segunda-feira, 20 de abril de 2009

Um dia frio...



Tem dias que o melhor que temos a fazer é ficar em casa, tirar aqueles velhos livros do armário -os mesmos que compramos há muito tempo, mas nunca nos importamos em sequer passar pelo prefácio; ou abrir a dispensa e procurar a última garrafa de vinho, aquele que fica escondido, em local com umidade minima no armário - de preferência um tipo de vinho com aroma pouco festivo e sabor totalmente melancólico, altamente concentrado nas minhas reflexões.

A trilha perfeita seria um clássico dos anos setenta, algo que remetesse à reflexão, revolução e dias prósperos a favor de todos; sabemos que as revoluções foram em parte inspiradoras a muita coisa, então porque não inspirar-me nelas para chacoalhar meu estado de espírito. Janis seria a escolhida; a priori, - com sua voz rouca e estridente, faria todos os meus músculos relaxarem, encostados na velha poltrona enquanto o vinho elevava meu estado de melancolia.

Sinto falta de uma inspiração feminina na minha vida; inspiração, expiração, excreção, transpiração...Algo que venha de fora para dentro, com uma força tão descomunal que seja desnecessário qualquer esforço para penetrar na minha corrente sanguínea.

Cansei da minha existência emocionalmente solitária e estável. Agora, acomodado com a minha situação enquanto não chega a hora de jogar tudo para cima, fazer as malas e ir ver minha paixão. E que seja arrumar as malas apenas para ir no bairro mais próximo, mas que seja uma viagem, uma mudança na minha vida, na minha rotina, que seja a substância que faz falta correr pelas minhas calibrosas veias.

Há quanto tempo não sinto isso? Porque ainda é tão latente nos meus sonhos, na minha rotina. A vontade que tenho é parar todos me cruzam comigo, olhar nos olhos e perguntar: É você??? É você que eu procuro??? É???

Afinal de contas o que corre pelas minhas veias? Paixão, objetivos, sonhos, frustrações. medo?

Domingo, na maca do hospital, tentando me recuperar de uma pseudo-virose-refluxo-esofágica-etílica; enquanto a solução fisiológica penetrava nas minhas veias, podia ver clara e lentamente meu sangue voltando aos poucos pelo escalpe e se misturando à outra substancia, tudo em câmera lenta; uma interação homogênea, porém o meu sangue sempre prevalecendo - impunha sua solidez a englobar a outra, aumentando seu volume sempre, mesmo que em pequena quantidade.

O que vem de mim - desde que me tornei completamente independente de tudo e de todos - sempre prevalece; e confesso que estou cansado. As influencias externas pouco tem efeito na minha personalidade; enfim estou formado; logo pela vida, pelas circunstancias sinto-me calcificado.

Sempre me gabei de ser socialmente convivível, de fácil tato, lido. Ledo engano! Acostumei-me com o meu espelho que não cobra quanto faço ou desfaço da minha vida. A auto-suficiência impede criticas internas e logo eu que sempre tenho todos os argumentos do mundo, acabo me perdendo em aceitações.

Tudo o que eu faço é aceitável, natural e cabível: as justificativas são utilizadas apenas para manter o meu padrão de descanso, encostar a minha cabeça ao travesseiro e dormir bem.

Aproxima-se a estação do inverno; digo aproximasse porque entramos agora no outono, mas por suas características outono não em remete a estação por sua total indefinição de clima. E não por ventura, estou fugindo de tudo que o previamente traz indefinições. Estou bem protegido para as indefinições – da estação, claro.

Um comentário:

  1. Quem nunca sentiu essa vontade de perguntar ...
    - Heiii é vc quem tenho procurado sem saber!!!
    pois é , mas nem sempre ou quase nunca os melhores encontros acontecem quando estamos procurando por ele...
    Procurar não é o primeiro passo ao caminho certo ...

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