domingo, 10 de maio de 2009

Para minha "mãe".



Fiquei acanhado em ligar-te mãe, mas saiba que mesmo assim pensei muito em ti. Sou completamente disléxico com datas comemorativas, mas não alheio aos movimentos da humanidade - promoções, cartazes, recados na internet, infestaram a cidade e o planeta consumo. Sim, hoje é o dia das mães, mas não é somente o seu dia e sei disso.

Nossa relação sempre foi estranha: é estranho quando nos falamos, estranho quando nos abraçamos, estranho quando nos vemos e nos beijamos de forma desajeitada - é tudo muito estranho.

Hoje, confesso que muito do que se passou, eu assimilei e entendi, mas ainda como um mortal e como um “fraco” (este adjetivo admito apenas àquela que me gerou: você!) que não tive coragem de te ligar e dizer que a amo.

Mal sabe você que tenho um blog; não imagina que eu escrevo muitas coisas aqui a seu respeito, coisas que não tenho coragem de dizer-te cara a cara e, na única vez que tive coragem, ensaiei dois meses. Estou levando e relevando. Sempre caio e levanto e você nem sabe; auto-suficiente como sempre; ou pelo menos tento. Sabe de muito pouco do que se passa comigo.

Talvez eu devesse mesmo te ligar agora e dizer TUDO em detalhes o que eu fiz esta semana, sem constrangimento algum, talvez devesse pedir dinheiro quando precisasse, como todo filho faz; ou colo, carinho e atenção, como todo filho faz; ou simplesmente dizer que estou com saudades e te amo, como todo filho faz!

E por se passar tanto tempo mãe, isso hoje não é possível; eu travo, não sai – calcifiquei. Há, fiz tantas coisas erradas que precisava te falar, precisava desabafar, não queria colo, compreensão, apenas uma outra voz do outro lado do telefone, sem reação, apenas ouvindo o filho falar.

Não sabe como é difícil para mim escrever isso, imagine falar - não sabe como as lagrimas caem com facilidade dos meus olhos agora - estou aos prantos como nunca. Há tempos não me sentia tão frágil, tão humano, mãe.

Eu não consigo parar de tremer, de chorar, estou desesperado, agoniado, berrando. Não consigo chorar com freqüência sabia? Pode morrer amigo, podem matar inocentes, podem se casar, terem filhos, mas eu não choro – mas eu tenho meu calcanhar de aquiles e sei que você é parte fundamental dele; você e ele.

As lagrimas que escorrem desesperadamente agora do meu rosto estão servindo para lavar minha alma, serve como consolo da minha falta de coragem, da falta de tato, de compreensão de minha parte, da minha ignorância e egoísmo que sempre me fez olhar para o meu rabo de filho.

Você teve papel fundamental na formação da minha personalidade, você sabe e não quero te cobrar por nada mãe - pena que foi tudo tão indiretamente que não criamos um vinculo afetivo; vinculo acima de qualquer questionamento. Não o temos e isso me faz chorar, me faz ter vontade de arrebentar a janela do meu apartamento com o peito e voar do sétimo andar para os braços do desconhecido.

Os copos d´ água com açúcar não estão sendo suficientes e para os diabos os calmantes, não sabe como os consumo. Freneticamente! Não fumo, não tomo café e bebo com muita freqüência. Eu queria isso mesmo mãe – chorar, ter que aumentar o rádio para que ninguém ouvisse os meus sussurros de sei lá o que, de fraqueza, de desabafo. Um misto de saudade, culpa, raiva, arrependimento.

Há, nunca me expus tanto assim sabia? Tenho certeza absoluta que não lerá isso, mesmo sabendo que me influenciava muito a ler, você não lerá isso. Sabe que aqui é meu cantinho e se um dia ler, guarde para si, reflita, mas não se culpe ou se condene – lembre que somos jovens ainda, temos uma família aparentemente e o vinculo sanguíneo filho/mãe.

Nunca pensei que fosse ficar assim, deveria ter mesmo ficado apenas na mensagem que lhe enviei, friamente pelo celular - supostamente alegando estar no trabalho, mas no final das coisas foi a melhor coisa sentir novamente lágrimas escorrerem pelo meu rosto indefinido, pela minha cara de confuso e ao mesmo tempo auto-suficiente – acima de qualquer suspeita.

Queria que fosse de uma maneira mais tradicional; que almoçássemos juntos, pudesse enviar-lhe flores ou ligar dizendo que está tudo bem, mas não consigo – por Deus, eu não consigo! Juro, mãe, não sai!. Queria um dia olhar nos seus olhos e dizer sim, que te amo e que sinto a sua falta e que me arrependo de ter ido embora e de um dia ter te culpado por um problema que somente se referia à minha carência afetiva.

A ferida nunca vai se fechar, ignorei, tentei adiar, pensar em outros assuntos mas esta tudo aqui mãe – isto é a resposta que tanto pergunto todos os dias, cada a ato de responsabilidade, ou desatino está ligado à tudo isso. É um câncer, posso controlá-lo, ignora-lo com remédios e ter uma boa condição de vida, mas estará sempre presente nos meus exames de ressonância emocional. É aquela agua suja que ainda insiste em correr pelas minhas veias.

Mama, queria tanto que adivinhasse o que eu sinto, queria tanto que tivesse a empatia mãe/filho, queria tanto, tanto, tantas coisas, tanto mas tanto que até não acho justo.

Lamento por tudo o que se passou, por tudo mesmo. Assumo minha parcela de culpa por ter me calado, por ter externado da pior forma possível tudo aquilo que eu pensava. Lamento por ter tido que perder parte da sensibilidade da mão direita, alguns tendões e nervos do pulso para que você olhasse para mim como eu queria.

Lamento por tudo e sei que é recíproco – inclusive este medo de APROXIMAÇÃO, de tentar conversar sobre tudo o que se passou.

De qualquer forma, aqui eu consigo dizer que TE AMO de todas as maneiras possíveis, e que tenho orgulho de ser seu filho e sinto por DEMAIS sua falta. Espero que tenha gostado da mensagem, foi o máximo que a minha capacidade de “tocar em feridas do passado” conseguiu – uma mensagem de sms.

Retiro os óculos, enxugo as lágrimas, abaixo o radio, engulo seco o ultimo gole d´água juntamente com um calmante, respiro fundo e vou dormir mãe – com os travesseiros encapados com as fronhas que me deu – obrigado pelo dom da vida, mãe.

5 comentários:

  1. Aim Fá! que triste! assim deu vontade chorar com teu post!
    mas foram lindas as palavras, Deus queira que uma hora vc fale isso tudo pra ela!

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  2. Fabianos... triste né, cara as mães são as pessoas mais difícies de enfrentar mesmo quando é pra satisfazer, e elas acham que os filhos é que são, e assim essa relação sempre se mantém em equilibrio.

    Parabens pelos textos, pela qualidade de todos.

    Se trombar um o livro A Mãe do Freud de Luiz Fernando Verissimo, ria e se sinta um filho mais feliz. eheh

    Abraço

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  3. ow Fá..
    esqueci de assinar o comentario

    Marcelo :)

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  4. Veríssimo será alvo das minhas férias em junho!
    Abraço meu grande amigo!!!

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