segunda-feira, 8 de junho de 2009

Bola quinze.



Sábado, sobrepondo meu corpo sobre uma mesa de sinuca, iluminada apenas por uma lâmpada fluorescente - que de tão amarela, parecia uma incandescente comum - e, utilizando um taco perfeitamente esférico no seu diâmetro; proporcional ao meu tamanho - resolvi me testar.

Apesar de econômica, as lâmpadas era frias, iguais a maioria dos que nos cercavam. Não havia sinais de fumaça, sub-solos; descaracterizando, assim o local como um original Pub - a contar, também, pela quantidade de bancos ao redor do balcão, que era mínima. Mas era alternativo, agradável e seletivo; as pessoas ao nosso redor inspiravam cultura (e não transpirava, devido ao frio); e havia grande diversidade de marcas de cervejas e alguns grupos já fechados de pessoas aparentemente interessantes.

Conversas esporádicas foram surgindo, aos poucos o frio interpessoal entre os grupos fora esquentando. Havia inúmeras possibilidades ao meu redor, ninguém me conhecia mesmo – sequer superficialmente; afinal de contas, o mundo não é tão pequeno assim. A não ser meu parceiro de jogo - no qual dividimos o apartamento a seis meses apenas - tão inapto para jogos reais quanto eu. Era como sair da casca novamente; e realmente eu estava.

Utilizamo-nos da lógica; por ora, para jogar - bastava mirar, bater com força proporcional à distância e preparar a próxima tacada. Estávamos nos dando bem, afinal de contas nos víamos diante de adversárias, - tão adoráveis e divertidas quanto filhotes de border collie´s que escapam da casinha num sábado a noite. Adoráveis pessoas, mas num primeiro momento distante de mim - o digamos, novato do grupo.

Tocava clássicos dos anos setenta, oitenta, geralmente em versões ao vivo; alternando com “indie”; “punk”; Roberto Carlos; “ e até Tim Maia. - Há os metais hein! - Que saudades de Tim...
- Você toca Tim? - perguntei empolgado ao meu colega de apartamento que toca violão. Confesso que antes, nossas saídas se resumiam a descer do elevador apenas, mas – apesar de sermos completamente diferentes - tratou-se de uma excelente companhia para beber.

Nossas companhias (inteligentes e descoladas) estavam inquietas; por isso tratei-me de concentrar no jogo, contudo sem tirar os olhos de quem estava ao meu redor. Fiz comentários com base na minha observação com uma das adversárias sobre as suas companhias - e me equivoquei! - Não ela não é mau-humorada, fique tranqüilo Fabiano, ela deve estar te olhando assim porque você estava entretido numa conversa com uma ex-namorada dela. - Há sim, claro – pensei.

Mesmo diante do olhar desafiador, não me intimidei; afinal de contas tínhamos algo de muito intimo em comum, mais até do que um relacionamento lésbian chic. Parece ridículo, mas trabalhamos com um mesmo programa de computador durante um tempo em nossas vidas. Não se encontram pessoas assim perdidas, ainda mais num sábado sábado à noite.

As minhas intenções eram as mais divertidas o possível, enfim; estava relaxado e já tinha quebrado um maldito copo inconscientemente por vontade própria – odeio tomar cerveja em copos tipo “americano”, e só estava preocupado mesmo era em ter que acordar às sete horas da manhã de terça - feira para recepcionar a nova “colaboradora” do apartamento: - Sargento Dona Maria.

Eu era uma pessoa sem intenções aparentes, num lugar com pessoas com muitas intenções e destinos já pré-definidos; noite regada com a cerveja que era uma das minhas preferidas – cuja Inbev ainda não comprou - já com mais de 700 anos de tradição alegrando e mudando os destinos dos seus fiéis consumidores.

A cada talagada minhas tacadas ficavam cada vez mais precisas e o olhar aguçado e seletivo; estava me sentindo o ás do snooker e ao mesmo tempo percebia estar sendo observado. Não por ciumes desta vez, mas por curiosidade; de outra adversária - agora pela forma ambígua como eu conversava com todos ao meu redor, sem deixar claro o que realmente eu queria ou era.

E por incrível que pareça, só foi preciso usar de sinceridade, apenas falar a verdade para uma breve aproximação. Eu só queria me divertir (conceito subjetivo); ouvir boa musica (optativo) e beber o suficiente para voltar dirigindo (necessário). Nada nas entrelinhas...sequer haviam entrelinhas...

Depois de algumas partidas e conversas descontraídas e divertidas chegamos a uma conclusão óbvia: - Você não gosta de mim, tão-quanto eu de você; não é o amor da minha vida e nunca será, – certo? - Certo meu caro! É puramente momentâneo e físico! Exatamente! - Ótimo, fomos feitos um para o outro neste sábado à noite – afirmei, enquanto tentava me desvencilhar agora dos olhares da colega de software.

É inegável não se sentir atraído por pessoas fisicamente, algo intrínseco e tão natural que foge do nosso controle. Esbarramos apenas na oportunidade e no momento em que estamos vivendo e, no meu caso, especificamente - não é o de provações.

Infelizmente cometi um erro primário mas que massageou meu ego; não fora planejado, mas sim tentado, fui desafiado, acometido por uma oportunidade em mil. Era único o resultado esperado, depois de tanta conversa; de olhar dentro dos olhos da pessoa que, de repente estava desnuda na minha frente, feliz alegre e confiante - poderia ter colocado a “coleira” e levado-a para passear e depois a devolvido ao seu dono, que não era/nem queria ser eu! Pelo menos àquele instante.

Senti tentado, claro; Stella Premium Beer sempre me deixa bem maleável e há tempos não conhecia/saía com ninguém, desta forma, tão informal e sem compromisso, aliás – desde que parei de beber, sequer saia de casa...

Eu cedi momentânea e publicamente; foi divertido, fullgás (tal qual Marina Lima cantando enquanto jogávamos) e sai com algumas pequenas escoriações nos lábios, devido a tamanha voracidade, furor e libido - resposta dada pela minha adversária da mesa de sinuca, aos estímulos que ofereci, sentada ao meu lado e me prendendo com os braços para que eu não me levantasse.

Precisava pegar a última cerveja, junto ao balcão e (…) aceitou; aproveitei e me despedi da que conhecera logo no começo; estava rodeada por quatro caras, mas não me fiz rogar - interrompi educadamente a disputa, peguei o telefone, e-mail e trocamos elogios, combinamos de sair, descontraidamente.

- Você está pegando o telefone da minha amiga, perguntou sorrindo (...). - Sim, combinamos de sair qualquer dia desses para conversar, tomar alguma coisa, conhecer gente nova, fazer o que estamos fazendo hoje; eu e você...- respondi tranqüilo, leve e feliz.

- Vamos embora? Eu te deixo na casa do seu namorado. - sorri. - Só se me prometer que me pega daqui meia-hora? - promete? - sorriu também.

Pouco me importava o resultado de tudo - desde o copo quebrado ou a oportunidade de voltar para casa como cheguei – apenas com meu colega de apartamento, - e foi o que aconteceu; apesar do convite para pegá-la em meia-hora, depois que deixássemos o bar, pois já teria jogado tudo para o alto com o ex.; preferi não ligar; preferi não interferir novamente na vida das pessoas; não mudar o curso comum de relacionamentos já estabelecidos; confundir a cabeça de quem tem dúvidas; influenciar e tirar proveito da situação que não trariam nada mais do que uma leve dor na consciência.

Preferi ir para casa, escrever para uma pessoa nunca vi e me consome a cada instante; baixar a discografia do Tim Maia (bem oportuno); comer o resto Doritos que ficara sobre a minha cama, enfim; sinceridade acima de tudo - até da libido...

2 comentários:

  1. "...Todo mundo espera alguma coisa de um sábado a noite..." e como dizia Tim Maia "...Na vida a gente tem que entender que um nasce pra sofrer enquanto o outro ri..." e sê forte como a libido que te consome.

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  2. Preferiu ir prá casa jogar outro jogo. :o)

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