sábado, 25 de abril de 2009

"Naturalmente má"...

Gostava da forma como trocávamos e-mails - era uma forma de estimular minha criatividade, por em prática tudo aquilo que não conseguia expor na vida real ou não achava quem os queria - nada forçado, apenas algo preso por falta de oportunidade ou "oportunista" (sem pejoração).

A fluidez sempre me seduziu; e, esta, encontrei nas suas perspicazes respostas. Enfim, uma mistura de desafio, desatino e diário. Era minha rotina colocada em palavras, armazenada numa antiga caixa postal; idos tempos onde o provedor apenas reservava míseros dois megas de memória.

Há um dito popular que diz algo como: "para quem sabe ler um pingo é letra..."Os meus pingos são para poucos; há os que os interpretam corretamente; os que se apropriam; ou que se identificam e há também, os que ficam inertes, inócuos com a minha realidade quase sempre instável e invariavelmente contraditória. E o seu tato era peculiar ao que eu escrevia, logo ia de encontro aquilo que procurava.

Gosto, particularmente dos que interagem com frenesi, entusiasmo mesmo que contido. Os louros dos elogios não me atraem; a curiosidade sim, as opiniões e os questionamentos acerca de tudo que gira ao meu redor.

Há quem se apaixone por bocas, por personagens de filmes, de livros – eu por respostas de e-mails; as mais bem humoradas, inesperadas e até as ácidas. A tênue linha da minha realidade era quebrada quando começava a digitar: tec, tec, tec - sem parar. Rápido como um profissional de digitação; aqueles escrivães de delegacia, sem olhar ao teclado, conhecedor de cada detalhe, com um copo de água gelada ao lado, os óculos de grau na rack e o player me inspirando: o piano de Norah Jones, para me adocicar, Rage Against para não perder uma boa briga e Dylan para aflorar as idéias.

A partir do momento em que as nossas realidades se cruzaram, há um bom tempo atrás, não soube reagir como nos meus e-mails. De repente o meu teclado era outro, não podia apertar o “delete”; nos meus atos infanto-juvenis; ou inconseqüentes/incontroláveis impulsos sexuais – sempre eles.

Não era somente sexo - era texto, parágrafos devidamente pontuados, era o proibido, as conversas, a sua experiencia, a forma como pegava na minha nuca e olhava no fundo dos meus olhos. Rápido como um reinício no computador; porém tão desastroso o fim quando o apertar de uma tecla errada. Apertei o power, tirei do “reservadamente” e somente tentei salvar meus textos - conseqüentemente a minha pele.

E com um ato de covardia, apertei o botão vermelho aos quatro cantos, exatamente: quatro vidas. Pouco sei depois disso tudo, apenas imagino que todos perderam; inclusive a mim. Textos, amores, você, eles, todos.

E agora, depois de tantos anos remexo na caixa de pandora, retiro a teia de aranha da caixa de mensagem: agora com não mais tão pouco espaço, peço desculpas, perdão, justifico e envergonho-me de tudo, como sempre.

A pergunta tão objetiva que me fizeste, ainda não tenho a resposta. Quem sabe não venha algum tempo com suas excelentes retóricas por e-mail.

Muita coisa mudou, eu sei. O meu senso de humor continua o mesmo, o problema da memória recente também é uma tormenta; todavia meu sentimento de culpa fora aprimorado com os vários anos que se passaram.

Caso seja de seu interesse, seja bem-vinda novamente aos meus textos, “naturalmente má”....


3 comentários:

  1. Oh...como uma droga que sei que vai me matar...mas o resultado imediato ainda sim é o terrível prazer !!!
    Como um analfabeto diante de um livro...que promete a si mesmo "um dia aprender a ler".
    E assim, decifrar o que esta dentro pra degustar com mais segurança o que percebe fora!

    L

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  2. AH ...não tem figura, gravura nada??
    imagens ....cade?

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  3. As gravuras estão todas aí, mas em forma de palavras; confesso que coloquei "gravuras" demais - estou desnudo, alegre, triste, arrependido e tudo mais. Veja com seus próprios olhos as fotos!
    Se cuida L.

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