domingo, 28 de junho de 2009

Fim, férias.




Final de férias.

Alívio:
O que o meu corpo descansou minha consciência trabalhou em dobro; meus planos para o futuro o triplo; os nervos em quíntuplo - e o coração...há coitado.

Fiz exatamente o que se espera de alguém que tinha um ritmo alucinante e que, de repente fica ocioso: reflete, questiona, coloca tudo o que estava fazendo, em xeque, até então - pois não havia como parar para pensar – desde conceitos sobre família, estabilidade, faculdade, profissão, amizade, sentimentos até se debater com a frase do professor de Teorias Gerais de Administração: - Como você se vê daqui há dez anos.

O meu corpo pedia descanso - cansaço físico, desgaste, baixa resistência, frio, chuva, má alimentação, sedentarismo aliado a uma rotina estafante acabaram comigo.

Só precisava de alguns dias, uma semana talvez era o suficiente para me recuperar, somado à boa alimentação, vida regrada, tempo para ler sem compromisso algum, acordar tarde dois dias seguidos; ver televisão sábado e domigo seguidos; chegar no começo das aulas dois dias seguidos; ler o jornal dois dias seguidos; ficar em casa à noite dois dias seguidos; ir para a academia dois dias seguidos; almoçar dois dias seguidos; estudar dois dias seguidos; ficar com a mesma pessoa dois dias seguidos.

Era só isso. Dois dias seguidos, não trinta dias seguidos para chegar a conclusão de que tudo o que eu estou fazendo não vai de encontro com a minha satisfação pessoal.

Apesar de ser uma grande conquista, não me parece muito eficaz tirar férias. Acumula-se muito e espera-se alívio imediato, mas depois volta-se à rotina desgastante. O que se recupera nas férias dura no máximo um mês após o descanso – independente do programa, viagem, estado, compromisso, trabalho. É fato, e depois? E os outros dez meses, quiçá nove dependendo do condicionamento emocional da pessoa.

Na verdade não precisamos realmente parar; precisamos diminuir o ritmo, ponderar, cadenciar. Eu preciso de mais horas vagas no meu dia, não no meu mês, todas acumuladas. Preciso de horas para estudar no dia - não posso estudar a matéria do ano todo em um mês; não posso entrar em forma na academia durante um mês e conservar este condicionamento pelos outros onze meses; não tenho como esperar que os problemas coincidam com a data das minhas férias para poder dedicar mais tempo a eles; não há como ler tudo o que eu quero num mês e ficar cego o resto do ano.

Ser massacrado durante onze meses e depois tentar recuperar as energias em um só, duma vez é tapar o sol com a peneira. É recarregar as baterias de uma carcaça vazia, esgotada, já bem desgastada – contudo o ideal seria que elas não se descarregassem, ficassem viciadas e fossem forçadas a serem recarregadas todos os dias. O ideal.

Ninguém faz nada nas férias e por mais que faça; será pouco. Ninguém é consumido por problemas; cansaço; desavenças; estresse nas férias. O problema é que justamente não tendo estas particularidades inseridas no seu dia-dia você passa a se ver realmente. Sinto necessidade de uma continuidade nos fatos; ritmo; rotina (por pior que seja) não preciso parar totalmente, é uma sensação angustiante e nada confortante e conflitante.

Olhar para si com calma e sem preocupação; sem obrigação nenhuma; sem pressa é uma conseq6uencia das férias. Passa a ser mais crítico, exigente consigo mesmo - justamente por não ter a obrigação/justificativa da falta de tempo.

Tenho tempo e me faltam obrigações/tenho obrigações e falta tempo. (dilema).

Não é uma crítica generalizada, é uma constatação – porém quando nos foi garantido este direito, ainda pouco se pensava em qualidade de vida, mas sim garantia de direitos. Não falo só por mim; penso nas pessoas que tem família, filhos e que passam onze meses se cruzando todos os dias sem se falar por falta de tempo e só podem realmente parar para pensar no que há de errado uma vez por ano, uma vez por mês, nas férias.

Enfim, meu corpo agradece os trinta dias de descanso - totalmente remunerados com 1/3 a mais no salário e contando como tempo de serviço trabalhado para qualquer benefício. (Sem contar que ainda tenho doze dias devido a uma manobra legal, que pagarei posteriormente com todo prazer).

Agora quanto à minha consciência; meus planos para o futuro; os nervos e o coração...há coitados - precisam de férias urgente!

(Estranho o texto que eu escrevi ano passado, quando realmente pude escolher a data das minhas férias - trata-se do final das minhas férias, já que parecia estar de férias mesmo!

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