terça-feira, 19 de maio de 2009

Administração.

Enquanto parte dos alunos já se fora antes do início da aula e, dos que restaram, a grande maioria dos presentes apresentava-se devidamente alcoolizado; o professor apressadamente toma seu lugar. Uns estão lá apenas porque esperam chegar o transporte e outra ínfima parcela, sã; porém entorpecida com os temas em exposição, interagem sozinhos - pensando e concluindo sem ao menos externar seus pensamentos sociológicos com os outros colegas por falta de oportunidade.

Nosso cientista social traça uma linha cronológica na historia - passando por estruturas governamentais até bebidas alcoólicas feitas com salivas de indígenas - Seu conhecimento histórico é o mais amplo possível; vejo-o como o homem que sabe demais; de todas as coisas do mundo; um excelente contador de histórias - a Wikipédia em pessoa.

As aulas são interessantes; apesar de que apenas ouvirmos, ouvirmos e ouvirmos. Trata-nos como se não soubéssemos das origens dos sistemas; dos povos que habitavam o oriente médio antes de Cristo, ou o porquê de o Google ser o dono do mundo hoje.

Acho engraçado a forma que ministra suas aulas: sempre quando diz algo que, supostamente é interessante no seu entendimento, ele ri! Igual aquelas propagandas retrô de sabão-em-pó, onde a dona-de-casa aparece sorrindo ao lado da sua salvação do lar!

- Compreenderam onde eu quero chegar, classe? - Pergunta com empolgação de docente do primário!

Muito do que meus professores do ensino médio não se atentaram devido a seguir a linha burra da “educação” - obrigado PSDB-SP, pelas minhas bases escolares – estou vendo agora de forma rápida e concisa - obrigado!? PMDB, pela verba destinada às universidades públicas do Paraná e pelos poucos livros atualizados que nos proporciona e nos obriga a pesquisar mesmo!

Pois bem; a aula é de Sociologia, certo? Certo! Então que tal uma pergunta; uma para interagirmos professor; uma pergunta para debatermos juntos em sociedade estudantil - somos universitários, temos bons argumentos, senso crítico, alto nível alcoólico no sangue, hormônios! - Pensei.

Como que, num estalo, sem rir desta vez, nosso algoz - para a surpresa de todos pergunta:

- Por acaso vocês saberiam me dizer porque vivemos em sociedade classe?

- Opa! Como assim? Como assim professor? Sociedade, o que é isso? - Voltemos às histórias da antiga Grécia, da organização dos Maias, dos hábitos alimentares da tribo dos Massai... - Caralho que porra de pergunta é essa? Interação na sua aula? Quando? - Pensei.

O silencio (como sempre) continuou a pairar sobre a sala. Acredito que muitos pensaram em responder; apesar de tudo, prestamos atenção nas aulas e somos aplicados; e se estamos na sala de aula de uma universidade pública é porque queremos e não porque ficamos com a consciência pesada ao ir embora e ter que pagar mensalidade.

Ninguém respondeu; mas acredito que - muitos assim como eu pensaram em responder - afinal de contas, somente pensamos em responder, pois sempre que faz uma pergunta. o próprio emenda a resposta como se só ele soubesse a resposta do determinado assunto.

Agora sim, diante do silencio, o sorriso irônico do cientista social voltou! Acostumado com os pacientes ouvintes, desta vez ele titubeou e nos deu segundos preciosos que proporcionaram uma resposta. Disseram em voz baixa: - Deve ser por extinto professor, vivemos em sociedade por... Delicadamente ele retrucou; - Que instinto o que!

Logo as manifestações começaram a dar o tom do debate; desta vez o sorriso sumiu de sua face e se viu diante de uma situação atípica; os alunos logo acertariam a resposta de uma pergunta nunca debatida em sala de aula; algo fora dos padrões das aulas de história das sociedades, do professor Forest Gump.

Eu sequer cogitei interferir, ainda mais após a patada; a primeira vista a pergunta parecia ser complexa demais para os nossos padrões de calouro. Tão complexa era a pergunta que a resposta se fez a mais simples possível - assim como todas as reflexões sobre comportamento social deveria ser.

A resposta da pergunta senhores... - disse arqueando as sobrancelhas e baixando o seu tom de voz pigarrenta, - ...é que vivemos em sociedade porque não podemos não viver em sociedade!
Olhamos pasmos e abismados para seu rosto e com o sorriso novamente estampado na cara ele concluiu.

Boa noite! - Finalizou, reunindo seu material; esquecendo-se de fazer a sua piada repetitiva com nosso simpático colega mais experiente da sala e foi-se!

Os bêbados, os céticos, os apressados, os nerds, os interessados, os dependentes de carona, os necessitados em presença nas aulas de sociologia e o resto; reuniram seus materiais e também foram embora.

Definitivamente este é o curso da minha vida e prometo que será o último!

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