sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Fome.




Esta letra serve de resposta para tantos assuntos: vida sentimental, profissional, relações interpessoais (família, amigos, vizinho, cachorro) e principalmente para as conversas com o espelho durante o barbear.

A impressão que eu tenho é de que nunca ficarei satisfeito. Jamais, independente da situação... Ainda bem!?

(Primeiro encontro de Marisa Monte com os Titãs no palco, cantando a música "Comida" no programa Babilônia em 1989).

Valido até.



Reduziram meu antigo blog apenas à uma pagina branca, sem formatação, com a respectiva foto da postagem; conservaram as tags, os comentários e os textos, - mas retiraram toda essência. Era previsível; esperava por este tipo de retaliação por não postar mais; por deixá-lo ao esquecimento; à mercê minhas necessidades esporádicas – afinal de contas mudei de servidor, por ter mais recursos e não havia como manter ambos atualizados.

Gostava de entrar lá de vez em quando, clicar aleatoriamente num mês qualquer, ou exatamente há um ano atrás e ver o que se passava comigo naquela época... Ver o que eu estava pensando no momento, o que estava planejando, com que me relacionava e o que me afligia ou me alegrava. Não era um diário, não havia repetições, nomes, rotina, estilo ou qualquer assunto que interessasse à outra esfera, que não o meu mundo.

Fiquei chateado quando acessei e não vi alguns textos, apenas a seguinte mensagem: "Ops! Este link parece estar corrompido." Foi como perder uma foto de infância. Em se tratando de fotos de infância, eu tenho poucas, e as que existem não estão em meu poder. Definitivamente só tenho lembranças; lembranças tão reais que são mais definidas do que fotos impressas.

Quanto me refiro aos meus textos, esqueço-me fácil deles; são tão voláteis quanto o autor. Por isso a necessidade de lê-los e relê-los, cair em contradição; rir ou chorar. É necessário tê-los perto de mim, conflitar ou confortar-me; tal qual minhas fotos de infância.

As minhas fotos impressas (que não as possuo) são bem características dos anos oitenta: papel com pouco brilho, datadas apenas com o mês e os dois últimos algarismos do ano no rodapé e um tom amarelado uniforme por toda a foto: fotos de festa junina; exposição de animais; com os familiares; cachorro e o clássica foto do álbum do pré-primário.

Queria revê-la, procurar meus antigos colegas de escola, imaginar como estão; não tenho contato com nenhum, não sei mais quem são, não lembro os nomes e provavelmente não os reconheceria hoje.

Poderíamos marcar a reunião dos vinte e cinco anos de formatura do pré-primário, tal qual fazem os americanos. Aproximadamente trinta estranhos; convidaríamos os poucos professores vivos, tudo regado à refrigerante da nossa cidade, - a cerimônia de preferência na escola em que estudamos. Nos apresentaríamos novamente, relataríamos as experiencias de vida, até então; seria divertido.

- Eu sou o Fabiano, gostava das aulas de artes, colagens em cartolina e odiava as interações obrigatórias entre os colegas; hoje, estou irreconhecível fisicamente...

Sempre tive dificuldade de me desvencilhar de coisas velhas, de jogar fora antigas lembranças; para mim foi um sacrifício grande colocar todos os meus velhos cadernos do primário dentro de uma caixa e deixá-la na lixeira aguardando o seu triste fim, tenho a mesma atitude com e-mails, cartas e afins.

E não é diferente com tudo na minha vida. Há inúmeras caixas dentro do meu peito e, deixá-las fechadas para sempre, seria uma auto-mutilação. Para onde foram parar minhas antigas postagens e meus colegas do jardim de infância?


segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Saia justa que nada.




De repente apenas paro e observo, - desconfio - como que por instinto animal mesmo. Olho para os para os lados, vejo inúmeras pessoas; todas me conhecem, sabem meu nome, freqüentam minha vida, sabem quem eu sou; uns trabalham comigo; já outras freqüentaram minha cama; alguns me ligam chorando de madrugada porque brigaram com a namorada; outros apenas querem sair para beber; ir para a faculdade estudar; oferecer-me conforto nas horas difíceis; conversar sobre filosofia; pedir dinheiro emprestado e um sem- fim de combinações de situações - as mais variadas possíveis.

Pego o celular, deslizo a seta para baixo e observo pacientemente cada nome, sobrenome e associo da onde e há quanto tempo os conheço. Entro na internet, janelas se abrem – raramente eu as aciono – novamente paro, penso e analiso: será que realmente sei quem são vocês?

Sinto uma dúvida, uma leve desconfiança em confidenciar algo, dizer aquilo que sinto que, com certeza, será confidenciado à outra pessoa com a premissa de “mas não diga nada para ele, só falei porque você é meu amigo”.

Nada morre aqui, certo? Nada. Sempre nos sobra depois que já dos acontecimentos um “Há eu já sabia também, mas não quis falar pois a (o) é meu amigo”... E as outras partes?

Não me sinto frustrado pelos desvios de personalidade, fidelidade ou fraqueza das pessoas pessoas (até porque já fiz parte desta categoria), porque afinal de contas, eu já sabia; todos sabemos - segredo bem guardado é aquele que confidenciamos com o espelho.

Todos nós sabemos que não existe o melhor amigo e sim uma rede de amigos, tal qual: eu sou seu melhor amigo, mas você tem uma melhor amiga e esta não é a minha amiga. Pegou? Pois bem, Ela sabe, mas eu não sei que ela sabe, logo para ela pouco importa se outros saberão. É como telefone sem fio, mas no final a ligação SEMPRE retorna para o emissor que diante da situação constrangedora passa a se sentir traído.

- Alô, oi aqui é o retorno da ligação privada que fez há um bom tempo para UMA pessoa apenas, achando que ela guardaria seu segredo, passei por vários números desconhecidos e agora voltei para te dizer que todo mundo já sabe, um abraço!

Eu fico feliz por ter amigos e eles por confiarem em mim...
Comigo não morre aqui, eu mato aqui!

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Hay que endurecer...




Caros colegas, inicialmente, devo afirmar que, muito me alegra manifestações como estas: movimentações, opiniões, debates, críticas, idéias e sugestões. Todas as colocações foram pertinentes e mostram que realmente não estamos satisfeitos com a atuação sindical e nem quanto à postura do poder público perante à nossa categoria. Creio que, somos uma minoria ainda, e pior - somos uma minoria que se manifesta. Pergunto aos senhores, colegas de profissão, se já conversaram com seus pares das suas respectivas equipes sobre uma possível manifestação, seja ela qual for. Se já, ouso aqui dizer que a resposta mais proferida foi: "Fulano, isto não vai dar em nada"; ou "Isso é coisa Sindicato, eles que se mexam"; "O governador é assim mesmo, é melhor esperarmos ele sair".

Acredito eu que, precisamos tomar consciência também; precisamos nós sermos proativos e não somente esperar por respostas que nunca chegam; independente do tempo de serviço, especialização ou motivação, se faz necessário agirmos. Há uma necessidade de se pensar como num todo; fazemos parte de um "sistema" e não de "unidades penais" isoladas - localizadas na capital ou no interior do Estado. Temos que tomar ciência de que benefícios conseguidos serão não somente para os que lutaram, mas para toda categoria. Precisamos adquirir a cultura de que temos sim, muita força - e realmente temos; mas esta, tem que ser coletiva, e não somente jogada nas costas dos "novatos"; "sindicato" ou dos "antigões", mas dividido entre todos.

É salutar - como já fora dito, - enaltecer as vitórias conseguidas pelo sindicato; mas, definitivamente, não podemos depender apenas de uma sucessão governamental ou da morosidade da justiça. Conseguimos algumas vitórias, alguns convênios, mas precisamos de mais, e são reivindicações mais do que justas; sabemos do compromisso do sindicato e, pelo que pude discernir dos comentários, não é o que está em xeque. O que realmente sentimos é uma leve apatia do Sindicato, ou melhor definindo, um exagero diplomático para com o Governo.

Os diálogos entre o sindicato e os seus filiados se resumem a e-mails sobre as vitórias na Justiça sobre assuntos desgastados ou sobre convênios odontológicos firmados com particulares. Sinto que precisam se fazerem mais presentes; assim como o colega inteligentemente citou, eu também nunca fui perguntado o que achava ou o que deixava de achar, sobre nenhum assunto. Independente da questão legal (quantidade de dirigentes sindicais) e da questão logística (sede física do sindicato); sentimos falta de representantes dos sindicato. Pessoas engajadas, proativas e que realmente assumam a responsabilidade que adquiriram. Quem são os "delegados" ou seja lá qual termo designado para os representantes do sindicato dentro das unidades penais. Eu, sinceramente, não sei o da minha e, se existe, não o se faz presente. Assim como não somos compelidos a nos filiarmos, os colegas também não são obrigados a assumirem tal responsabilidade, mas já que fizeram questão de assumi-las, cumpram com as responsabilidades.

Assim como a maioria, também sou contra uma desfiliação em massa, pois, além de significar um retrocesso, nada mais é do que uma forma de fugir dos nossos conflitos; de enfraquecer mais ainda a nossa categoria (se é que isso é possível). O que precisamos é união e diálogo entre nós mesmos - os agentes penitenciários. O que, sinceramente não há. Há uma segregação grande dentro da própria categoria; não nos vemos homogêneos na profissão: ou somos os novatos; os que estão para se aposentar; os que estão no estágio probatório; os que possuem nível superior; os que ocupam cargos de chefia; os que são do sindicato; os que são da capital; os que ocupam funções administrativas; os desviados de suas funções, etc. Este e-mail que recebi é uma forma interessante de expressarmos nossas idéias, fica como sugestão para o sindicato, reunir o e-mail de todos os colegas de profissão e criarmos um debate mais amplo, com a participação de todos, tal qual um fórum.

É sabido que a administração pública, em geral, - mais especificamente com relação à nossa categoria, age com descaso e até com má-fé. Somos massacrados, cerceados de direitos que nos são garantidos por lei e ignorados nas tentativas de acordo com o poder público para discutir relações trabalhistas. Casos como a desaprovação do nosso direito de “portar arma de fogo”, é a prova mais clara de que o Estado pouco se importa com a nossa segurança e, conseqüentemente com a segurança de todos os cidadãos. Hoje, alguns colegas ainda sequer tem como se identificar, pois nem mesmo as suas identidades funcionais foram confeccionadas. Ignoram o fato de que é função precípua de agentes penitenciários, a realização de escoltas de presos para os mais diversos órgãos, sendo assim temos a necessidade de uma identificação oficial.

O desrespeito às decisões judiciais proferidas em nosso favor no que se refere à contribuição previdenciária mostra que a administração pública que deveria dar o exemplo, é o órgão mais irregular, irresponsável e inadimplente de todos. A revisão salarial anual, que é concedida a todos os funcionários públicos, sequer acompanha os índices de inflação e o governo usa este “benefício” para tentar dar um “cala boca” em toda a categoria. O nosso adicional de atividade periculosidade, que nos é pago e fora incorporado numa gratificação oportuna, é outro abuso.

Outros assuntos intermináveis que muito provavelmente serão objeto de impasse estão na nossa pasta: Policia Penal, Adicional de Zona, Aposentadoria Especial, Habilitação em curso superior como pré-requisito para ingresso na nossa categoria e etc, ficarão a esperar quanto tempo mais dentro das intermináveis reuniões com a Secretaria de Cidadania e Justiça do Estado do Paraná?

Já foi provado que as tentativas de dialogo - além de serem desgastantes para a categoria e inócua para a administração, - não produz os efeitos necessários e concretos para nós, os funcionários públicos e, principalmente, os filiados ao sindicato. Acredito que o sindicato, juntamente com todos os funcionários, são a favor de uma solução digamos “pacífica” para todos os assuntos, mas infelizmente não podemos simplesmente “esperar” pela sucessão governamental e aguardar a boa vontade do próximo chefe do poder executivo, ignorando a presença do atual Governador/Ditador.

Para fazer valer um direito, quando não pelos meios convencionais, temos que nos estruturar e partir para manifestações públicas, precisamos mostrar para sociedade o que está acontecendo, o porquê de estarmos insatisfeitos com a administração. Precisamos fazer valer os nossos direitos de uma forma mais incisiva, haja vista que já se esgotaram as tentativas de conversas e cansamo-nos das intermináveis promessas.

As formas mais práticas para expressarmos a nossa insatisfação são com as paralisações. Uma manifestação em nível estadual, contando em massa com a participação dos colegas, por uma causa comum: fazer valer nossos direitos perante o poder público, para que este cumpra suas obrigações. Sabemos que uma empreitada destas, exige hoje, vontade, pois força nós temos, embasamento jurídico também. Causa-me repulsa ouvir diariamente o secretário de Justiça soltar um seco e estridente "NÃO" para qualquer reivindicação nossa, independente do seu conteúdo. Isto não causa indignação nos senhores? Ou ouvir do nosso Governador que somos a categoria de agentes penitenciários mais bem paga do Brasil e que deveríamos nos contentar com isso.

Honrados colegas, a minha maior indignação, recentemente, foi ter lido um e-mail do sindicato dizendo que, por determinação da Justiça, agora, a SEJU (Secretaria de Justiça) será obrigada a fornecer alimentação noturna (jantar) também aos funcionários que cumprem escala diurna. É o cúmulo da humilhação; termos que entrar na Justiça reivindicando alimentação suficiente para funcionários que cumprem doze horas extenuantes de trabalho diário. Fico imaginando a expressão do Juiz que proferiu a liminar a favor da categoria quando recebeu esta reivindicação. Deve ter sentido "dó"; pois se até os presos, que estão cumprindo pena tem alimentação suficiente, os funcionários são obrigados a procurar os meios legais para que o Estado cumpra com uma necessidade fisiológica de todo o ser humano.

Agora pergunto-vos: Será que realmente o DEPEN/SEJU/Estado e adjacências merecem algum tipo de respeito? Credibilidade? Ponderação? Tentativa de diálogo?

Não reivindicamos apenas reajustes salariais, como provavelmente imaginam todos - imprensa, população e poder público, - mas a segurança dentro e fora do trabalho, a valorização do agente penitenciário, o constante aperfeiçoamento, melhorias no plano de carreira, o cumprimento de decisões judiciais já proferidas. Temos mais de uma dúzia de questionamentos e direitos ignorados, todos pertinentes e oportunos. Se o poder público não os respeita, temos que por em prática outro direito fundamental: o direito de GREVE.

Assim como fizeram os Correios, a Receita Federal e mais recentemente todas as categorias bancárias e os nossos colegas da esfera da União: Agentes Penitenciários Federais. Com tantos argumentos, nenhum juiz declarará a nossa greve ilegal e, se o fizer, no mínimo, seremos "chamados" para conversar, devido a movimentação.

A partir do momento em que as unidades colocarem cartazes nas portarias com a seguinte frase: ESTAMOS EM ESTADO DE GREVE, ninguém entra e ninguém sai, exceto com ordem judicial; seremos chamados para uma negociação. Infelizmente, a máquina administrativa só funciona na base da pressão. É inadmissível que uma categoria de suma importância para a segurança pública e bem estar da população seja tratada com tanto descaso. Um ato como este encabeçado legalmente pelo sindicato, bem coordenado por todos nós, embasado nestes e em muitos outros argumentos que não relacionei, é mais do que legal: é JUSTO.

(...) A Constituição de 1988 dispõe em seu art. 9º: "É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender". É dado aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercer o direito de greve. Não poderá ser decidida a greve sem que os próprios trabalhadores e não os sindicatos, a aprovem.

Por outro lado, o art. 9.º, §1º, da mesma Constituição dispõe: §1º. "A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento de necessidades inadiáveis da comunidade".

Nota-se que este parágrafo, condiciona o exercício do direito de greve em serviços ou atividades essenciais ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. Assim, deve-se entender que, nesses serviços ou atividades, um mínimo tem de continuar em funcionamento, a fim de possibilitar o atendimento de necessidades essenciais.

Consideram-se atividades essenciais: a) tratamento e abastecimento de água, produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis; b) assistência médica e hospitalar; c) distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos; d) funerários; e) transporte coletivo; f) captação e tratamento de esgoto e lixo; g) telecomunicação; h) guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares; i) processamento de dados ligados a serviços essenciais; j) controle de tráfego aéreo; l) compensação bancária...)

Infelizmente, acredito que, apenas esperarmos as respostas da Justiça é uma forma de prorrogarmos o inevitável e, neste ínterim, as nossas necessidades multiplicam e acumulam-se.
Pensem no assunto caros colegas, precisamos de atitude, opiniões e críticas neste momento e toda forma de união é valida!

Saudações,

Fabiano Pereira
Agente Penitenciário – Penitenciária Estadual de Foz do Iguaçu.

domingo, 16 de agosto de 2009

terapia/amigos@hotmail.com




me fala
meu psiquiatra me fez uma pergunta
e eu vou fazer pra vc ...
e quero que seja simplista , e mais sincero possível ....
O que e do que sente falta?
o que parece que vc procura e não encontra?
o que te falta Fa?



eu nao sei Lia.
se soubesse seria o cara mais feliz do mundo!



então Fa
deveria sondar o que sente sabe
essa semana
eu comecei a pensar na sua vida
nunca comentei nada com vc
por vc rir disso talvez
mas vou falar
Sempre gostei da sua vida
da suas histórias
sabe,,...
quando penso em uma vida que gostaria de experimentar
sempre penso na sua
morar só , independente...seguro d certa forma
te acho muito inteligentes sagaz ...
esperto
astuto
raposa
e ao mesmo tempo
vejo tanta coisa igual a mim em vc
gosto da sua disciplina ....
gosto da forma como impõe metas e devora assuntos de seu interesse
a forma como escreve e vive relacionamentos
e sinto também as mesmas frustrações sua
ao mesmo tempo
que compreendo não entendo
e talvez ainda pensando e viver algo como a sua vida
eu penso que sentiria sim
a mesma depressão
mas juro que não sobreviveria
a metade do que vc sobreviveu
gosto muitoooooooooo de vc Fa
e nem sei como aconteceu tudo isso
foi o unico que ficou e consegui deixar ficar
passei do patológico ao fraterno
e até materno ....
Mas tenho vc como referencia do que quero me tornar ou melhorar
não o vejo como algo a recusar como modelo mas sim como eu gostaria de vir a ser
ter a metade de suas potencialidades
toda vez que olho minha filhota
eu penso que ela poderia ser e ter
como um Fabiano na vida
a mesma vontade garra amor e descaso com o mundo
pense assim
se veja assim
eu o vejo assim
acredito que és
é assim



[…] Preciso de um espelho e de um psiquiatra; urgente...












terça-feira, 11 de agosto de 2009

Puro e sem gelo.



Só mais uma dose...uma por vez.

Encosto-me no balcão totalmente encharcado, agora sem paciência; olho aos que estão envolta de mim – todos sedentos, ansiosos por algo que os deixe eufórico ou apenas mate sua sede de não-sei-o-quê. Para mim é só mais uma dose; a sensação de embriagues me apetece, deixa-me alheio à mim mesmo, flutuando, surdo, eufórico por dentro e totalmente calado por fora.

Entre um gole e outro eu ficava mais suscetível ao mundo; mais permissivo comigo mesmo, passivo diante dos problemas e agressivo às responsabilidades.

O atendente me nota: preciso ser rápido, logo aponto para a garrafa! Não se ouve muita coisa, mas meu gesto é enfático, não necessitando de diálogo. Já não me importa muita coisa. Pouco me importa, se é que algo me importa.

Anestesia; esta seria a melhor definição para a sensação de embriagues. Anestesia física e mental. Sensação de torpor, chiado nos ouvidos, boca seca, dor de cabeça, ressaca, amnesia, indisposição; em contrapartida uma fuga. Uma, duas, três, quantas forem necessárias.

A última...da noite.

Noutro dia fico recluso. Tranco-me, fico acometido por arrependimentos; tentando me lembrar do acontecera na noite; procuro os meus pertences, verifico quanto sobrou de dinheiro; vejo os novos contatos no celular, tento lembrar quem são, o que são; logo desisto. Deleto todos, deleto tudo à medida que recupero a consciência.

Um banho quente, independente da temperatura é conveniente para me purificar; lavo-me como se quisesse me punir – com extrema aspereza, força e violência. Assim, sinto a sensação de culpa escorre pelo ralo, ir embora juntamente com tudo o que impregnou em mim na noite anterior.

Desligo tudo, deixo uma garrafa d´ água ao lado da cama; pego um livro, pego vários – leio as introduções, dedicatórias; tento ver algo de interessante na televisão, mas desisto; tento escrever, mas tudo o que consigo são títulos para os textos, que nunca vem. Calo qualquer objeto que possa atrapalhar este momento - tudo; televisão, computador, pessoas e o celular.

Prefiro deitar no travesseiro, fechar a janela e ficar a olhar para o teto branco. Um leve suspiro, outro mais prolongado. Relaxo, sinto que estou bem; tenho a agradável sensação de nada de ruim pode me acontecer. Sempre sobrevivo a tudo, a qualquer situação, independente da dor.

Sou acometido pela melancolia e, para não perder a sensação, procuro por uma trilha sonora adequada. Fones ajustados, música apropriada, em volume baixo. Pensamentos vem e vão à medida que as musicas começam e terminam; não me apego a nenhum/nenhuma. Deixo-os ir e vir; rio e choro.

De repente tudo volta ao seu curso normal - levanto da cama, escovo os dentes, ligo o telefone, entro na internet, abro a janela do apartamento, dou bom dia às pessoas e procuro por comida.

Já é quase noite; preciso parar de pensar...

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Amigos.


A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências...

A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.

Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.

Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.

Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer...

Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!

"A gente não faz amigos, reconhece-os."
(Vinícius de Morais)


(...) Já me identifiquei com muitos textos, mas este, definitivamente, resume todas as minhas impressões sobre amizade. Contudo, singular mesmo, é a forma como trato as minhas relações de amizade – dedico-me da mesma forma para com todos, sempre; da mesma maneira, intensidade e afinco. Independente da sua condição social; seu erros e acertos; sexo, religião, afinidades, vícios e virtudes.
Quais os meus favoritos? São todos, amo-os incondicionalmente. Tecer qualquer outro tipo de comentário seria redundante ao texto.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Oinc, oinc, oinc.


Volta às aulas nas escolas e universidades estaduais é suspensa até o próximo dia 17/08


Um novo decreto governamental determinou nesta quinta- feira (6) que as aulas nas escolas, universidades e faculdades estaduais permaneçam suspensas até o final da próxima semana como medida preventiva à nova gripe. As aulas, que deveriam recomeçar no dia 10, agora só serão retomadas no dia 17 de agosto. Durante o recesso, será estruturado nos colégios estaduais o programa “Cuidadores da Gripe”, uma parceria entre a Secretaria da Educação e a Secretaria da Saúde.

O programa vai preparar voluntários em todas as escolas estaduais para atender e encaminhar os casos de suspeita da gripe A. “Trata-se de mais uma ação de cuidado, orientação e prevenção à gripe Influenza A (H1N1)”, informa a secretária estadual da Educação, Yvelise Arco-Verde.

Até esta sexta-feira (7), os professores estaduais continuarão recebendo treinamento sobre como prevenir e detectar a doença. Além disso, uma parceria entre as Secretarias da Educação e da Saúde está criando o programa Cuidadores da Escola.

“Em cada turno de cada estabelecimento de ensino da rede estadual e conveniada, uma pessoa, de forma voluntária, deverá assumir as responsabilidades de cuidador. Ela terá formação específica e receberá um kit para fazer as primeiras intervenções necessárias à prevenção da gripe”, explica a secretária.

Cada uma das 2.100 escolas da rede estadual e as cerca de 400 conveniadas terá um cuidador por turno. Caso seja detectado um caso suspeito, o estudante receberá uma máscara e será conduzido à sua casa, onde os familiares receberão orientações sobre como evitar o contágio.

O cuidador será o encarregado de fazer contato com a Secretaria de Estado da Saúde e vai monitorar a sala do aluno com suspeita da doença, ajudando a reforçar a prevenção e detectando precocemente qualquer outro caso suspeito.

Ele poderá ser um professor disponível, um técnico administrativo, um agente educacional ou ainda um representante da Associação de Pais, Mestres e Funcionários (APMF). “Já solicitamos que as escolas usem os recursos do fundo rotativo para a aquisição de uma caixa com máscaras, álcool-gel, sabão e detergente para limpeza, a fim de dar suporte às ações dos cuidadores”, explica Yvelise Arco-Verde.

UNIVERSIDADES - Por determinação do governador Roberto Requião, o recesso nas Instituições Estaduais de Ensino Superior (IEES), em função da gripe A (H1N1), também foi prorrogado por mais uma semana.

O período de recesso servirá como prevenção para que a nova gripe não se alastre e para que as seis universidades e sete faculdades estaduais se organizem em relação aos procedimentos e cuidados a serem tomados no retorno das aulas.

De acordo com a Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), as aulas devem ser repostas conforme calendário a ser determinado por cada instituição. A medida atinge mais de 85 mil estudantes, cerca de 9 mil técnicos e 7 mil docentes.
06/08/2009 16:19:09




[…] Pois é; é com muita tristeza que recebo esta notícia, sinceramente. Por vários motivos; dentre os quais é que ofende diretamente a nossa capacidade de percepção da realidade. Será que somos tão alienados assim em acreditar que realmente estas medidas entrarão em funcionamento?

Terão mesmo pessoas instruídas oferecendo materiais de proteção pessoal para os alunos? Para todos da rede pública? Pessoal de outras áreas fazendo triagem, diagnóstico médico, primeiros socorros? Se nem nos hospitais há pessoas instruídas e materiais disponíveis para todos?

Mal temos professores nas salas de aula, carteiras para sentar, giz, livros na biblioteca; não temos infra-estrutura educacional eficiente: o que seria o mínimo, o motivo de realmente estarmos nas salas de aula – sem querer entrar no mérito da eficiência educacional.
É uma medida inócua, na verdade é uma resposta para a imprensa, para os eleitores de vossa excelência, o Governador, que pleiteará uma vaga no Senado.

Lembro-me quando os primeiros casos da gripe foram noticiados, em meados de maio..Desde então, somente esta semana, a Secretaria da Saúde orientou (DETERMINOU) que se colocasse cartazes em todas as repartições públicas dizendo como se prevenir da gripe; são medidas simples, que não evitam o contágio, mas servem como uma barreira, um empecilho para a proliferação do vírus. Lavar as mãos, abrir as janelas, evitar lugares fechados...E porque não o fizeram antes? Porque sacrificar nossas aulas, nossa saúde e desperdiçar somas homéricas em material hospitalar?

E pensar que a maioria dos problemas de saúde pública evitariam-se com orientação adequada, profilaxia, educação apenas. Parece ser tão mais simples gastar dinheiro público com cartazes explicativos, com linguagem popular; profissionais da área da saúde treinados, orientando TODA a população nos veículos de comunicação do que desperdiçar milhões de reais de dinheiro público com despesas hospitalares.

Mas Isso serve para nós também, serve como aviso, serve para aumentar nossa imunidade. Nas próximas eleições temos que ser profiláticos; tratar do “vírus” antes que ele se manifeste, pois assim fica inviável tirá-lo do poder, digo da nossa pele. Devemos lavar as mãos e lavar os olhos, deixá-los abertos, bem abertos ao votar nas próximas eleições.

Não se assuste se a próxima notícia a ser divulgada pela Agencia Oficial de Notícias do Paraná for a seguinte:

- Governador Roberto Requião DETERMINOU que, a partir de hoje, o vírus da Influenza H1N1 está terminantemente PROIBIDO de infestar qualquer cidadão paranaense até o final do seu mandato!
Publique-se, cumpra-se, arquive-se!

Por ora, mais uma semana de folga, na universidade, claro, pois no trabalho meu patrão, Vossa Excelência, o Governador; fez questão de deixar bem claro que se formos contaminados, nada de licença médica, isso só depois de passar pela perícia...há, deixa para lá! Viva o imperador!

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Pow!



Tive uma satisfatória noite de sono, depois de muitas outras em claro ou tendo que interrompe-las para trabalhar. Sonhei que o supervisor da outra equipe (que não a minha) lavava toda a minha louça suja sem pestanejar e, não obstante; ariou todas as minhas panelas, deixando-as brilhando.

Foi uma sensação que, por incrível que pareça, não me levou à desforra, até porque, além de extremamente carismático e competente, é um grande amigo meu; contudo fez-me - ainda com o rosto por lavar - refletir sobre capacidade e iniciativa.

Pensei em ficar na cama mais uns instantes, aproveitar os últimos dias de frio intenso que, sem sombra de dúvidas, sentirei falta, mas não - joguei-me da cama; senti um choque térmico e, em seguida, um arrependimento posterior; contudo não hesitei.

Meu corpo ainda sente as marcas dos exageros do final-de-semana; a consciência não. Logo, esta fez questão de arregaçar as mangas do moletom e jogar litros e litros de água fria e sabonete líquido no meu rosto. Doía e ardia ao mesmo tempo. Evitei olhar ou interferir, pois era necessário esta interação sem mediadores, deixei que se resolvessem. Se não bastasse o desgaste, o corpo ainda ganhou dois tapas de leve no rosto, como forma de aviso: cuide-se!

Foi uma semana produtiva; abandonei antigas companhias (muitas) , mantive as fiéis (poucas), retomei as esquecidas (muitas) e fiz novas (muitas). E assim será, até eu sentir um mutualismo, uma compensação justa para todos, reciprocidade, enfim...Amizade.

Acredito que desvencilhei-me do sentimento de culpa em relação às pessoas: o "não" hoje, soa com mais clareza, frieza e certeza, não deixando margem para um "talvez". Poupa tempo: o meu principalmente.

Sequei cuidadosamente o rosto, fitei-me rapidamente ao espelho, corri para a cozinha, olhei para a minha louça: esta estava devidamente limpa e organizada.

A minha – limpa e organizada.

Capacidade e iniciativa. Foi uma semana produtiva; enfim tenho tempo só para mim e para minha vida, para fazer o que eu bem necessitar.

Lavem suas próprias louças e me deixem em paz.

Barril de carvalho.




Incrível como só aparecem dois fios de cabelos brancos na minha cabeça; os dois se destacando de forma gritante entre os outros da trupe - igualmente encaracolados. Tenho extrema dificuldade em arrancá-los, pois unem-se aos outros, tornando-se uma árdua tarefa para um "míope-astigmata" - descoordenado; abundante em tremores físicos e desatinos emocionais.

Penso em arrancar todos, deixar apenas a base dos cabelos, cortar o mal pela raiz, mas é inviável. Erva daninha, fruto da idade; sua infestação é iminente - porém ainda não é o suficiente para impor o devido respeito. Dois parcos e delgados fios de queratina, desprovidos de melanina. São brilhantes, fracos, inexpressivos e imperceptíveis à luz do dia. Ora me orgulho, ora lamento.

Tomam boa parte das minhas reflexões ante ao espelho, principalmente quando acordo. Meu cabelo cresceu novamente e, para não perder seu ritmo, de forma descoordenada e confusa. Um para cá, outro para lá. Vai-e-vem. Irregularidade.

- Preciso de uma tesoura.

domingo, 2 de agosto de 2009

Sim senhor!


1987
Meu primeiro contato com o militarismo foi com um singelo cumprimento: tinha apenas sete anos de idade, lembro-me claramente como tudo o que aconteceu - estava brincando sozinho, em frente a minha casa, na rua em que havia crescido, quando cruzei com um tenente que provavelmente voltava da sua jornada no quartel. A sua roupa me chamou a atenção: impecável, cheia de insígnias, medalhas, broches; sua boina perfeitamente ajustada; coturnos brilhantes; a forma como ele andava apressado, ereto, portado; vindo despretensiosamente ema minha direção - fez com que eu ficasse a olhar e esperar que passasse.

Para minha surpresa ele parou, olhou para mim e sorriu; talvez pela minha cara de admiração ou qualquer outro motivo que o levou a também dizer o seguinte:

- Quero vê-lo lá no quartel com a gente daqui há alguns anos! Vai servir o Exército Brasileiro! - exclamou com orgulho!

Eu, do alto dos meus sete anos, disse que ainda faltava um tempo para chegar minha vez, mas gostaria de ter uma roupa daquelas - igual a dos meus bonecos do comandos em ação!
Ele, em tom de brincadeira, bateu continência e pediu permissão para se retirar!

Nunca mais esqueci este episódio; depois disso senti um interesse, uma vocação para o militarismo, mesmo sem sabe do que se tratava exatamente; só sabia que eram corajosos, valentes; matavam ou morriam; deixavam suas esposas e filhos em casa enquanto iam para o fronte.

1997
Dez anos depois, lá estava eu. Havia chegado o dia, mas muita coisa tinha se passado; eu com dezessete anos, recém terminado o ensino médio – o cenário era outro, minha cabeça estava em plena transformação ainda, mas eu realmente passei a entender o porquê de cada medalha, de largar suas esposas, filhos e morrer por um objetivo que não é somente o seu - vocação, necessidade, obrigação, orgulho, ego, poder...
Eu era o oposto do ideal militar; completamente, mas confesso que me enquadrei em alguns destes porquês.

Desenvolvi senso-crítico; questionava tudo: igreja, educação, comportamento, família, valores morais e não me contentava com respostas vagas. Eu tive esta liberdade de pensamento; pois antes dos dezoito anos era liberdade de pensamento, mas depois era a minha opção. Não sei se foi realmente uma opção de educação ou um desdém deixar-me à deriva, mas isso culminou em indecisões que desencadearam conseqüências até hoje.

Nunca fui condicionado a nada, ideologicamente falando; poderia ser o que eu quisesse; mas, contudo, dependeria unicamente do meu esforço. - Faça o que quiser fazer, mas faça. Era o que eu ouvia. Este foi meu único norte, incentivo; tão vago que me senti perdido.

Alistei-me. Serviço militar obrigatório. O-b-r-i-g-a-t-ó-r-i-o. Estava disposto a seguir carreira, posteriormente, mesmo sendo contra todos os meus conceitos, discordando da instituição, da sua posição perante a sociedade, mas era uma opção – a única que tinha no momento. Passava por um momento de turbulência, muitas provações, muitas perguntas e poucas pessoas para responder.

Eu tinha o perfil para o Exército (teoricamente): era jovem, não era arrimo de família, não trabalhava, não fazia faculdade, queria sair de casa, pouco me importava para onde fosse e o que tivesse que fazer. Eu queria fazer. Era contraditório; seria um choque de realidades, teria muitos problemas de disciplina, hierarquia, mas creio que me adaptaria rapidamente; ou melhor - seria condicionado.

Era chegado o dia da apresentação; no papel dizia para comparecermos duas horas antes do previsto, impreterivelmente. Eu tinha mudado radicalmente a minha fisionomia; havia eu mesmo cortado meu cabelo, raspado todos os fios; tinha abandonado os óculos que me davam um tom de fragilidade e adotado lentes de contato; estava com meu peso ideal; praticamente irreconhecível. Nada programado, não tive a intenção de demonstrar o que não era; na verdade estava cansado daquela fisionomia, da aparência de fraco, que carreguei durante a adolescência.

Foi condicionado por mim, pela falta de cobrança, pelos conflitos internos e pela auto-suficiência. O potencial estava dentro de mim, só faltava desenvolvê-lo; isso acarretou algum conhecimento.

Fomos recebidos com hostilidade; com piadas dos veteranos e pressão psicológica dos oficiais. A partir do momento em que cruzamos a cancela, estávamos ao comando do exército. Nada do que fazíamos era por vontade própria. Nada.

- Mexam-se; Organizem-se em fila; só falarei uma vez imbecis. Era o que ouvíamos aos berros. - ficarão em pé até serem chamados; ao sol, sem água, sem comida, sem banheiro e sem a mamãe dos senhores.

Indiretamente eu sabia que ali já se iniciava o método de seleção; ninguém ousava discordar ou perguntar nada, nem eu. Esperamos duas horas, em pé. Muitos davam sinais de cansaço; eu apenas de impaciência. Eramos chamados aleatoriamente e, à medida que se passava o tempo, a angústia aumentava. Eu observava tudo ao meu redor; a rotina dos recrutas, a imponência dos oficiais e a fisionomia de assustado dos quatrocentos com inciais “F”; “G” e “H” nascidos entre 1 de janeiro a 31 de dezembro de 1980.

Eu não queria questionar, pela primeira vez na minha breve vida eu queria cumprir ordens. Queria ser cobrado por um objetivo não definido por mim, queria apenas fazer por fazer.

Era chegado a minha hora; fomos conduzidos num grupo de vinte para uma sala por um recruta que nos deu boas dicas; entre elas não abrir a boca se não fôssemos questionados pelo capitão. Ficamos em fila dupla; os dois lados se olhando e o capital passeando vagarosamente pelo meio. Observava um a um e não falava nada. De repente parou no meio perguntou se alguém que estava ali tinha algum problema de audição; ninguém respondeu nada, apenas balançamos a cabeça em forma de negação. Ele pacientemente virou-se para o primeiro da fila e gritou, ou melhor, urrou os seguintes dizeres:

- Pois não me parece, fulano de tal (tínhamos um crachá com nossos nomes), pois eu fiz uma pergunta e não ouvi a resposta. Continuou a andar; os outros subalternos ao seu lado, em posição de reverência, sequer piscavam.
- Alguém aqui tem algum distúrbio de ordem sexual? - perguntou, desta vez em tom calmo e, em seguida, disse que, caso houvesse, manifestasse agora. Dizemos apenas que não; uníssono, tal qual soldados de verdade.

Está bem, então não temos mulheres aqui; estamos somente entre homens, estou certo? - virou-se para um menino aparentemente suspeito. Ouviu-se uma riso contido pela sala e o capitão perguntou calmamente em tom pausado. - Quem foi que sorriu? Todos se calaram, mas sabíamos quem tinha sorrido. Ele escolheu um e disse:

- Vou te dar uma chance fulado de tal, olhe para os meus olhos e diga quem foi que sorriu que estará dispensado do serviço militar obrigatório. Ele não entregou, titubeou, mas olhou sorrateiramente para o autor. O capitão disse: - Vocês se apresentam em junho; fulano e o autor da risada; voltem para o final da fila, ficarão em pé; espero que não estejam cansados, pois ficarão aqui até o final da seleção. Os dois se retiraram, cabisbaixos.
- Os demais tirem as roupas, será feito um exame clínico pelo médico do exército. espero não ter que esperar mais que cinco segundos... - ordenou.

Continuava a nos observar; sempre olhando nos olhos, fitando-nos de cima para baixo; ora sorria, ora fechava a cara. Olhou para mim...Senti um frio na barriga; ainda mais quando parou de andar e ficou a me observar...Pegou meu crachá com arrogância e me perguntou:

- Pereira, o que você está fazendo aqui, o que te trouxe até aqui? Virou as costas, saiu vagarosamente. Eu engoli seco, empalideci. Ele esperava uma resposta, pois, segundo nós mesmos, ninguém ali tinha problema de audição; ele me questionou, logo eu teria que responder.

- Estou aqui porque fui mandado para cá senhor, - disse eu sem gaguejar.

- Certo, certo, Pereira, você foi m-a-n-d-a-d-o. - frisou. Entendeu pessoal, o Pereira foi mandado, perceberam? - Se eu mandar ele cair no buraco ele vai cair, estou certo fulano de tal?

- Sim senhor! - respondeu fulano de tal. - É assim que funciona as coisas no exército – gabou-se o oficial.

Depois da entrevista pessoal, fomos preencher um formulário, com as mesmas perguntas que ele ele fez e outras mais específicas - mas agora por escrito, para poder fundamentar uma possível dispensa.

Esperamos lá fora depois. Uns já receberam a noticia do dia da apresentação, eu e mais dois fomos chamado para conversar com o capitão. Desta vez, numa sala reservada. Perguntou o porquê de realmente querer servir sendo que a grande maioria queria mesmo é ser dispensada e não tinha coragem de falar; ele ainda me disse que se eu quisesse seria dispensado no questionário mesmo, pois era só eu fundamentar com a minha “baixa acuidade visual” o meu pedido de despensa que seria aceito, pois o primeiro critério era a avaliação física. Mesmo assim eu coloquei que queria servir Ele disse que, infelizmente, para minha sorte o primeiro critério era a saúde física, por assim dizer.

- Este é o primeiro critério de seleção do exército Fabiano, você pode ser negro ou branco; burro ou inteligente; rico ou pobre, mas só sera dispensado caso tenha algum problema de saúde: (seleção natural, frisou) e que, você aparentemente não tem, mas infelizmente você tem miopia em grau acima do aceitável e pelo visto depende de óculos ou lentes de contato. Achei estranho as marcas de óculos queimado de sol no seu rosto e você não apresentá-los. Teve sorte de o seu colega rir num momento inoportuno, pois você seria o meu alvo durante o questionário Pereira, e eu não teria pena nenhuma de você. Nenhuma.

- Lamento, mas você está dispensado do serviço militar obrigatório.