quarta-feira, 3 de junho de 2009

E se eles querem meu sangue...


Independente dos meios, o que realmente importa, na atual conjuntura, é que o resultado final seja atingido, e que beneficie a todos - indiscriminadamente. Pois bem, guarde este início, pois será muito útil antes de me queimarem na fogueira dos egoístas, antiéticos e desalmados.

Certa vez, por necessidade precisei doar sangue, isto faz um bom tempo, há dois anos atrás, quando ainda era da área da saúde/biológicas, usava branco, cabelos raspados, jogava futebol de salão e tinha até uma namorada fixa. Até então, nunca senti necessidade de doar sangue; até porque, nunca precisei de uma bolsa de sangue alheio, então para que me submeter à isso?

Lembro-me de casos famosos, se não me falhe a memória - daquele cantor sertanejo da dupla Leandro e Leonardo - que morreu de câncer. Em vida acredito que, por mais altruísmo que possuíra - jamais pensou em doar parte do seu patrimônio para um Hospital de tratamento para doentes de câncer ou sequer uma parcela ínfima daquilo que arrecadava com seus shows, seria destinada a pequenos e inocentes leucêmicos.

O “Super Homem”; Christopher Reeve - que caiu literalmente do cavalo e ficou tetraplégico- sequer imaginaria que um seria apoiador e financiador de campanhas para estudos sobre células embrionárias enquanto usava sua capa e era à prova de balas.

A mãe do Cazuza e a sua campanha de prevenção a AIDS, o ator Paulo José divulgando os perigos do Mal de Parkinson e inúmeros outros casos; não só de pessoas famosas, mas das que tomam ônibus para trabalhar, estão na fila do banco, esportistas e enfim; nós mesmos.

Fato é que realmente despertamos nosso espírito de “amor ao próximo” quando realmente somos afetados diretamente ou indiretamente sobre algum fato que venha a nos interessar. Não considero um defeito; na verdade é humano, bem humano, pois nos “acionamos” melhor quando somos estimulados e nada melhor/pior do que um estímulo ruim, sentirmos na pele a necessidade e descruzar os braços.

Eu me incluo nesta categoria e você também; - sim, você e eu! - Não adianta olhar para o lado, porque é com você mesmo que estou falando.

Diga-me quantas horas do seu ano; - eu disse “ano” - você dedica a serviços voluntários? Acredito que tenha ficado encabulado (a) tanto quanto eu em não poder encher a boca e responder: mais do que você imagina.

Pudera, afinal de contas temos tantas tarefas; trabalho, família, estudos, casa e até o cachorro; não nos sobra tempo para olharmos as necessidades dos que desconhecemos. Sabe, vendo por outro ângulo podemos justificar nossa comodidade com desculpas: - A culpa é do Governo, pago meus impostos em dia, ele que se vire! Ou algo mais “aceitável”, tal como: - De que adianta eu fazer a minha parte se você não faz a sua; senão que tal: - O que eu fizer não mudará coisa alguma.

De todas as correntes, eu como ser humano me enquadrei em várias – invariavelmente, de acordo com a necessidade (minha). Isso já diz tudo e me envergonho em admitir, mas é a verdade.

Altruísmo é um dom; é dedicação, é paciência, é reciprocidade. Ajudar as pessoas que mal sabem que você existe, logicamente parece a maior perca de tempo, ainda mais quando não irá receber nada em troca, mas há algo de mais sublime nisso, mais do que o "receber"; há uma satisfação interior que nós pecadores ainda não tivemos tempo de senti-la. Minha avó sempre nos ensinou como filosofia - arduamente aprimorada nas lavouras do interior de Minas Gerais: “Fazer o bem e não olhar a quem.”

- Cresci com isso vó e faço o bem, mas este “bem” limita-se ao meu círculo de convivência. Dou a vida pelos meus amigos, faço questão de vê-los bem e felizes, faço o impossível pela minha família, dou o sangue pelos meus colegas de trabalho, literalmente.

Quantas vezes não acordei, ou melhor, fui acordado de madrugada com um telefonema de alguem próximo, aos prantos, soluçando; se necessário fosse, correria para hospitais, delegacia, caixa eletrônico para emprestar dinheiro ou ficava somente consolando, ouvindo e passando a minha noite em claro para poder vê-los bem.

- Fazer o bem e olhar a quem, vó. Somos limitados e por mais puras que forem as nossas almas e atitudes, vivemos por afinidades, logo, tornamos limitados apenas ao nosso círculo de convivência. É algo que talvez não tenha aprendido quando da sua infância sofrida, mas fizemos questão de aprimorar. Sempre queremos algo em troca e não podemos esperar o mesmo de desconhecidos, quiçá os conhecidos nos oferecem. Resumindo: não podemos resolver todos os problemas do mundo, mas se todos os círculos de convivência fizerem o mesmo – podemos atenuá-los, entendeu querida? - Não né? - É complexo, eu sei....Mas estou ampliando minha visão - vendo além do meu umbigo, dos umbigos conhecidos e me preocupando mais com umbigos de estranhos, mas que precisam de ajuda; as vezes até mais do que os nossos.

Tudo isso passa por: frustrações anteriores, instinto de sobrevivência, prioridades e um sem-números de fatores e desculpas. Não é somente puro egoísmo generalizado.

Aos que morreram, pararam apenas no estimulo, sequer tiveram uma iniciativa; já os sobreviventes tiveram uma reação, que por sinal, beneficiaram muita gente e nunca é tarde. Todas as atitudes são louváveis, independente do que as motivaram, várias pessoas se beneficiarão do “egoismo” dos “Leandros”. Da visão capitalista das empresas que doam somas em dinheiro para instituições filantrópicas somente para abater do Imposto de Renda; dos que dão as suas moedas no sinal e acham que fizeram a sua parte e daqueles que doaram sangue apenas para conseguir uma dispensa no trabalho.

Poderia ser diferente? Claro que poderia, mas para isso precisaríamos mudar o mundo, frear o capitalismo, desentortar pessoas limitadas e, em alguns casos, abrir mão de nossas prioridades e que, na maioria das vezes, desconhecidos não fazem parte delas - até que alguém próximo passe por uma necessidade similar.

Um comentário:

  1. Sejamos egoístas com o nosso tempo e a nossa dedicação ao tentarmos ser mais altruístas.

    Texto convidativo a reflexão...

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