quinta-feira, 1 de outubro de 2009

"Querido diário"...




Os dias tem sido longos em produção e curtos em ócio. A chuva persiste; se faz presente com uma sensação física que não esquecerei tão cedo: o frio. Transpiração física; só senti nos últimos seis quando tive febre.

O trabalho me consome tanto e a tal ponto que tenho preferido ir trabalhar somente de tênis, por serem mais confortáveis para agüentar as doze horas de labuta; sem esquecer de levar no bolso da calça um remédio para dor-de-cabeça - que serve também como placebo para todos as outras “dores“.

No final do dia, a Universidade presenteia meu já desgastado estado emocional com uma tempestade de informações. São todas atrativas e bem-vindas, sempre e em qualquer quantidade, desde que as absorva. Perdi muito conteúdo, devido à recuperação (física e psicológica) e isso me custou as minhas folgas - talvez a única “moeda de troca” que me restara. Não tem sido fácil conciliar os horários de folga com as provas marcadas a esmo pelos professores.

Ler por prazer é um luxo, ver televisão então, somente quando desperta às seis horas e apenas durante os cinco minutos que fico me debatendo na cama, relutante em levantar. Sair de casa somente no itinerário casa/trabalho x trabalho/faculdade/casa. Tenho visto meus amigos com menor freqüência, entretanto não deixei de entrar em contato – faço questão de ligar, escrever, perguntar sobre – assim como faço com a família. Porém, apesar de insubstituíveis, essenciais à minha vida, tenho plena consciência de que não são meus pilares de sustentação.

Tenho resolvido os problemas na medida em que aparecem – sem ruminar muito –, respiro fundo, pego um papel, uma caneta, faço um calendário, rabisco contas, anoto prioridades, vejo as melhores possibilidades e não me desespero. Desenho um círculo no centro do papel, escrevo o meu nome, coloco todos os problemas de forma espaçada na folha e os ligo ao círculo. Uns problemas se ligam aos outros, mas, definitivamente vão se ligar a mim. Diretamente em mim, como deve ser. Infelizmente falta espaço na folha devido à quantidade, mas ao contrário do que imaginava, isso me deixa...

...feliz.

Há tempos relutava em pronunciar esta palavra, ainda mais com tanta propriedade: Felicidade! A desconfiança passou, ainda falo de modo tímido e somente ao espelho, mas sorrio por dentro em público. Este estado é notório, apesar de aparentar cansaço, preocupação, desmotivação – que nada mais é do que resultado de tudo o que passei – a sensação é outra. Eu estou feliz!

Foram trinta dias de reclusão, de adaptação à nova percepção de realidade, do reconhecimento das angústias, limitações, problemas e principalmente da tentativa em solucioná-los - algo que não ocorria em efetivo.

Consegui dizer "não" para o que não convergisse com meus objetivos, estabelecer metas e prioridades - mas o fator preponderante, o grande peso, o desafio a transpor - era lidar com o resultado das decisões; o reflexo que isso ocasionaria na minha vida pessoal e na minha consciência.

Foi dolorido abrir mão da vida de bon vivant que levava, mas somente agora eu posso verificar os estragos que isso me ocasionava – financeira, social e psicologicamente falando. Antes, tudo ficava maquiado pelo prazer imediato no qual eu encontrava na falta de responsabilidade, desorganização e atitude.

Na verdade eu não mudei: antes o desenho existia, o circulo com meu nome e a quantidade de problemas era a mesma - o que não havia era a consciência da existência deles.

Estava cansado de andar curvado - com sensação de carregar um peso enorme nas costas - agora quero andar ereto, esguio, equilibrado; conseqüentemente...
...feliz!





Nenhum comentário:

Postar um comentário