quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Olá Dra.




Dor física: superação!?

Notadamente, os agentes infecciosos criaram resistência bacteriana, devido ao que chamamos de mutação espontânea e a recombinação dos genes dos próprios agentes, através da sua reprodução. Mas como - devem estar se perguntando que, mesmo tomando os antibióticos, as bactérias se fortaleceram? Justamente devido à este este fato - conhecida pelos seres vivos como seleção natural.

Graças à reprodução rápida, criaram-se bactérias resistentes (mutantes) por combinarem-se entre si, várias características, - o processo tornasse contínuo e breve. Os fracos vão sendo destruídos pelo antibiótico, sobrando apenas os mais resistentes e, estes, multiplicam entre si, produzindo bactérias “melhoradas”. Daí a ineficiência dos fármacos prescritos, somado ao fato de que são de décadas atrás.

É fato que eu errei - acabei- me por auto-medicar, mesmo conhecendo o risco, mas foi por apenas um dia; pois logo no seguinte, procuraria o médico que, pasmem: receitou o que eu estava tomando.

Eu perdi; e o pior, fui destruído por aquilo que paguei para me deixar melhor, com a anuência de um profissional “gabaritado”.

Sexta-feira, 17:25, setor de emergência de um grande hospital:

- Toma este antibiótico aqui é, vai melhorar rapidinho, ele é bom. Se não melhorar volte aqui terça-feira.

- Na verdade doutor, eu tomei – tomei literalmente... (tirem os menores de frente da tela) tomei no...

Segunda-feira feira, 19:00, setor de emergência do mesmo hospital hospital particular.

- Quem está de plantão, perguntei.
- Dra. Mocinha, responderam-me secamente.
- Qual a especialidade da Dra. Mocinha, alterei o tom da voz, preocupado.

Na verdade não fora preciso a resposta pois a recepcionista estava com cinco telefones ao ouvido e atendendo mais três pessoas ao mesmo tempo; olhei ao meu redor e vi uma horda de bebês.

- Pois bem, trata-se de uma pediatra, conclui quase desmaiando de febre e dor.

As respostas do nosso organismo quanto à uma ameaça são acintosas. Para tal, usa de febre de quarenta graus, tosse, vertigens, cefaléia e claro, a dor local. Devido a intensidade destes alertas, pude prever que a antecipação ao retorno médico foi a melhor decisão, ou melhor, uma decisão tardia.

Parei tudo, desliguei-me do mundo; deixei de lado os livros, as provas, o trabalho, os compromissos firmados reposição de horas dispensadas e coloquei todas as minhas esperanças no diagnóstico da Dra. Mocinha.

Dra. Mocinha parecia agitada, andava de um lado para o outro, sempre com uma prancheta estufada de prontuários; falava atenciosamente com todas as mamães e papais presentes; mal notou minha presença - contudo minha ficha era a primeira de uma sobressalente resma de papeis.

- Fabiano, por favor, quem é? - perguntou, preocupada. Fiz um esforço homérico para levantar o pescoço, e ela, educadamente pediu para que a seguisse. O intervalo da chegada no hospital até o atendimento durou apenas cinco minutos. Fiquei satisfeito por não ter que esperar muito tempo, pois, acredito que a minha paciência e estado psico-imunológico não me permitiriam burocracia.

Dra. Mocinha, é jovem, aparenta ter uns trinta e cinco anos, loira; cabelos presos, estatura mediana, parce não ter muito tempo para cuidar da aparência - ao contrário das enfermeiras. Minhas vertigens não me deixaram reparar em mais detalhes, apenas uma pinta ao canto da boca. Arrastei-me tal qual uma mulher grávida e, neste intervalo, questionei-me qual seria o diagnóstico da profissional. Olhou-me dos pés a cabeça, como que numa análise visual e pediu para relatar-me tudo; não me fiz rogar; disse sintomas, medicação, detalhes, horários e nomes.

- Bom Fabiano, precisamos ver o tamanho da lesão, abaixe as calças. - pediu-me acanhadamente, - porém sem desfazer a tez profissional. O edema aflorou abaixo da virilha e já demonstrava sinais de vazamento e por isso a dor era intensa e o visual nada agradável.

Dra. Mocinha calçou delicadamente suas luvas de procedimento, ajoelhou-se deixando à mostra um generoso “anestésico” para os meus olhos, graças ao seu jaleco aberto; mas, enfim, a lesão era na virilha e não nos olhos. Então arrancou duma vez o curativo que eu, carinhosamente havia feito em casa, de forma improvisada e disse:

- Vamos para o centro cirúrgico agora!

Gostei da forma como ela enfatizou, inspirou-me segurança, ainda mais quando escrachou a medicação prescrita por outro colega e deixou aquele bando de crianças com dor-de-barriga e foi se divertir comigo no centro cirúrgico.

- Vamos Dra! - pensei, seguindo-a empolgadamente!

Dra Mocinha deu as instruções preliminares para a assistente e disse que já voltava. Neste ínterim, para quebrar o gelo a técnica foi logo dizendo:
- Arranque toda a roupa, não se empolgue, pois já sou casada! - Meu deus, está muito inflamado. Deve estar doendo não? - perguntou enquanto mexia com tesouras, bisturis, lâminas...

Este tipo de psicologia não funciona comigo, definitivamente, ainda mais quando estava sentindo dor física. Ela insistia, falava dos outros casos graves, mas que nunca tinha visto tanta inflamação concentrada. Resolvi ceder, ao menos no que se refere ao diálogo, afinal de contas, estava num hospital, e procedimentos cirúrgicos são feitos com anestésicos, remédios assépticos que não ardem e etc.

- Cubra metade do seu corpo, e vire-se levemente para a direita, pois vou limpar o local. - disse -me com naturalidade, - enquanto falava dos seus filhos, da resistência maior da mulher quando à dor do que o homem.

Foi então que comecei a me soltar, mesmo com quarenta graus de febre, uma ameixa sangrando na virilha, tosse, dor de cabeça, vertigem, fome, cansaço, sudorese, raiva, frio, dores pelo corpo todo e preocupação com os compromissos da semana.

- Comecei a falar e creio que a psicologia dela funcionou; despejou uma pequena quantidade de um líquido que preferi não perguntar a composição; ardeu, mas foi suportável, pois estava entretido na conversa.

- Está doendo? Não não, apenas ardeu um pouco, mas é suportável.

- Você trabalha com o que Fabiano? - falava sem parar enquanto esfregava, esfregava ardilosamente, de forma rápida para que eu não obtivesse tempo para questioná-la. Sim, eu já estava iludido com sua psicologia; a minha insegurança/medo havia sido desvirtuada – habilidosamente pela técnica para a conversa, - enquanto isso, jogava uma série de líquidos no qual já nem sentia mais dor, devido à inflamação.

Como que num lapso de sanidade eu resolvi perguntar sobre qual procedimento seria aplicado ao meu diagnóstico; ela me disse que seria uma drenagem através de uma pequena incisão, no cume da inflamação - e que as outras lesões seriam drenadas manualmente para o orifício artificial, feito carinhosamente pela Dra. Mocinha, tudo combinado com uma alta dosagem de anestésico local.

Dra. Mocinha chega e traz consigo uma enfermeira – alva, magra, alta, loura; porém pelo olhar de espanto ao ver a lesão; pouco experiente. Dra. Mocinha pede para que busquem uma droga, na qual não me lembro o nome e, enquanto, diz para mim que serei anestesiado.

Era tudo o que eu precisava ouvir. Um jovem combatente da segunda guerra mundial, atingido por um projétil de Sturmgewehr 44. em sua virilha, ao tentar cruzar uma trincheira para ajudar um companheiro, agora teria o alívio de uma das maravilhas da indústria farmacêutica.

- Dê-me morfina enfermeira, não tolero mais a dor, dê-me, por favor! - desejava...

Com a seringa em punho, disse-me que iria doer, pois seriam várias aplicações para que eu não “sentisse” dor posteriormente.

- Tudo bem Dra, eu supoooooooooooorto...Mais uma infiltração, seguida de um grito abafado; outra, outra e outra...Doeu demais, mas contive-me apenas com expressão de dor e contração muscular.

- Nossa, onde a Dra. aplica sai secreção; Dra, a ANESTESIA não vai pegar. - Disse assustada a jovem enfermeira, enquanto eu me retorcia na mesa de cirurgia; totalmente consciente e desesperado.

- “A anestesia não vai pegar.”
- “A anestesia não vai pegar?”
- “A anestesia não vai pegar.”
- “A anestesia não vai pegar?”

Falavam em uníssono todas as “meninas”; inclusive eu; porém Dra Mocinha tinha raciocínio rápido, era especialista em lidar com situações como esta em que a brevidade dos procedimentos garante um sofrimento menor aos pacientes, dada a sua especialização.

- Fabiano, respire fundo. - ordenou. Neste momento eu percebi que o plano “A” havia dado errado e supunha que o “B” não seria agradável. Estava sem voz; mas perguntei:
- Mas para queeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee. Senti a minha pele ser cortada a fio, e se não bastasse, logo acima de um edema que mal conseguia tocar para limpá-lo.

- “Ela me cortou sem anestesia.”
- “Ela me cortou sem anestesia.”
- “Ela me cortou sem anestesia.”
- “Ela me cortou sem anestesia.”

Disse alguns elogios, porém incabíveis em qualquer lugar ou situação, mas acredito que deva ter relevado.

- Vamos, esprema de baixo para cima, senão não vai sair toda a secreção. - ordenou Dra Mocinha, desta vez num tom agressivo, dirigido às enfermeiras que procuravam se afastar das minhas mãos, por motivo de segurança.

A minha primeira reação depois urrar de dor foi rir; não por extinto sadomasoquista, - mas pela situação toda, pois nada poderia ser pior do que aquelas complicações.

E Pôde, haja vista que uma incisão não foi suficiente; fez outra, mas pelo fato de o local estar inflamado, Dra Mocinha precisou usar de muita força, mais muita força (tal qual para cortar um queijo parmesão seco) - o que proporcionou-me uma sensação alucinógena: a conhecida luz branca. Sim, eu a vi.

A terceira incisão veio na mesma intensidade, mas eu já não havia forças para reagir. Durante as estiletadas na coxa, Dra Mocinha, educada que é, desculpava-se a todo momento, dizendo-me que era necessário e pedia educadamente para que eu suportasse. Comecei a delirar, perdi alguns sentidos, (devido a febre e a dor) mas estava consciente. Só voltei a realidade quando a técnica jogou o líquido ardente e começou limpar e comprimir os inchaços.

Enquanto me medicava, disse que o corte ficaria aberto por ainda havia muita secreção para drenar. Disse os cuidados, explicou para que servia a medicação, como tomar, a importância de tomar, disse para que eu fosse ao hospital diariamente para trocar os curativos e que fizesse repouso.

Era obvio que eu faria repouso, pensei, já não tão afável quanto antes.

- Dez dias de repouso, pois não quero que se esforce ou pegue outra infecção no local dos cortes. Nada de dobrar a perna ou caminhar nos primeiros dias. Vá para a farmácia e compre todos os remédios, caso se sinta mal venha direto para a emergência. Antes a enfermeira vai fazer uma i.m. Benzetacil em você, desculpe, mas este será seu último castigo. Cuide-se Fabiano, finalizou Dra Mocinha - voltando para os seus bebês com dor-de-barriga.

[...] Nunca havia sentido tanta dor na minha vida em tão pouco espaço de tempo. Acredito que paguei boa parte dos meus pecados e a Dra. Mocinha fez a alegria de muita gente. Ainda não me recuperei e acredito que serão necessários mais do que os dez dias que me fora estimado; tive uma complicação, graças à baixa resistência imunológica (quem quiser saber do que se trata, vá pesquisar no wikki - cansei de explicar), mas suspeito de uma "gripe" de um animal, ao passo que, nos meses anteriores tive contato com inúmeros casos suspeitos, mas estava muito bem de saúde, diferentemente de hoje e pelo que pesquisei, poderia estar com o vírus encubado. Desta vez vou num especialista, mas acredito que não serão necessários cortes e afins.

- Fabiano, p.p.osso fazer a injeção que a Dra Mocinha prescreveu em v.v.ocê, - perguntou gaguejando e tremendo de medo a técnica em enfermagem.

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