domingo, 12 de abril de 2009

Garçom, por favor traga-me o cardápio.


Numa pequena mesa, de igual pequeno bar; em questão de segundos resolvi jogar todos os dados do meu futuro para cima e deixar cair de forma aleatória.

Entre um gole e outro de cerveja, talagadas de sal e limão - num bar que não era o meu, com pessoas estranhas sentada ao meu redor acompanhado de um dueto agressivo na voz e violão - meus planos vinham à tona conforme abria o cardápio. Tudo organizado como no cardápio - devidamente separado por seções: planos, sonhos, objetivos e seus respectivos preços; contudo, infelizmente, todos ainda bem atrelados ao meu passado.

Meus olhos brilhavam à medida que virava as páginas. Todos me chamavam a atenção: um mais saboroso do que o outro; fazia questão de compartilhá-los com meu também empolgado amigo de mesa - sim, somos jovens, ex- companheiros de trabalho, colegas de frustrações, dissabores e idéias novas.

Inúmeras opções ainda não experimentadas, miscelânea de situações, hipóteses e objetivos, bem ao nosso gosto. Desviava meus olhos do futuro apenas para contemplar a força e habilidade com que a vocalista tocava; porem nos intervalos das músicas meus olhares se voltavam totalmente para os meus planos recém-sorteados.

Os acordes eram agressivos, assim como eu me via diante dos desafios. Sua voz nada doce, combinada com os solos do violão elétrico; inspirava-me cada vez mais a procurar outro lugar ao sol; arriscar algo incerto e impor minhas novas vontades.

Muito do que o som me inspirava, já estava escrito em letras garrafais no cardápio - as ilustrações eram as melhores, todas bem delineadas, nítidas e focadas; contudo, seus preços dispendiosos. O que menos importa quando se trata de vontades são os preços - quanto mais alto, maiores serão as recompensas; quanto mais caros, maiores os desejos em adquiri-los. E se não os alcançarmos, gloriosas serão nossas quedas!

- Cara isso aqui é pequeno demais para nós! Para mim, para você e para qualquer um que não se contente com pouco.

Não, não estava escrito no cardápio desta vez e tão quanto fazia parte das letras da musica; era parte do nosso discurso, expelido às duras penas, competindo com a voz gritante da minha musa - dois grandes amigos numa mesa de bar, cansados das mesmices, das limitações das nossas cidades e seus moradores e da falta de ousadia e valorização profissional. E porque não também do nosso comodismo e passividade (até então) diante de todas estas situações?

O mundo nos espera e nós aqui escondidos atrás de apenas três opções de cerveja e ainda por cima da mesma fábrica?

- Cara, vamos embora desta cidade, deste país!

Trilha sonora: Ravena Senra e maestro Fininho.
Palco: Sr. Buteco, Presidente Prudente - SP
Cardápio: Cerveja, sal e limão. Convidado Especial: Marcelo Rodrigues.

3 comentários:

  1. Cheguei aqui sem querer, vi mais um texto seu, comecei a ler curioso e pensei "pow Fabiano tá escrevendo bem mesmo" depois me identifiquei com algumas linhas, ahah sorte né, tava por perto e são.
    Muito bom cara, Abraço e boa viagem
    Marcelo

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  2. Você me fez pensar sobre o assunto.
    Maldito comodismo que me acomoda :~

    amei o texto, estou acompanhando seu blog
    Bjs :*

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