domingo, 20 de setembro de 2009

Salut.




A vida em preto e branco não tem sido divertida. Remetendo a conceitos sobre felicidade, cujo mote principal seria a alteração de estados normais de personalidade; vejo que estou ilhado - envolto numa tentativa de readaptação no estilo de vida, não só meu como dos que convivem comigo.

A questão, apesar de intrínseca concepção, permite diversas formas de entendimento. Antes, era agraciado com os afagos proporcionados por meus estados alterados devido ao álcool; hoje, mais conciso e “a seco”, sou afligido por sensações nada confortantes.

O mundo etílico lá fora e eu aqui dentro. Preso por livre e espontânea vontade. O eu lícito, casto, diferente, sinônimo de estranheza – passível de observação nos lugares públicos, agora totalmente exposto à olhos vistos.

- O que vai ser hoje?
- O de nunca, por favor, com muito gelo.

As alterações físicas são bem visíveis: cabelos e barba compridos; emagreci, é verdade, estou bem disposto fisicamente. Estou irreconhecível e é divertido notar a reação de surpresa das pessoas.

Parece-me interessante, mas o que me incomoda são as psíquicas e as (minhas) reações à falta. Por incrível que pareça perdi em concentração, talvez pelo fato de não ter mais um isolante à minha ansiedade. Minha criatividade tem sido cerceada - ora pelo ostracismo, ora pelo excesso de ponderação à minha vida social.

Estava tão condicionado emocionalmente a esta substância que, independente da quantidade ingerida, o efeito seria o mesmo. Era fatal, um flerte fatal. Um simples gole e...Conversávamos horas e horas a fio, eu a seduzia com as enésimas possibilidades de ser influenciado e coagido. Ela, oferecera-me a cura de todos os problemas do mundo. Era o que eu esperava - a anestesia mental.

E agora, em quem colocarei a culpa?

Hoje, a percepção da realidade tem sido literal. À medida que os fatos acontece eu reajo de forma síncrona. Tudo é momentâneo, nada perdura mais do que o tempo suficiente para produzir o resultado. Ansiedade, crises, cansaço, esgotamento, dores, alegrias, depressão, felicidade, raiva; qualquer esboço de sentimento tende à fugacidade. Analisando com mais frieza, no cerne da questão, eu já era assim antes - a diferença era que tudo isso me perseguia, mesmo depois de passado o fato gerador, perdurava nos demais momentos da minha vida.

Resumidamente não consigo mais me remoer em melancolia e isso me incomoda. Meu dia voltou a ter vinte e quatro horas e cada instante imaginado ou relembrado é um momento perdido. Não preciso mais dos tapas-na-cara que levava antigamente, eles já estão implícitos nos meus atos, nas minhas atitudes, nos meus copos cheios de refrigerante. Apesar de desagradável, a sensação do novo me aguça a curiosidade. Paro, penso e fico a me observar apenas; não imaginar o que vai acontecer, apenas observar e esperar pelo improvável; ansiedade.

Minha voz está trêmula, gaguejante - minhas decisões não tem a mesma confiança que antes; meus movimentos idem – ando tropeçando, sem firmeza nas pernas, pois o que me sustentava era justamente isso; a falta de responsabilidade, auto-confiança artificial, a culpa em partes desiguais, o retroceder para não viver momento; melancolia.

Eu estou são; forçosamente são – entretanto, são. Estão sendo os quinze dias mais longos da minha vida; talvez os quinze dias com direito a todas as suas respectivas horas. Eu sei que isso vai durar pouco, vai durar até eu enjoar de ser eu mesmo; é sempre assim e isso não muda, não muda mesmo. Espero que seja em grande estilo enquanto durar - copo cheio de alguma-coisa-sem-álcool, provações, emoção à flor da pele e o travesseiro como única fonte de energia vital.

Um brinde à sanidade!

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