quarta-feira, 24 de junho de 2009

Que horas são agora?

O silencio pairava sobre todos os cantos; era tarde, bem tarde – eu, como sempre procastindo minha vida - só que esta vez de uma maneira menos destrutiva, pacífica e silenciosa; de forma simples, olhando pacientemente para o relógio.

A chuva da primeira noite de inverno era incessante e fina; na verdade era uma névoa traiçoira, assim como a sua companheira inseparável: a escuridão, infinita e fria – típica de inverno. Esperava um “tic, tac”, mais acelerado, mas nada. Só o silencio imperava. Uma sensação prazerosa, ilimitada para pensamentos inconclusivos, apenas pensamentos....

Relógios de computadores são estranhos, não geram ansiedade alguma - não há sons e não se sabe quando irá trocar os minutos - o passar das horas não é sentido ou ouvido. A sensação de ócio era alimentada pela cadência da bobina do despertador – tal qual um coração de um ritmo só.

Gostava dos velhos despertadores de corda, daqueles que caíam no chão e eram indestrutíveis – de metal fundido dotado de um mecanismo simples, mas que quando quebrava era o fim. Os vermelhos - os mais efusivos, destacavam-se sempre, pois ninguém os perdiam de vista, estava sempre com seus dois grandes pratos sedentos por despertar quem quer que fosse à quilômetros de distância.

Chamavam a atenção pela sua forma assimétrica; por ser objetivo e fiel; porém movido a estímulos. Estava sempre sendo observado por todos, mas apenas quem realmente se interessava dava corda. Muitos achavam desnecessário, pois alguem já teria o feito; outros exageradamente, faziam questão de deixá-los estupefatos, achando que desta forma, sua energia duraria mais tempo.

O mecanismo do despertador era o mesmo do coração, alimente-o e nunca o deixará na mão; estará sempre pronto para acordar-te para a vida; sentir-se vivo, desperto. Com a vantagem de o despertador de corda ser inquebrável e não alterar o ritmo. Bastava que alguem fosse lá girasse ao contrário as suas hastes até que ouvesse um travamento: pronto! Não cobrava, não precisava de energia, não adiantava os ponteiros sozinho, atrasava ou falhava. Tudo mecânico, programado e fiel – em contrapartida tornava-se um obediente escravo dele.

Mas o grande entrave estava quando alguém me dava corda demais, sem intenção alguma e esquecia-se de olhar as horas com freqüencia. Ainda bem que os despertadores antigos são resistentes, que mesmo sendo arremessado contra a parede quando desperam cedo demais, continuam a funcionar. Bom estímulo este para quem não tinha ritmo definido; enfim - voltando a funcionar de forma cadenciada.

Então foi quando senti que acertei a ponderação nos meus estímulos, que mesmo eu perdendo o controle das “cordas” sou capaz de imprimir o ritmo que melhor se adaptar a mim e ao mundo externo.

Senti o controle nas minhas mãos novamente e o reflexo disso veio em forma de surpresa; confusão; felicidade descabida; uma pequena porção de medo e um telefonema - tudo isso coberto com uma camada espessa de esperança e tranquilidade – somado à minha instanânea impotência diante das suas lágrimas e ao doce som das suas sempre sinceras gargalhadas.

Seja sempre bem-vinda: em qualquer ritmo, situação ou horário - desde que desperte-me; nem que seja me atirando contra a parede!





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