segunda-feira, 15 de junho de 2009

Por que você é assim?





Tinha um grande amigo, um ex-colega de trabalho que conseguiu sua transferência e fora para perto de sua família – idos do primeiro bimestre de 2008. Gostava de trabalhar com ele – tinha experiência, responsabilidade e autoridade no trabalho; sabia como cobrar todos, individualmente. Tinha uma habilidade interpessoal interessante, que aceitávamos tacitamente: a liderança.

Indiferença ou respeito, comigo não havia cobranças - apenas uma maldita pergunta; ora envolta em ironia; ora dúvida.

Ele era pragmático, estereotipado dentro e fora do trabalho: machista, hipócrita e às vezes ignorante. Fazia jus à sua criação, seu estado civil e a sua comodidade/estabilidade financeira, devido à sua abastada esposa. Sua vida era o seu trabalho, as duas tarefas sistematizadas e bem executadas - era ineficiente nos meios, mas eficaz nos objetivos. Assim como todo funcionário público – por motivos que excedem nossas competências; logo, ineficiência não significa deficiência, mas respeito à legislação, normas, portarias, decretos e um monte de "papeizinhos" colados para não nos esquecermos quem manda!).

Gostava de observá-lo e ele fazia o mesmo quando nos cruzávamos pelos extensos corredores da penitenciária - enquanto eu formalizava meus comentários acerca do trabalho; sério e preocupado, ele me fazia a maldita pergunta: - Por que você é assim? - sorria. - Por que você é assim? - esbravejava-se. Por que você é assim? - preocupava-se.

- Porque você é assim? Sempre a mesma pergunta durante o trabalho. Sempre! Mal sabia ele que isso tinha extrema influência nas minhas noites de reflexão; obvio que não era a sua intenção e mal sabia o cunho íntimo e até filosófico de tal questionamento. Sua pergunta, - aparentemente fraterna - servia-me como um despertador que tocava sempre quando algo dava errado; latejava a todo momento – desde de no transito até na ordem de lavar-me ao tomar o banho.

Olhava para o espelho e ouvia: - Por que você é assim? Deitava ao travesseiro e gritavam ao meu ouvido: - Por que você é assim? Por que você é assimmmmmm???? Tentava correr e sentia reverberar por entre as paredes do meu vazio apartamento: - Por que você é assim?

Ecoava aos quatro, cinco, todos os cantos. Era a pergunta mais vaga que já ouvira; mais idiota; mais rude; cruel; primária e mais torturante da minha vida. - Por que eu sou assim.

Nunca parei para respondê-lo pois não teria tempo necessário para ouvir ou talvez esta não fosse a sua intenção; talvez fosse uma forma de incentivar e cobrar ao mesmo tempo; desafiar-me; deixar-me em dúvida; alfinetar-me ou não - fosse somente; tão-somente um cumprimento entre grandes amigos – algo do tipo: “Eí cara, vamos lá!!!”

Deve ser; afinal de contas - apesar das enormes habilidades profissionais - meu colega também tinha suas limitações e acredito que também não teria argumentos para responder a própria pergunta.

Mas espera aí! - Vamos lá onde? Onde quer chegar cara? Como assim, vamos lá? Que “lá”?


2 comentários:

  1. Resposta rápida: porque deus quis assim! =o)
    Prazer, Mica! =o)

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  2. É, meu caro... cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é...rs
    Bjs

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