo angustiante por saber que tão cedo não os verei.

- Estamos esperando o Marcelo chegar, foi buscar o filho na escolinha e a esposa no trabalho, mas o jantar já está pronto... - disse minha tia, feliz com minha presença.

Foi o tempo de nos cumprimentarmos para que eles chegassem – meu primo, sua esposa e seu filho de sete (acho) meses. Estavam todos aparentemente felizes - apesar do cansaço do trabalho, a responsabilidade do primeiro filho e os desafios de uma vida de recém-casados. Depois das formalidades, dos abraços entre os adultos, as atenções se voltaram para o mais novo integrante da família (até novembro).

Eu, como sempre, estava distraído, ainda de pé, conversando sobre trabalho com o meu primo quando minha mãe se virou para mim e disse estendendo as duas mãos em minha direção, segurando o bebê:

- Toma, segura! - sorriu de forma inocente.

Foi tudo tão rápido que não tive tempo de me esquivar, de dizer que não sabia “mexer”; qual "botão" apertava para ligar ou desligar; que achava lindo, mas no berço ou na cadeira própria para eles – não tive tempo de perguntar onde segurava, se precisava abraçá-lo com as duas mãos; se pegava em posição de ninar ou deixava-o sentar no meu braço. Eu não sabia o que fazer, só sabia que tinha que segurá-lo pois, dada a efusividade da minha mãe, o deixaria ali até que eu o pegasse.

Sem jeito e com um leve tremor nas pernas eu o segurei - melhor dizendo: eu o abracei. Não havia outra saída, não poderia deixá-lo ali esperando ou dizer que tinha certo temor, falta de habilidade, costume.

Era pesado, mexia-se sem parar. Ninguém na sala, naquele momento se tocou na situação, no que eu estava sentindo e o que estava se passando pela minha cabeça. Na verdade pouco se importaram comigo, parecia ser uma situação tão corriqueira que sequer imaginaram o meu desespero e a minha explosão de sensações naquela situação. Continuaram a rir e confraternizar-se; e eu ali com ele nos meus braços - completamente sem saber como proceder.

Ele também ria, parecia feliz, mas continuava agitado para meu desespero. O meu temor/tremor não parava, mas a sua receptividade me fez mais confiante, parecia estar bem satisfeito ao meu colo, virava-se a todo momento, para todos os lados, esboçava gemidos, sons. Olhava rapidamente para os meus óculos com cara de curioso, eu tentava de qualquer forma equilibrar os seus dez quilos nos meus braços mesmo com toda a sua impulsividade e agitação.

Foram no máximo dois minutos segurando-o, até que devolvesse à sua mãe. Ainda estava tremendo, olhava para minhas mãos, olhava para o bebê...Fiquei atordoado, adormecido por alguns instantes ainda, não conseguia dizer nada. Foram dois minutos apenas e eu senti tanta coisa diferente, foi uma experiência indescritível para mim, justamente nesta altura da minha vida. Só consegui esboçar, quase gaguejando um:

- No-o-o-ssa como e-e-ele cresceu... - disse eu, um tanto quanto sem-graça.

Impossível não remeter isto à minha infância, mas ao contrário de outros tempos em que ficaria chorando, lamuriando e ruminando aquilo que não passei enquanto criança, eu simplesmente me projetei - agora não mais na figura de filho; desprotegido, carente e necessitado de amor paternal - mas sim na figura de pai!

- Nossa, como eu cresci. - pensei.


(Eu tive duas referências paternas diferentes na minha vida: uma na infância (meu tio) e outra na adolescência (meu padrasto) - porém nenhuma das duas sequer apresentavam qualquer ligação de consangüinidade comigo, mas mesmo sem dizer pessoalmente, pois estes já sabem e sempre souberam, sou eternamente grato ao que fizeram por mim. Fizeram além das suas atribuições e foram fundamentais para a formação do meu caráter, índole e foram as referências masculinas quando da minha formação. Agradeço pelas cobranças - principalmente e lógico: pelo carinho, amor e dedicação espontâneos, sem esperar nada em troca. Coisa de pai mesmo, dentro de suas limitações, mas coisa de pai, ou melhor: coisa dos meus dois pais!
Obrigado Flávio e Irineu).

Continua...


“Não importa quem foi meu pai. O importante é a recordação que guardo deles.” Anne Sexton


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