quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A arte da guerra.




A guerra começou. Infelizmente, foi necessário uma tragédia para que tomássemos consciência de que realmente não estamos nos sentindo protegidos. A realidade é esta: estamos completamente desprovidos de qualquer respaldo e, se não bastasse, somos visto como os grandes culpados da falência, descaso e precariedade das condições de segurança que nos são oferecidas; ou seja, para sua excelência, o governador, o fato gerador dos assassínios de agentes penitenciários somos nós mesmos, que estamos nos lugares errados nas horas erradas.

É incrível como realmente não somos enxergados como deveria – as declarações do secretário de Justiça, e, principalmente do governador do Estado, mostra que, realmente os agentes penitenciários não fazem parte de processo algum, que não os de meros coadjuvantes do complexo processo de execução penal.

A panela de pressão explodiu; desta vez, movidos por um momento de tristeza e necessidade imediata do atendimento das nossas reivindicações básicas. Era o que nos faltava – uma prova real e concreta da nossa situação fora dos presídios. Alvos fáceis, à mercê da busca insaciável de vingança por parte dos ex-detentos. Somos extremamente expostos e é inegável este fato; mais inegável ainda é a nossa necessidade de portar arma de fogo.

Caberia explicar para o senhor secretário de Justiça - desembargador aposentado – que, de todas as partes envolvidas, desde a investigação do crime, identificação dos autores, prisão, julgamento, sentenciamento e posterior cumprimento da pena, somos nós – agentes penitenciários que passamos o maior tempo em contato DIRETO com os presos. Cumprimos a pena juntamente com o preso - metaforicamente falando; mas estes argumentos são irrelevante, tamanha a prepotência, desconhecimento de causa e intransigência do chefe da nossa secretaria.

Esta foi a estratégia escolhida pela alta administração: a desqualificação covarde e hostil da nossa categoria perante a opinião pública, expondo situações hipotéticas sobre o caso dos colegas de Londrina, ofendendo a memória do nosso idôneo colega falecido, imputando fatores extraordinários para o assassinato. Sem contar o cansativo uso de frases feitas sobre nosso suposto melhor salário da categoria em todo Brasil e os processos disciplinares em andamento.

Era o que esperávamos, uma enxurrada de acusações infundadas, argumentos surreais, defasados e a negativa de solução para nossas reivindicações.

Talvez, a família do nosso colega, esperava uma manifestação de apreço e condolências do Secretário de Justiça, que devido a sua “extrema sensibilidade”, limitou-se a dizer que “não conseguiremos nada com as manifestações...”.

Nosso poder de mobilização será posto à prova. Mobilização, organização e principalmente nervos. É sabido que será um duelo desigual, todos nós estamos cientes do poder coercitivo que detém o Governador. Com sua postura imponente, é conhecido por ser um péssimo negociador - haja visto que não há negociação - ele impõe, decreta e faz cumprir. Requião é temido pela maneira peculiar que lida com quem o afronta: usa de toda sua fúria e poder até esmagar os opressores. Sua estratégia é sufocar manifestações na fonte, utilizando seus nomeados diretos, pressionando-os a fazer pressão psicológica, terrorismo, ameaça de exoneração e todo tipo de assédio moral.

Beira o absurdo nossa situação: Três colegas são alvo de um atentado, uma emboscada planejada; um é morto, outro ferido gravemente, o terceiro reage baleando o criminoso, que ainda consegue fugir. Ao serem socorridos pelo atendimento, uma viatura da Polícia Militar se desloca ao local e dá voz de prisão para o agente penitenciário que atirou no bandido, o leva até a delegacia onde é lavrada a ocorrência por porte ilegal de arma de fogo. Vale lembrar que caso o colega não estivesse armado, o bandido não recuaria e executaria friamente os três.

Mas este fato em si, pouco importa para as autoridades que ainda não vêem necessidade de legalizar o porte de arma de fogo para nossa categoria.

Vale lembrar que não queremos apenas o direito de portar arma de fogo; queremos treinamento adequado, melhores condições de trabalho, equipamentos de proteção, abertura de novo concurso para contratação de maior efetivo, descongelamento do nosso adicional de atividade penitenciária, estruturação do plano de carreira e principalmente respeito. Respeito como profissionais, funcionários concursados que passaram por várias etapas até a efetivação no cargo, respeito como pais de família fora dos presídios, respeito como cidadãos perante a sociedade.

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